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À Ana no dia do Aniversário
«Havia uma flor!
Nem eu sabia
onde é que a flor havia,
mas tanto fazia.
Talvez houvesse
onde ninguém soubesse
ou fosse uma flor de estar a haver
só na minha imaginação,
ou não fosse uma flor, fosse uma canção.
Nem a flor sabia
que existia.
Em qualquer sítio, sem saber, floria.
E se fosse uma canção cantava e não se ouvia.
E isso acontecia
no meu coração.
Não sei se era uma flor se uma melodia,
era qualquer coisa que havia
e cantava e floria
dentro de mim sem razão.
Ia pela rua e ninguém diria.
As pessoas passavam
e eu dizia:
Bom dia!,
e ninguém suspeitava
o bom dia que fazia
em qualquer sítio
que dentro de mim havia!
Só eu sabia e sorria,
levando-te pela mão».
Poema de Manuel António Pina, in ‘O Têpluquê’,
31/7/1980
In Manuel António Pina, O Têpluquê e Outras Histórias, Ilustrações de
Bárbara Assis Pacheco, Assírio e Alvim, Lisboa, 2006, ISBN 978-972-37-1157-8.
Cortesia de Assírio e Alvim/JDACT