sábado, 9 de novembro de 2013

Maria Madalena das páginas da Bíblia. Para a Ficção. Textos Críticos. Organização de Salma Ferraz. «Foi a primeira pessoa que acreditou que Jesus havia ressuscitado. Mulher de oração. Madalena não era prostituta»

Cortesia de wikipedia e jdact

Maria Magdalena. A antiodisseia da discípula amada
«(…) Maria Madalena foi realmente a discípula amada, mas preferiu-se chamar a João de discípulo amado, e não à Maria Madalena, porque o defeito desta era ser mulher e com agravante: era uma mulher sábia e líder, que participava activamente dos momentos cruciais da vida de Jesus. Lembramos que o discípulo amado não estava na tumba, mas Madalena estava lá aguardando e vigiando. Pedro, que negou a Jesus três vezes e que também não estava presente na crucificação, foi intitulado de Príncipe dos Apóstolos. Por que Madalena não foi denominada Princesa dos Apóstolos? Madalena era discípula de Jesus e o seguia com seus bens, seu corpo e sua alma. Foi testemunha dos dois piores momentos da vida dele: a Paixão e a Ressurreição. Quando chama Jesus de Mestre, legitimamente se autointitula discípula. Quando Jesus incumbe Madalena de anunciar a ressurreição, Ele confirma o Apostolado e Discipulado dela. Foi Hipólito, bispo heresiólogo de Roma, quem outorgou à Madalena, no século III, o título de Apostola Apostolorum, facto este posteriormente olvidado pela Igreja. O facto de Madalena ter sido incumbida directamente por Jesus de anunciar a sua ressurreição a transforma, de certo modo, na fundadora do Cristianismo, como já apontou Renan em Vida de Jesus. Seria mais correcto dizer que, ao anunciar a ressurreição, Madalena lança a pedra fundamental do Cristianismo. Jean-Yves Leloup (2004) elabora, no final de seu Romance de Maria Madalena, uma mulher incomparável, 12 interessantes teses sobre Madalena. Na sétima tese, considera Madalena como aquela que acompanhara a agonia e a morte de Jesus, mas, principalmente, fora ela a parteira do novo nascimento de Jesus, tornando-se, assim, uma segunda mãe para Ele. A primeira, Maria, mãe dele, acompanhou o nascimento carnal; a segunda, Madalena, o nascimento espiritual, a ressurreição dentre os mortos.
Também podemos estabelecer outra relação figurativa que já foi apontada na Introdução do Sermão anónimo francês pertencente ao século XVII, encontrado por Rainer Maria Rilke (2000) em um antiquário parisiense, em 1911, intitulado L’ amor de Madaleine: se por Eva, em um jardim ocorreram a perdição e a morte, por Madalena, também em um jardim, ocorreram o resgate e glorificação da mulher. A primeira mulher foi falha e não passava de uma sombra da outra: Madalena. Se por uma mulher, Eva, entrou o pecado e coube a ela presenciar a queda do primeiro Adão, à outra mulher, Madalena, foi atribuído o privilégio de presenciar a morte e, principalmente, a ressurreição do segundo Adão, Jesus, este sim incorruptível e sem pecado. Essa mesma ideia já havia sido desenvolvida por Cirilo de Alexandria, que, em 444, afirmava que em Madalena todas as mulheres foram perdoadas da transgressão de Eva, porque Madalena testemunhara, antes de todos, a ressurreição. Em 630, Modestus, patriarca de Jerusalém, levantou a hipótese de que Madalena fora líder das discípulas de Jesus e que morrera martirizada. Santo Agostinho também distingue Madalena como uma das mulheres mais importantes dos Evangelhos.
Jacinto Freitas Faria (2004) enumera, em sua obra O outro Pedro e a outra Madalena segundo os Apócrifos, suas 13 teses sobre Madalena dos Evangelhos Canônicos:
  • 1) Apóstola de Jesus;
  • 2) Mulher possessa de sete demónios;
  • 3) Mulher que sustenta financeiramente a Jesus e seus discípulos;
  • 4) Mulher sem laços familiares;
  • 5) Testemunha da morte;
  • 6) Testemunha do sepultamento de Jesus;
  • 7) Discípula amada de Jesus;
  • 8) Testemunha da ressurreição e anunciadora deste facto aos demais discípulos;
  • 9) Madalena quis tocar o corpo de Jesus;
  • 10) Temeu que não acreditassem em sua mensagem;
  • 11) Foi a primeira pessoa que acreditou que Jesus havia ressuscitado;
  • 12) Mulher de oração;
  • 13) Madalena não era prostituta.
Todos os evangelistas dão importância crucial à Madalena na vida do Homem de Nazaré, uma vez que ela é citada 12 vezes a mais que Maria, mãe de Jesus. Supomos que Madalena fosse tão conhecida naquela época, praticamente uma celebridade, que era impossível não se fazer referência a ela, por isso há uma quádrupla atestação dos evangelistas sobre a actuação dela». ». In Salma Ferraz, organização, Maria Madalena das páginas da Bíblia para a Ficção, Textos Críticos, Eduem, UEM, Maringá, Brasil, 2011, ISBN 978-85-7628-334-8

Cortesia de Eduem/JDACT