«(…) Ao lado das Odes Modernas
de Antero é indispensável colocar as Claridades
do Sul de Gomes Leal, as Heras e
Violetas de Guilherme Braga, as Poesias
de Cesário Verde, certos poemas de João de Deus e de Guerra Junqueiro, que são
sem dúvida dos mais perenes da nossa língua. Também a poesia de Teixeira de
Pascoaes não está, no apogeu de todo este ciclo, isolada; a ela se devem
juntar, na primeira fase, que é a de Coimbra, as de João Lúcio, Afonso Lopes
Vieira, António Corrêa d’Oliveira, e as de Augusto Gil e Fausto Guedes
Teixeira, e depois, numa segunda fase, que é a da revista A Águia e a da Renascença
portuguesa, as de Jaime Cortesão, Augusto Casimiro, Afonso Duarte Mário
Beirão, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
A João Lúcio(1880-1918) dedicou Teixeira de Pascoaes uma conferência
inteira, que foi editada vinte anos depois da sua morte, pela revista Brotéria. A conferência foi escrita, mas parece que
nunca lida, em Maio de 1951. Nela
diz Pascoaes
de João Lúcio e da sua poesia:
- Assim o vulto de João Lúcio se destaca na turba de estudantes. Vejo-o. Estou a vê-lo e a ouvi-lo através de 52 anos! E é como se ele estivesse ao pé de mim. Com o Augusto Gil e o Fausto Guedes! O Lúcio era o mais distinto de aparência, e o maior criador de poéticas imagens! Que fantasia sensual! Que primavera a do seu génio! (…) Lede O Meu Algarve. O Na Asa do Sonho! Que turbilhão de imagens multicolores, onde cristalizam ou se esculpem, a cada instante, as formas mais perfeitas de Poesia. O seu verbo tem todas as cores do arco-íris. As suas palavras, no papel, são pinceladas numa tela. Não esqueçamos que era tio do poeta o grande pintor Pousão. As tintas do tio enchiam-lhe o tinteiro, que as não continha.
A António Corrêa d’Oliveira (1879-1960) dedicou Teixeira de Pascoaes
muitas páginas dos seus livros, quer falando no poeta quer da sua poesia. Numa
dessas páginas comparou-o Pascoaes a Gil Vicente, ao mesmo
tempo que comparava Raúl Brandão, outro dos diálogos fundamentais da obra de Pascoaes,
com Tolstoi e Dostoievski: E há
ainda Corrêa d’Oliveira, esse faminto de terra e céu, esse povo português, como
Gil Vicente; e Raúl Brandão, esse genial faminto russo, como Tolstoi e
Dostoievski.
Também a Afonso Lopes Vieira (1878-1946) e à sua poesia dedicou Pascoaes
outras páginas, até pelas memórias que dele tinha do tempo de Coimbra, onde chegou
a assinar conjuntamente com ele um livro de versos, e em muitos parágrafos da
sua obra praticou
Pascoaes a exegese poética dos versos deste seu companheiro.
Foi com a poesia de Lopes Vieira que ele abriu o capítulo VI de Os
Poetas Lusíadas (l.ª edição, 1919), onde de resto encontramos a melhor
visão que o próprio Pascoaes tem da sua contemporaneidade. Lopes Vieira veio ao mundo envolto na sombra do Encoberto. A
Lembrança do Rei camoneano amanhece florescida nos seus versos, porque o génio
panteísta do Poeta dá iluminado relevo à treva e colorida carne aos esqueletos…
D'este casamento entre a névoa sebastianista e o sol apolíneo nasceram o Ar
Livre, o Pão e as Rosas e as Canções do Sol e do Vento...»
In António Cândido Franco, Eleonor na Serra de Pascoaes, Edições Átrio,
Lisboa, Colecção o Chão do Touro, 1992, ISBN-972-599-042-0.
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