terça-feira, 3 de junho de 2014

Violoncelo. Poesia. A Arte. Jacqueline du Pré. «Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação. E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora, deliberadamente à mesma hora... Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico»

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A Frescura
Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
fiquei esperando a vontade de ir para lá, que'eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
E tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Poema de Álvaro de Campos, in "Poemas"
(Heterónimo de Fernando Pessoa)


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