Sobre a Busca das Índias
«(…) Tendo em conta os elementos que até aqui fomos apontando
verificamos que os portugueses liderados pelo infante Henrique ao
realizarem o projecto dos
Descobrimentos começaram a desejar não apenas que as caravelas
substituíssem as caravanas no comércio do ouro da África Ocidental mas também a
querer traçar uma rota marítima que pudesse substituir a tradicional rota do
Levante no comércio das especiarias orientais. Esta noção deduz-se não
apenas do fundamento que levou à encomenda em 1456 do mapa de Fra Mauro, acabado a 24 de Abril de 1459, mas também ao teor das discussões
sobre problemas geográficos travadas em Julho de 1459 em Florença com Toscanelli.
Os contactos estabelecidos pelos portugueses com sábios e mercadores
italianos desde 1454 revelam o
empenho em alargar os seus horizontes sobre a nebulosa geografia oriental, certamente
por quererem contrapô-la à da costa da Guiné, que as suas caravelas estavam
então a contornar, tendo em 1460
chegado à Serra Leoa, onde começa o golfo da Guiné e a costa africana
segue para oriente. A propósito de documentação de 1459 podemos ainda evocar ter sido em Sintra que a 27 de Agosto Afonso
V confirmou uma carta feita em Sagres a 6 de Agosto por Henrique
em que este expressava a vontade de
acrescentar a Pêro Correia, fidalgo da sua casa, que casou com uma filha de
Perestrelo, pedindo ao rei para confirmar ao referido Pêro Correia a
venda da capitania de Porto Santo de acordo com a carta que o infante
já havia escrito em Lagos a 17 de Maio de 1458.
Mal sabiam então estas personalidades que dali a uns vinte anos, cerca
de 1479, uma outra filha de Bartolomeu
Perestrelo viria a casar com o genovês (?) Colombo e que este pouco tempo depois começou a sonhar com a
ida às Índias procuradas pelos portugueses naquele ano de 1459, cuja localização o infante tentaria entender no mapa
de Fra
Mauro. O infante Henrique teria então confrontado o seu conteúdo com os mapas
que os seus homens faziam e mandou continuar os Descobrimentos, que desde 1456 teriam estado suspensos. Talvez
nos possamos perguntar se desde este ano o infante ficara à espera que lhe
entregassem o mapa que então encomendara a Fra Mauro, para depois decidir o que
fazer, e que só depois de este lhe ter sido entregue é que se decidiu a retomar
o processo dos Descobrimentos em 1460. As datas referidas poderão
dar consistência a esta hipótese de explicação para a pausa dos Descobrimentos
que se verificou entre 1456 e 1460, pois
foi apenas neste último ano que se registou o reatamento das explorações que
levaram Pedro de Sintra à serra Leoa e Diogo Gomes com António
de Noli ao arquipélago de Cabo Verde.
Tenhamos em conta que a referida suspensão poderia corresponder a uma
situação equiparável à ocorrida desde 1488,
quando após a passagem do Sudeste de África para chegar ao Índico por Bartolomeu
Dias se verificou que nos anos seguintes João II não retomou as viagens
de descobrimento. Aquela que poderá ser a principal razão para esta paragem,
após o ritmo firme dos Descobrimentos que se processou entre 1482 e 1488, poderá residir da circunstância do rei ter ficado à espera de
informações de Pêro da Covilhã, que não lhe chegaram». In José Manuel Garcia, D. João II
vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012,
Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.
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