segunda-feira, 16 de junho de 2014

Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz. Mário Nunes Costa. «Na linhagem dos Molles, é conhecido um Vasco Esteves. É filho de Estêvão Rodrigues Molles e primo, em grau elevado, de Martim Esteves Molles, por ambos terem em Paio Mendes Molles um antepassado comum»

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Identificação de ‘Gatuz’
«(…) Será este o irmão de Vasco Esteves de Gatuz? Segundo o Livro de Linhagens atribuído ao conde Pedro, este Martim Esteves foi irmão de Gonçalo Esteves. E, segundo o Livro Velho de Linhagens, publicado por Alexandre Herculano nos Portugaliae Monumenta Historico e por António Caetano Sousa nas Provas da Historia Genealogica da Casa Real Portuguesa, também foi irmão de João Esteves Molles e outros. Algum destes se chamaria Vasco Esteves? Se isto vier a ser demonstrado, é possível que o escudeiro de Estremoz seja um Molles a quem a façanha do irmão fez calar a ascendência ao longo da vida e a quem a viúva pode ter preferido lembrar a ascendência materna, a dos Gato. Por ora, não nos é acessível um tal esclarecimento.
Na linhagem dos Molles, é conhecido, na verdade, um Vasco Esteves. É filho de Estêvão Rodrigues Molles e primo, em grau elevado, de Martim Esteves Molles, por ambos terem em Paio Mendes Molles um antepassado comum. Mas este Vasco Esteves não tem ascendentes conhecidos na família Gato. Foi casado com D. Teresa Mendes e dela teve um filho e duas filhas. Não se identifica, pois, com o escudeiro de Estremoz, mas pode, eventualmente, ser o cavaleiro a que se referiu Fernão Lopes, na Chronica do Senhor Rei D. Fernando ... como um dos companheiros de Gonçalo Mendes Vasconcelos, na ida para Elvas como fronteiro.
Vasco Esteves, o morador em Estremoz, no caso de ser descendente de Afonso Pires Gato ou de D. Teresa Pires Gata, irmã deste e mulher de Fernando Gonçalves Sousa e, em segundas núpcias, de Fernando Pires Turrichão, o Velho, ter-se-ia situado, considerando a cronologia e a esperança de vida, na quarta, quinta ou sexta geração dos Gato, segundo uma linha que até agora não vimos definida e devidamente documentada. O símbolo falante, patente nas armas esculpidas no seu túmulo e não só aí, impõe, sem dúvida, uma relação ou um significado. Qual? A omissão em testamento, não sabemos se por lapso, se intencional ou determinada pela rigidez de um formulário tabeliónico, dos nomes dos pais de Vasco e Martim Esteves, os tumulados em Estremoz, gera dúvidas quanto a uma relação com a família Gato, que se estendem aos parentes agora conhecidos de ambos, os Nunes, os Eanes e os Rodrigues. Na tradicional família Gato, também não encontramos nenhum destes. Será suficiente o símbolo falante para testemunhar, no século XIV, a presença de um descendente de Afonso Pires Gato?
Atendendo a que ao tempo se estava numa fase pré-normativa da heráldica em Portugal, há quem hoje pense que não. Pode tratar-se de emblemática assumida por outra razão. A argumentação é reforçada com o facto de naquela família se encontrarem vários indivíduos designados Gato ou Gata, mas nenhum de Gatuz. Ora, a herdade, que tinha no termo primitivo de Elvas, Torre de Guatus, foi, no século XIV, com precisão em 1363, pertença do escudeiro de Estremoz Vasco Esteves. É a propriedade de maior valor de quantas vão ser legadas para sustentar a capela por ele instituída nessa data. Quando e de quem recebeu tal imóvel, não sabemos ainda. Demonstrada a existência, ao tempo, do topónimo Gatuz, hoje perdido, e a relação que com ele teve Vasco Esteves, é, para nós, fora de dúvida que foi graças a este topónimo que o escudeiro de Estremoz recebeu o sobrenome de domínio, que o distingue ainda hoje de outros Vasco Esteves do seu tempo». In Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz, Academia Portuguesa da Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.

Cortesia da AP da Historia/JDACT