Considerações sobre o Livro I da Pistis Sophia
Introdução
«O manuscrito gnóstico Pistis
Sophia, atribuído ao famoso gnóstico Valentino, nascido em
Alexandria e que viveu no segundo século d.C., foi descoberto na segunda metade
do século XVIII pelo médico londrino A. Askew. Após sua morte, o
manuscrito foi adquirido em 1785
pelo British Museumem Londres, onde está conservado desde então, com a
designação de Codex Askewianus. O Livro I do evangelho Pistis Sophia traz os comentários
pormenorizados que Jan van Rijckenborgh apresentou na década de sessenta do século
XX. Ela aparece numa época em que inúmeras pessoas questionam a origem, a
essência e o objectivo da Gnosis. O
livro dá, à luz da Gnosis, uma
resposta directa ao problema da verdadeira finalidade do homem e mostra a direcção
que deve ser seguida para se alcançar essa finalidade, o estado de alma vivente.
No evangelho Pistis Sophia se fala sobre duas
correntes que representam duas ondas eletromagnéticas. Uma delas é identificada
como corrente do conhecimento, a Pistis, e a outra como corrente
da sabedoria, a Sophia. Uma se relaciona inteiramente com o conhecimento humano
comum de cada época de transição, de modo que a humanidade inteira pode
detectar essa emanação e deve a ela reagir. A outra corrente se mantém
absolutamente afastada deste mundo, embora irradie para dentro dele afim de que
cada um que busca Deus possa enfim escapar da natureza e encontrar a Sophia,
a sabedoria, e até mesmo tornar-se
na Sophia.
Chegamos agora a uma
época na qual muitas pessoas receptivas à Gnosis
anseiam pela libertação com profundo anelo e com maior ou menor grau de
consciência. Elas tentam reconhecer a origem de sua comoção e a meta de seu
anseio, e verificam se podem alcançar essa meta. Essas pessoas conseguem compreender,
à luz da Gnosis, o verdadeiro significado
das palavras, muitas vezes obscuras, da Pistis Sophia por meio das
explicações dadas por J. van Rijckenborgh. Assim vemos as
duas referidas emanações, a Pistis e a Sophia, que procedem da
natureza espiritual. A Pistis desperta e promove a comoção
da massa no mais amplo sentido da palavra e, assim, actua de modo extremamente
forte sobre a inteligência humana. A Sophia, a segunda emanação, ao
contrário, volta-se para os eleitos, dos quais fala Paulo na sua Epístola
aos Efésios, os habitantes da fronteira em sua época, com o objectivo de salvá-los
da natureza da morte e elevá-los ao reino do Pleroma divino. A Sophia deseja despertar nos eleitos
o novo estado de alma, a nova consciência e o novo pensar da alma.
Prefácio
Infelizmente, este livro
não pôde ser concluído na sua totalidade, porque o seu autor, Jan
van Rijckenborgh (1896–1968), faleceu enquanto trabalhava na obra. O
autor descreve no livro como é possível para um homem ultrapassar os véus do Décimo Terceiro Éon como a Pistis
Sophia o fez. Ele nos dá uma explicação completa sobre a nova força-luz
que se revela como um chamado, um novo objectivo de vida, uma nova missão.
Contudo, essa missão precisa ser cumprida para que triunfe a verdadeira vida, e
não a morte. Entrementes, terão perguntado: Afinal
sobre o que versam de facto os mistérios do Décimo Terceiro Éon? Eis a
resposta: são os mistérios da Corrente
da Fraternidade Universal de Cristo ou, como diz Jacob Boehme: ÉCristo, que atingiu o coração da
natureza decaída.
O Décimo Terceiro Éon, ou o campo de força universal através do qual a quinta-essência, o quinto
elemento básico da substância primordial, o éter ígneo ou éter eléctrico,
é inflamado com os outros quatro estados
etéricos, subsiste eternamente. E desse lugar, desse campo de força,
nenhuma energia pode ser retirada. O homem-alma-espírito vive e existe mediante
o Décimo Terceiro Éon. Jesus
Cristo dá a todos os que o aceitam a força e o poder para viver no Décimo Terceiro Éon. Como o homem pode viver em conformidade
com o Décimo Terceiro Éon? O candidato ao smistérios gnósticos enfrenta
treze momentos de transformação anímica, durante os quais ele precisa lutar até
ao fim para alcançar o verdadeiro renascimento da alma.
Essas transformações da
alma, por assim dizer, substancializam-se nos treze cânticos de arrependimento
da Pistis
Sophia:
- 1. No primeiro cântico, a Pistis Sophia descobre a dialéctica e o estado de condenação da humanidade. Ela entoa o cântico da humanidade;
- 2. No segundo cântico, a Pistis Sophia descobre sua própria condição natural. Ela entoa o cântico da consciência;
- 3. Nessa base, a Pistis Sophia entoa o cântico da humildade diante da única luz verdadeira;
- 4. Segue-se, então, o cântico da demolição, o eu é levado à sepultura;
- 5. O cântico da rendição é a fase seguinte, a Pistis Sophia faz a entrega total de si mesma;
- 6. Nessa base é entoado o cântico da confiança. Ela implora pela luz com fé absoluta;
- 7. No sétimo cântico de arrependimento, a Pistis Sophia entoa o cântico da decisão. É a ascensão ou a queda;
- 8. Em seguida começa a perseguição. Os éons da natureza atacam a Pistis Sophia de maneira vigorosa, e ela entoa o cântico da perseguição;
- 9. Depois de entoar o cântico da ruptura, a Pistis Sophia se livra de modo definitivo de seus perseguidores;
- 10. A seguir, a Pistis Sophia entoa o cântico do atendimento da oração. E, pela primeira vez, ela vê a Luz das Luzes;
- 11. A força da fé é submetida, então, a uma prova final. A Pistis Sophia entoa o cântico da prova de fé;
- 12. Em décimo segundo lugar, a Pistis Sophia vivencia a grande prova que podemos comparar à tentação no deserto. Ela entoa o cântico da grande prova:
- 13. Por fim, a Pistis Sophia canta o décimo terceiro cântico de arrependimento, o cântico da vitória, a alma eleva-se, reconhece o Espírito e vai ao seu encontro, ao seu Pimandro».
In J. Van Rickenborgh, De
gnostieke mysteriën van de Pistis Sophia, 1960, Rozekruis Pers, Holanda, Die
gnostischen Mysterien der Pistis Sophia, 1992, Os Mistérios Gnósticos da
Pistis Sophia, Lectorium Rosicrucianum, Escola Internacional da Rosacruz Áurea,
Brasil, Pentagrama, Lisboa, 2012, ISBN 978-85-62923-12-6.
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