Depoimentos. O pretenso “iberismo” da António Sardinha
«(…) Parece desconhecer FN que uma das primeiras manifestações do
Integralismo, foi a série de conferências pronunciadas na Liga Naval em 1915, em que António Sardinha, Hipólito
Raposo, Xavier Cordeiro, Vasco de Carvalho, Ruy Ulrich, Freitas Branco, Luís de
Almeida Braga e também o signatário tentaram a refutação sistemática da
ideia da união ibérica nas suas várias modalidades, combatendo-a no fundamental
aspecto, ao formular as razões de ser da nossa irredutível personalidade
histórica. Esta série de conferências foi interrompida pela revolução do 15 de
Maio, como refere o prefácio do volume em que mais tarde foram publicadas: um bando de patriotas armados dando vivas
à República e à Constituição, invadiram as salas da Liga Naval, quebrando
mobília e apropriando-se de outros objectos e de dinheiro, no delírio do seu
triunfo. As conferências foram
suspensas porque a República fora pela segunda vez proclamada e a Constituição
estava de novo em vigor.
Apesar da nossa pouca idade de então, passado todo este tempo, pouco
haveria que corrigir hoje no que então afirmámos. FN dá a impressão de que
desconhece esse livro, que é o documento de que ao Integralismo não faltava
a força de uma doutrina directamente oposta às tendências do iberismo, nunca podendo
ser suspeito de com ele poder transigir. O meu estudo, que versava os aspectos
económicos da questão, concluía assim: uma
vez fortes e regenerados e tornados uma raça forte com um governo forte não
implicam as glórias, que o futuro nos promete, a hostilidade do vizinho. Dotado
um e outro país de saúde política e de governos competentes, tudo aconselha uma
larga aliança baseada nos tratados de comércio e nos arranjos militares defensivos.
Constituir-se-ia assim um bloco de invencível valor internacional e [talvez]
pudesse ainda fazer alguma coisa de belo para a cristandade a camaradagem de
duas nações que já entre si repartiram amigavelmente o mundo para a obra nobilíssima
da colonização.
Antes da revolução e ainda no estertor da monarquia constitucional de
Espanha, os estudantes integralistas portugueses dirigiram um apelo aos estudantes
espanhóis, que começava por afirmar: a
sagrada fronteira que politicamente
nos separa e espiritualmente nos une, proíbe-nos uma organização política
comum, mas impõe-nos uma estreita solidariedade espiritual. Preconizavam uma orientação que tendesse ao internacionalismo da cultura, mas
contrário ao internacionalismo político. … desenvolvamos paralelamente até à plenitude o nacionalismo espanhol e o
nacionalismo português… E sob este paralelismo, análogo ao da Reconquista, muito
longe da utopia ultrajante da União Ibérica e de outras maquinações maçónicas
apostolizadas pelos piores espanhóis como pelos piores portugueses, saibamos
criar uma solidariedade espiritual...» In José Pequito Rebelo, O Debate, nº 1085,
de 8-1-1972.
O Integralismo e a questão ibérica
Buscou também sempre o Integralismo, promover o aumento da força
nacional, mesmo no adverso regime. Defendeu sempre esses dois polos da nossa força
e sobrevivência: a Milícia e o Ultramar. No nosso folheto A ideia de Portugal forte constam as inúmeras advertências
feitas ao poder em nome daqueles
portugueses que se têm manifestado contrários ao abandono da defesa nacional.
Já em Março de 1936 prevíamos
a ameaça soviética pelo lado de Espanha, pedindo a aplicação imediata de
recursos à nossa defesa e à nossa
aviação, além daquela parte também sagrada que devíamos ter dedicado à
ocupação demográfica do nosso Ultramar, outra condição importante de potência
militar.
Um pouco mais tarde, em Maio
de 1936, dirigia ao subsecretário de
Estado da Guerra, uma exposição em que se lia: parto da hipótese de que
Portugal, se não armar rapidamente, está em sério risco de ser atacado por uma
Espanha tornada bolchevista; para que o seu nome de nação livre e civilizada
desapareça dentro da União Ibérica Soviética. De sucessivas representações aos
altos poderes, posso agora extrair as seguintes frases, que exprimiam decerto
também o pensamento integralista: ... Ofereço
mais esta reflexão: como os dois contendores (nacionalistas e vermelhos)
aumentam febrilmente os seus armamentos, especialmente aviões, no fim do
conflito o vencedor disporá de uma massa considerável que é a sua, somada ao do
vencido… Para isso, para salvaguardarmos o equilíbrio das forças, parece que
nós devíamos adquirir recursos de guerra iguais aos que os dois contendores
adquirem e com a mesma velocidade. Tirar habilidosa e heroicamente da
própria guerra de Espanha aquele acréscimo de força que valha como proclamação
virtual da nossa independência e nos defenda militar e diplomaticamente no choque iminente dos imperialismos». José
Pequito Rebelo, in António Sardinha e o Iberismo, Acusação Contestada, Biblioteca
do Pensamento Político, ‘O Debate’ nº 1085/6, 1972, QP, Oficinas de S. José, 1974.
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