sábado, 9 de julho de 2016

Mistérios Sombrios do Vaticano. Paul Jeffers. «Na sexta-feira, 13 de Outubro de 1307, funcionários da Corte de Justiça do rei entraram no quartel-general dos templários em Paris e prenderam os cavaleiros. Presos e torturados, foram obrigados a confessar heresias»

jdact e wikipedia

A verdade sobre os Templários
«(…) Eles cresceram tanto, que há nessa ordem actualmente, escreveu Guilherme de Tiro em algum momento entre 1170 e 1174, cerca de 300 cavaleiros que usam mantos brancos, além dos irmãos, muito numerosos. Dizem que eles têm imensas posses tanto aqui como no exterior, de forma que não há hoje uma única província no mundo cristão que não tenha concedido aos tais irmãos uma parcela de seus bens. Dizem que sua riqueza é tão grande quanto os tesouros dos reis. Os templários tornaram-se tão ricos e poderosos, observou Guilherme, que se tornaram extremamente problemáticos. Seu líder nessa época era Jacques de Molay. Nascido em 1244 em Vitrey, França, entrou para os Cavaleiros Templários em 1265, com a idade de vinte e um anos. Depois de subir rapidamente na hierarquia, passou muito tempo na Grã-Bretanha. Por fim, apontado como visitante geral e grande preceptor de toda a Inglaterra, tornou-se chefe da ordem após a morte de seu vigésimo segundo grão-mestre. Então se mudou da Inglaterra para Chipre. Foi aí, no Outono de 1307, que se viu chamado de volta à França por ordem do rei Filipe IV, conhecido como o Belo, e do papa Clemente V. Acredita-se que a convocação foi resultado do medo real e papal e inveja do poder e riqueza dos templários. Outra explicação é que Filipe, o Belo estava tão profundamente endividado com os templários que decidiu que a única maneira de resolver o problema era eliminando a ordem.
Na sexta-feira, 13 de Outubro de 1307, funcionários da Corte de Justiça do rei entraram no quartel-general dos templários em Paris e prenderam os cavaleiros. Presos e torturados, foram obrigados a confessar heresias, entre elas a adoração do demónio e perversões sexuais. Foi-lhes oferecida a escolha entre a renúncia ou a morte. Apesar de ter confessado sob tortura, De Molay rapidamente renegou a renúncia. Condenado com outro templário, foi levado para uma ilha do rio Sena, à sombra da Catedral de Notre-Dame, e queimado em 1312. Existe uma lenda segundo a qual, enquanto as chamas cresciam ao seu redor, ele profetizou que o rei e o papa morreriam em um ano. A profecia se realizou. Mas antes de morrer, o papa dissolveu a ordem e avisou a todos os que ousassem pensar em se juntar aos templários que seriam excomungados e condenados como hereges. Apesar da decisão do rei Filipe e do papa Clemente de erradicar os templários, alguns conseguiram escapar e, acredita-se, estabeleceram a ordem na Escócia. Hoje a Ordem dos Cavaleiros Templários sobrevive como filiada da Maçonaria.
Embora os arquivos do Vaticano e os volumes de história europeia contenham inúmeros relatos em que se cruzam os objectivos de reis e papas, e até casos de conspiração, nada se compara ao acordo feito entre o papa Clemente V e Filipe, o Belo para encobrir a avareza com o manto da religião. O facto de Clemente reconhecer a ilegalidade das acusações de heresia contra os cavaleiros templários foi registado em um documento colocado nos arquivos secretos do Vaticano, e lá permaneceu por sete séculos. Para espanto dos historiadores, em 2007 o Vaticano anunciou que publicaria 799 cópias com detalhes dos julgamentos dos templários, Processus Contra Templarius, que pretendia vender por cerca de 8 mil dólares norte-americanos. A compilação gigantesca viria em encadernação luxuosa de couro, com reproduções detalhadas dos documentos originais em latim sobre os julgamentos. A colecção de documentos incluía o Pergaminho de Chinon, cidade francesa onde foram realizados os julgamentos, que registava por que o papa Clemente V havia dissolvido a Ordem dos Cavaleiros Templários e emitido mandados de prisão para todos os membros. O pergaminho havia sido descoberto nos arquivos secretos do Vaticano em 2001 pela