quinta-feira, 9 de maio de 2013

O Tempo dos Filipes em Portugal e no Brasil (1580-1668). Joaquim Veríssimo Serrão. «E foi assim que o “prior do Crato perdeu a derradeira esperança de voltar a Portugal”. De novo fixado em Londres, onde levou uma existência de dourada miséria, veio a acabar os dias em Paris, a ‘25 de Agosto de 1595’, na amargura de um exílio»


Cortesia de wikipedia
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O Período dos Filipes. O Governo dos Filipes
«(…) Mas outra ameaça, porventura mais grave, pairou então sobre a realeza de Filipe II. Deixando a França, onde sentira enfraquecer o apoio de Catarina de Médicis e foi objecto de vários atentados, o prior do Crato acolheu-se nos meados de 1585 a Inglaterra, esperando o auxílio da rainha D. Isabel para a reconquista do trono português. A rainha apostou então na causa do príncipe exilado, para o que armou uma frota para atacar Lisboa. Do seu comando incumbiram-se o almirante Drake e o general Norris. Em Maio de 1589, fez-se a esquadra ao mar, vindo nela António I (JDACT) e muitos dos seus companheiros de exílio. Um ataque sem êxito ao litoral da Corunha deu tempo ao cardeal Alberto, vice-rei de Portugal, para organizar a defesa da cidade. Uma parte dos marinheiros desembarcaram em Peniche, com o fim de cercar por terra a capital, enquanto o grosso da frota foi ancorar na baía de Cascais à espera dos companheiros.
António I contava decerto com o levantamento da população, mas esta receou as medidas repressoras do Governo (muitos adeptos do prior do Crato foram então presos ou saíram de Lisboa), assim como as consequências a que a vitória de Drake daria lugar. Também o factor religioso contribuiu para a derrota, pois os habitantes não queriam aceitar a vinda dos hereges, mesmo que fosse para colocar o prior do Crato António no trono. Entretanto, os rebates de peste que se fizeram sentir na esquadra levaram o almirante a regressar a Inglaterra sem atender os protestos do rei exilado. E foi assim que o prior do Crato perdeu a derradeira esperança de voltar a Portugal. De novo fixado em Londres, onde levou uma existência de dourada miséria, veio a acabar os dias em Paris, a 25 de Agosto de 1595, na amargura de um exílio de que compartilharam algumas dezenas dos seus fiéis seguidores.
Durante dez anos, foi Portugal governado pelo cardeal Alberto, com o título de vice-rei. Com o seu regresso a Espanha, em 1593, decidiu o monarca entregar o poder a cinco governadores, todos naturais do Reino:
  • o arcebispo de Lisboa, Miguel de Castro;
  • o mordomo-mor da casa real, João da Silva, 4º conde de Portalegre;
  • o capitão-mor dos ginetes, Francisco Mascarenhas;
  • o meirinho-mor, Duarte Castelo Branco;
  • o escrivão da puridade e antigo secretário do rei Sebastião, Miguel de Moura.
Todos eles haviam seguido a facção de Castela em 1580, sendo portanto fiéis à política filipina. Na sua escolha interveio o desejo de se cumprir a promessa feita nas Cortes de Tomar de confiar a portugueses o governo do Reino. Assim se dirigiu a administração pública até 1599. Mas como continuou o agravamento dos impostos, em especial os destinados à defesa do litoral e à protecção das frotas do ultramar, a reacção do País foi desfavorável aos novos governantes. Sentia-se que a subordinação portuguesa à política imperial da Espanha era nefasta. Sem que Madrid impusesse ainda uma excessiva centralização, a verdade é que o Reino sofreu as consequências militares e financeiras da ambição de Filipe II à hegemonia europeia. Pela nossa situação geográfica, os ataques dos corsários ingleses e holandeses à Espanha filipina visavam, antes de mais, a costa de Portugal. Por tudo, a morte de Filipe II, ocorrida a 13 de Setembro de 1598, não foi sentida entre nós, dado o não cumprimento de muitas das promessas que fizera em 1581. Para muitos, era o princípio do desencanto por uma política que no ponto de vista interno se traduzia em pesados encargos e sacrifícios para Portugal.

Tentativas de integração
Com a subida de Filipe III ao trono, ascendeu a primeiro-ministro o marquês de Denia, Francisco de Sandoval, que incrementou o processo de integração dos dois reinos para acabar de vez com a autonomia portuguesa. Os cinco governadores ainda nomeados por Filipe II foram substituídos por um vice-rei, Cristóvão de Moura, que recebeu o título de 1º marquês de Castelo Rodrigo. O velho português, que vinte anos antes ganhara a vontade de muitos eclesiásticos e nobres para o partido filipino, regressava a Lisboa investido numa honra jamais sonhada. Ainda que a sua presença fosse de molde a avivar as tristes lembranças de 1580, entendia a coroa espanhola que bastava a experiência de Cristóvão de Moura para reduzir Portugal à situação de uma província espanhola». In Joaquim Veríssimo Serrão, O Tempo dos Filipes em Portugal e no Brasil (1580-1668), Edições Colibri, Estudos Históricos, Lisboa, 1994, ISBN 972-8047-58-4.

Cortesia de Colibri/JDACT