«Escuto a fonte, meu misterioso desígnio
de cantar o amor.
Da tremenda alegria da carne
deve vir o espírito do canto, da vossa
deslumbrante alegria, ó intensas
criaturas solares.
Tudo o que é como sinal fecundo
da terra, tudo o que se toca
entre comoção e pensamento,
deve participar de vosso cântico, ó
corpos apoteóticos, corpos
reconstruídos sobre o frio ascético dos cadáveres.
Vosso é o vinho libertador, a erva
virgem, ó pequenas cabras rituais, a erva
junto à água, junto ao silêncio,
junto à aragem — vosso é pólen inconscurpado,
o fruto, o dia, a delirante
lua vermelha.
Vindes na simples harmonia da fome
e da mesa,
com gestos sexuais de uma graça infantil,
o puro impudor,
a generosidade ingénua
do pecado.
Eu canto vossas coxas verdes, o antigo
Turbilhonar do instinto
que transportais castamente como um depósito
no sacrário do sexo,
canto vosso ventre diurno,
a grande inocência de uma entrega
milagrosa.
Humildemente teço minhas palavras gratas
sobre a bela ferocidade
da carne, ergo minha taça,
ouço o oculto rumorejar da fonte.
Humildemente dissipo a solidão, aceite apelo de esperma,
mereço a poesia.
- Humildemente repudio a morte».
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