sábado, 22 de junho de 2013

Os Mistérios Gnósticos da Pistis Sophia. J. Van Rickenborgh. «Tampouco lhes havia contado sobre a região dos três Améns nem sobre as regiões onde alcança seu poder, nem lhes havia mostrado em que locais estão plantadas as cinco árvores, nem algo relacionado aos outros sete Améns…»


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Considerações sobre o Livro I da Pistis Sophia
Prefácio
«(…) Com esse embasamento pode-se reflectir um pouco sobre a sabedoria e a força divinas das quais os homens preparados devem participar. Sabedoria e força são os primeiros requisitos para seguir de fato o caminho da libertação da alma e conseguir levá-lo a um bom fim. O facto de ter recorrido à Doutrina Universal, que ficou preservada durante séculos, comprova que, em vosso anseio, nunca fostes abandonados. Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia, ressoa outra vez o chamado divino para o mundo e a humanidade, sobretudo para que conheçam o grande mistério do reino de Deus. E quem compreende esse chamado se torna capaz de encetar o caminho de retorno ao campo de vida original. Para alcançar esse objectivo, cada ser humano necessita a Sophia, a sublime sabedoria divina, como guia no caminho que está à sua frente.

Atravessando todas as esferas dos éons,
caminha a Pistis Sophia,
depois de ter purificado no Gólgota
o santuário do corpo.

Nenhum poder do mal pode impedi-la
de abrir a vontade para o Espírito.
Entoando os cânticos de vitória,
ela ingressa agora na eterna festa do amor.

Livro I
Quando Jesus ressuscitou dos mortos, passou onze anos dialogando com seus discípulos e instruiu-os apenas até as regiões do Primeiro Mandamento e do Primeiro Mistério atrás do véu, ou seja, a respeito do conteúdo do Primeiro Mandamento. Este é o vigésimo quarto mistério do interior para o exterior, dos que estão no segundo espaço do Primeiro Mistério que está adiante de todos os mistérios: o Pai na imagem da pomba. E Jesus disse a seus discípulos: Eu vim do Primeiro Mistério, que é o último, quer dizer, o vigésimo quarto mistério. Os discípulos não sabiam nem entendiam que dentro desse mistério ainda havia algo mais; porque pensavam que esse mistério fosse o cabeça do Universo e de tudo o que existe, a culminância de todas as culminâncias, porque, sobre esse mistério, Jesus lhes havia dito que ele abrange o Primeiro Mistério e mais as cinco ideias primordiais e a grande Luz e os cinco auxiliares e toda a Câmara do Tesouro de Luz. Além disso, Jesus não havia ensinado a seus discípulos a respeito da extensão total de todas as regiões do grande Invisível e dos três poderes tríplices, nem sobre os vinte e quatro invisíveis e todas as suas regiões, todos os seus éons e ordens, e como eles se expandiram, a saber, as emanações do grande Invisível, nem sobre os seus incriados, autogerados e gerados, e suas estrelas cintilantes, e seus sem-par, e arcontes, e potestades, e regentes, e arcanjos, e seus decanos, e seus servidores, e todas as habitações de suas esferas e todas as suas ordens.
Jesus não havia instruído seus discípulos sobre todos o desdobramento das emanações da Câmara do Tesouro de Luz, nem sobre suas ordens e como foram criadas; também nada lhes dissera sobre seus salvadores e como foram formados de acordo com a ordem de cada um. Também não lhes contara quais guardiães estão diante de cada portal do Tesouro de Luz. Também nada lhes contara a respeito do lugar do Salvador-Gêmeo, que é a criança da criança. Tampouco lhes havia contado sobre a região dos três Améns nem sobre as regiões onde alcança seu poder, nem lhes havia mostrado em que locais estão plantadas as cinco árvores, nem algo relacionado aos outros sete Améns, a saber, as sete vozes, onde fica seu domínio e de que maneira elas se estendem. Jesus não havia dito a seus discípulos de que tipo são os cinco auxiliares nem onde se encontram. Tampouco lhes dissera de que maneira a grande Luz se difundira ou a que regiões chegara. Nem mesmo lhes havia falado a respeito das cinco ideias e do Primeiro Mandamento e a que domínio chegaram.
Todavia falou com eles de modo geral ao instruí-los sobre a existência dessas entidades; mas não falou sobre sua extensão, e a ordem de suas regiões, e como foram formadas. Foi por essa razão que eles também não sabiam que ainda havia outras regiões no interior desse mistério. Ele não dissera a seus discípulos: Eu saí dessa ou daquela região até que entrei naquele mistério e, de novo, dele saí. Todavia limitou-se a instruí-los, dizendo: Eu vim desse mistério. Por isso, a respeito daquele mistério, eles pensaram que era a culminância de toda a culminância, o centro do Universo e o Pleroma total. Porque Jesus dissera a seus discípulos: Esse mistério envolve tudo o que lhes tenho falado desde o nosso encontro até o dia de hoje. Por isso os discípulos pensavam que dentro desse mistério nada mais existia.
Sentados juntos no Monte das Oliveiras, os discípulos conversavam com grande alegria e entusiasmo sobre as seguintes palavras: Abençoados somos nós dentre todas as pessoas da terra, porque o Salvador nos revelou isto e obtivemos a plenitude e toda a perfeição. Enquanto assim falavam entre si, Jesus estava sentado um tanto distante deles. No décimo quinto dia da lua no mês de Tybi, no dia da lua cheia, quando o sol seguia sua trajectória, surgiu por trás dele uma potente força luminosa que brilhava de maneira tão extraordinária que era ilimitada a luz que estava ligada a essa força. Porque ela provinha da Luz das Luzes e do último mistério, a saber: o vigésimo quarto, do interior para o exterior, dos mistérios que estão nas ordens do segundo espaço do Primeiro Mistério.
Essa força luminosa desceu sobre Jesus, envolvendo-o por completo, enquanto ele estava sentado um pouco distante de seus discípulos; e resplandecia intensamente na imensurável luz que estava sobre ele. A luz na qual Jesus se encontrava era tão forte que os discípulos não podiam vê-lo, porque seus olhos estavam ofuscados pela imensa luz que o envolvia. Eles viam apenas uma luz que emitia muitos raios. Os raios luminosos não eram iguais, porém a luz era de natureza e qualidade diversas, de baixo para cima, um raio infinitamente mais excelente que o outro, num grande e imensurável fulgor que se estendia da terra até o céu. Ao verem essa luz, os discípulos foram tomados por grande temor e comoção». In J. Van Rickenborgh, De gnostieke mysteriën van de Pistis Sophia, 1960, Rozekruis Pers, Holanda, Die gnostischen Mysterien der Pistis Sophia, 1992, Os Mistérios Gnósticos da Pistis Sophia, Lectorium Rosicrucianum, Escola Internacional da Rosacruz Áurea, Brasil, Pentagrama, Lisboa, 2012, ISBN 978-85-62923-12-6.

Cortesia de Pentagrama/JDACT