professora Barbara Frale. Eu não conseguia acreditar quando o encontrei, ela disse. O papel foi colocado em um arquivo errado no século XVII. O documento (…) revela que os templários tinham uma cerimónia de iniciação que envolvia cuspir na cruz, negar Jesus e beijar a lombar, o umbigo e a boca do homem que propusesse sua filiação. Os templários explicaram ao papa Clemente que a iniciação imitava a humilhação que os cavaleiros poderiam sofrer se caíssem nas mãos dos sarracenos, e a cerimónia do beijo era um sinal de completa obediência. O papa concluiu que o ritual não era realmente blasfemo, como alegava o rei Filipe ao prender os cavaleiros. No entanto, foi forçado a dissolver a ordem para manter a paz com a França e evitar um cisma na Igreja. Isso prova que os templários não eram hereges, disse a professora Frale.
O documento contém a absolvição dada pelo papa Clemente V ao grão-mestre do Templo, Jacques de Molay, e aos outros chefes da ordem, depois que eles se mostraram arrependidos e pediram para ser perdoados pela Igreja. Após a abjuração formal, obrigatória para todos aqueles que fossem simplesmente suspeitos de crimes ateístas, os principais líderes da Ordem dos Templários são restabelecidos na comunhão católica e readmitidos para receber os sacramentos. O documento trata da primeira fase do julgamento dos templários, quando o papa Clemente V ainda estava convencido de que talvez conseguisse garantir a sobrevivência da ordem militar-religiosa e atender à necessidade apostólica de remover a vergonha da excomunhão dos membros religiosos e guerreiros, causada por sua negação de Jesus Cristo quando torturados pelo inquisidor francês. Como confirmam várias fontes contemporâneas, o papa havia apurado que os templários estavam envolvidos em algumas formas graves de imoralidade, e então planeava uma reforma radical da ordem para depois fundi-la com outra ordem militar-religiosa. (…) O Acto de Chinon, requisito para a realização da reforma, permaneceu, entretanto, letra morta. A monarquia francesa reagiu iniciando um mecanismo de chantagem, que teria obrigado Clemente V a tomar uma decisão final durante o Concílio de Viena (1312). Incapaz de se opôr à vontade do rei Filipe, o Belo, que ordenara a eliminação dos templários, o papa ouviu a opinião dos padres conciliares e decidiu abolir a ordem. (…) Clemente afirmou que essa decisão sofrida não equivalia a um acto de condenação da heresia, que não poderia ser alcançada com base nos vários inquéritos realizados nos anos anteriores ao concílio. De acordo com o pontífice, o escândalo criado com as vergonhosas acusações contra os cavaleiros templários (heresia, idolatria, homossexualidade e comportamento obsceno) teria dissuadido qualquer um de usar o hábito templário, e por outro lado, o atraso em uma decisão sobre essas questões produziria o desperdício da grande riqueza que os cristãos da Terra Sagrada haviam oferecido aos templários, encarregados de ajudar a combater os inimigos da fé da Terra Sagrada. A consideração atenta desses perigos, junto com a pressão dos franceses, convenceu o papa a abolir a Ordem dos Cavaleiros do Templo. A absolvição do papa Clemente não teve valor terreno para De Molay. Pelos pecados e crimes cometidos contra Deus e a Igreja, que ele confessou sob tortura, foi condenado à fogueira. Outros templários também foram executados, e seus tesouros foram confiscados pelo rei Filipe. Após a publicação do documento de Chinon, o London Daily Telegraph noticiou que a Associação Ordem Soberana do Templo de Cristo havia entrado com um processo na Espanha exigindo que o papa Bento reconhecesse o confisco dos bens dos templários no valor de 100 bilhões de euros. O grupo dos templários com sede na Espanha declarou: não estamos tentando provocar o colapso económico da Igreja Católica Romana, mas demonstrar para a Corte a magnitude do complô contra a Ordem». In Paul Jeffers, Mistérios Sombrios do Vaticano, 2012, tradução de Elvira Serapicos, Editora Jardim dos Livros, 2013, ISBN 978-856-342-018(7)-3(6).

Cortesia de EJLivros/JDACT