domingo, 30 de junho de 2013

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Então, porém, dirigiu-se para Toledo com grande séquito e, em 16 de Maio de 1150, na presença de vários bispos e do infante Fernando, prestou obediência ao arcebispo Raimundo como seu primaz…»


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A luta contra o primado de Toledo
«(…) Por outro lado cuidou de preparar uma boa recepção também doutra forma: fazendo transportar consigo os privilégios de ambos os mosteiros tributários que levara por sua mão à Santa Sé, Santa Cruz e Grijó, para que fossem confirmados. Também com os templários portugueses se pôs de acordo; um mensageiro enviado por estes apareceu com o bispo em Roma. Os templários já haviam tomado pé em Portugal vinte anos antes e precisamente então, por ocasião da conquista de Santarém, haviam feito um acordo com o rei, do qual resultaram relações cada vez mais íntimas entre a Ordem e o Reino português.
Também este facto era de molde a melhorar a posição de Portugal na cúria; pois os templários ocupavam já nesse tempo uma situação privilegiada no favor do papa. Assim empreendeu o arcebispo João, no verão de 1148, pela quarta vez, à longa viagem até a Cúria, que alcançou em Brescia. A viagem obteve pelo menos um êxito parcial. Eugénio III não lhe levou em conta a sua longa oposição, absolvendo-o da suspensão, e exprimiu ainda em 8 de Setembro de 1148 a reabilitação do arcebispo em novo privilégio. (Rodrigo de Toledo, sabe além disso, evidentemente por meio do extractos dos registos papais, de muitos outros privilégios e indulgências, que Afonso Henriques, segundo ele, conseguiu de Eugénio III e que devem ser datados ou de Setembro de 1148 ou de Junho de 1153. Infelizmente não os conhecemos; possível, embora absolutamente incerta, é a confirmação papal do bispado de Lisboa o do convento de S. Vicente de Fora). Mas quanto a libertar-se da dependência do primado de Toledo, também agora o não conseguiu João Peculiar; Eugénio III manteve a política do seu predecessor. Assim teve o arcebispo de prometer fazer a pesada caminhada de Toledo e submeter-se. Esperava talvez que também agora o caso ficasse em palavras. O que é certo é que não se apressou a, executar a promessa e recebeu por isso de Eugénio III, em 19 de Dezembro de 1149, a pedido do rei Afonso VII de Castela, nova e severa ordem, com renovada ameaça de suspensão. Mesmo assim, ainda hesitou o arcebispo João. Deixou passar mais uma vez o prazo fixado, recaindo pela segunda vez, pelo menos em princípio, durante seis semanas na pena de suspensão. Então, porém, dirigiu-se para Toledo com grande séquito e, em 16 de Maio de 1150, na presença de vários bispos e do infante Fernando, prestou obediência ao arcebispo Raimundo como seu primaz, o que os toletanos logo escrituraram em diploma. Que isto foi um acto de alta política, não é necessário dizê-lo. Na companhia do arcebispo bracarense, apareceu também um embaixador do rei de Portugal, para renovar a paz com Castela sete anos antes concluída por intermédio do cardeal legado Guido: a sujeição de Braga era claramente o juro que Portugal tinha de pagar pela ansiada paz.
No favor do papa havia, porém, agora, o arcebispo de Braga, sujeitando-se finalmente à sua vontade, desalojado o rival toletano. Já no ano anterior Eugénio III se havia manifestado, em termos extraordinariamente severos, a respeito do arcebispo Raimundo de Toledo, tendo-se interessado pelos direitos de Toledo só a pedido do rei Afonso VII. Quando agora João de Braga anunciou ao papa a sua submissão, e ao mesmo tempo se queixou de que o arcebispo Raimundo pelo seu proceder o tinha desnecessariamente exasperado, achou crédito e provocou nova censura do papa ao arcebispo de Toledo». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT