Cortesia
de wikipedia
«A contínua história de isolamento da ilha da Irlanda revelou-se a
um só tempo uma maldição e uma bênção para a cultura celta naquelas terras.
Livre da influência romana e em tempos de cristianismo longe do controle do
Vaticano, a Irlanda conseguiu preservar com muito mais riqueza de detalhes os
mitos e lendas dos celtas. Conhecida pelos gregos como Ierne
e pelos romanos como Hibernia ou Scotia, nome que certamente gera alguma
confusão com a moderna nação escocesa, a Irlanda recebeu os primeiros
povos celtas no último milénio a.e.a.. Seus antigos habitantes haviam deixado
um maravilhoso legado de estruturas megalíticas e complexos como os de Newgrange,
Knowth e Dowth, os quais posteriormente foram incorporados às lendas
e mitos celtas. Podemos especular que muitas das deidades celtas a povoar sua
mitologia também tenham, ainda que apenas parcialmente, origem nos mitos e
lendas desses primeiros habitantes, como costuma ocorrer sempre que uma nova
cultura se estabelece numa região.
Já sabemos que os celtas não costumavam escrever seus mitos, preservando-os
vivos através da tradição oral de seus bardos, poetas e druidas. A escrita
chega à Irlanda somente com a cristianização dos irlandeses, por volta do
século V. Para muitos estudiosos, os primeiros monges cristãos na Irlanda eram bardos
e druidas que se converteram ao cristianismo, tese que, somando-se ao facto
de que o cristianismo na Irlanda instalou-se de forma muito mais pacífica e
tolerante do que em outras terras, pode ser a razão para que tenham sido
justamente esses primeiros monges a registar muitos dos mitos e lendas da
Irlanda celta pré-cristã. Foi
somente com a chegada do cristianismo à Irlanda que os filidh, convertidos e agora monges, viram-se livres da proibição mágica que
lhes impedia de passar para a escrita o que sobrevivera de sua tradição (Jean
Markale). Graças aos esforços desses monges e seus belíssimos manuscritos,
as gerações futuras puderam conhecer esses mitos, estudá-los e, por que não,
restaurá-los como fontes de sabedoria e inspiração espiritual tão válidas
quanto quaisquer outros textos sagrados de outras culturas, como o Talmud,
o Corão,
o Bhaghavad
Gita ou o Novo Testamento.
Muitas vezes deparamo-nos com narrativas irlandesas sendo descritas como pseudo-história, como se um mito
precisasse do suporte histórico para ser válido. Apesar das poucas, e
questionáveis, evidências históricas da existência de um líder espiritual
chamado Jesus na Galileia de dois mil anos atrás, ninguém questiona a valia do
cristianismo ou trata os relatos do Novo Testamento como pseudo-história. Curiosamente, os textos da Irlanda celta relatam
factos e eventos que estudos modernos comprovam estarem fundamentados em factos
reais, como a migração de tribos celtas à Irlanda a partir da Península
Ibérica, ou no exemplo de Arthur nos mitos celtas da Grã-Bretanha. Seja como
for, a mitologia celta irlandesa é vigorosa e oferece uma fonte inesgotável de
lendas, poemas e contos inspiradores. Pela abundância de textos, pela riqueza
de fontes e pelo carinho que os irlandeses até hoje dedicam aos antigos mitos,
a Irlanda é, sem
dúvida, o mais importante manancial de
informação sobre as crenças, mitos e costumes dos celtas.
Os
Ciclos Mitológicos Irlandeses
Para fins de estudo, a mitologia celta irlandesa costuma ser dividida em
quatro ciclos:
- Ciclo Mitológico;
- Ciclo do Ulster;
- Ciclo Feniano;
- Ciclo dos Reis.
A este grupo pertencem alguns dos mais importantes relatos mitológicos da
Irlanda celta, o maior de todos sendo, sem dúvida, o Léabhar Gábhala na
hÉireann (literalmente Livro das Tomadas da Irlanda), mais
conhecido como Livro das Invasões.
Trata-se de uma intricada narrativa, redigida por várias mãos ao longo de
várias décadas e que descreve as sucessivas chegadas de povos míticos às terras
irlandesas mesclando os mitos nativos celtas a eventos bíblicos». In
Canal História, Jean Markale, Wikipédia.
Cortesia de CHistória/JDACT