domingo, 15 de junho de 2014

Mitos Celtas da Irlanda. Canal História. «… os celtas não costumavam escrever seus mitos, preservando-os vivos através da tradição oral de seus bardos, poetas e druidas. A escrita chega à Irlanda somente por volta do século V»

Trecho de manuscrito conhecido como Livro da Vaca Marrom.
Cortesia de wikipedia

«A contínua história de isolamento da ilha da Irlanda revelou-se a um só tempo uma maldição e uma bênção para a cultura celta naquelas terras. Livre da influência romana e em tempos de cristianismo longe do controle do Vaticano, a Irlanda conseguiu preservar com muito mais riqueza de detalhes os mitos e lendas dos celtas. Conhecida pelos gregos como Ierne e pelos romanos como Hibernia ou Scotia, nome que certamente gera alguma confusão com a moderna nação escocesa, a Irlanda recebeu os primeiros povos celtas no último milénio a.e.a.. Seus antigos habitantes haviam deixado um maravilhoso legado de estruturas megalíticas e complexos como os de Newgrange, Knowth e Dowth, os quais posteriormente foram incorporados às lendas e mitos celtas. Podemos especular que muitas das deidades celtas a povoar sua mitologia também tenham, ainda que apenas parcialmente, origem nos mitos e lendas desses primeiros habitantes, como costuma ocorrer sempre que uma nova cultura se estabelece numa região.
Já sabemos que os celtas não costumavam escrever seus mitos, preservando-os vivos através da tradição oral de seus bardos, poetas e druidas. A escrita chega à Irlanda somente com a cristianização dos irlandeses, por volta do século V. Para muitos estudiosos, os primeiros monges cristãos na Irlanda eram bardos e druidas que se converteram ao cristianismo, tese que, somando-se ao facto de que o cristianismo na Irlanda instalou-se de forma muito mais pacífica e tolerante do que em outras terras, pode ser a razão para que tenham sido justamente esses primeiros monges a registar muitos dos mitos e lendas da Irlanda celta pré-cristã. Foi somente com a chegada do cristianismo à Irlanda que os filidh, convertidos e agora monges, viram-se livres da proibição mágica que lhes impedia de passar para a escrita o que sobrevivera de sua tradição (Jean Markale). Graças aos esforços desses monges e seus belíssimos manuscritos, as gerações futuras puderam conhecer esses mitos, estudá-los e, por que não, restaurá-los como fontes de sabedoria e inspiração espiritual tão válidas quanto quaisquer outros textos sagrados de outras culturas, como o Talmud, o Corão, o Bhaghavad Gita ou o Novo Testamento.
Muitas vezes deparamo-nos com narrativas irlandesas sendo descritas como pseudo-história, como se um mito precisasse do suporte histórico para ser válido. Apesar das poucas, e questionáveis, evidências históricas da existência de um líder espiritual chamado Jesus na Galileia de dois mil anos atrás, ninguém questiona a valia do cristianismo ou trata os relatos do Novo Testamento como pseudo-história. Curiosamente, os textos da Irlanda celta relatam factos e eventos que estudos modernos comprovam estarem fundamentados em factos reais, como a migração de tribos celtas à Irlanda a partir da Península Ibérica, ou no exemplo de Arthur nos mitos celtas da Grã-Bretanha. Seja como for, a mitologia celta irlandesa é vigorosa e oferece uma fonte inesgotável de lendas, poemas e contos inspiradores. Pela abundância de textos, pela riqueza de fontes e pelo carinho que os irlandeses até hoje dedicam aos antigos mitos, a Irlanda é, sem dúvida, o mais importante manancial de informação sobre as crenças, mitos e costumes dos celtas.

Os Ciclos Mitológicos Irlandeses
Para fins de estudo, a mitologia celta irlandesa costuma ser dividida em quatro ciclos:
  • Ciclo Mitológico; 
  • Ciclo do Ulster;
  • Ciclo Feniano; 
  • Ciclo dos Reis.
Ciclo Mitológico
A este grupo pertencem alguns dos mais importantes relatos mitológicos da Irlanda celta, o maior de todos sendo, sem dúvida, o Léabhar Gábhala na hÉireann (literalmente Livro das Tomadas da Irlanda), mais conhecido como Livro das Invasões. Trata-se de uma intricada narrativa, redigida por várias mãos ao longo de várias décadas e que descreve as sucessivas chegadas de povos míticos às terras irlandesas mesclando os mitos nativos celtas a eventos bíblicos». In Canal História, Jean Markale, Wikipédia.

Cortesia de CHistória/JDACT