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«Enquanto
seguia para casa em seu carro, depois de se despedir do último visitante e
trancar a clínica, o doutor Arnold Freeberg concluiu que aquele fora um dos
melhores dias, talvez mesmo o melhor dia, que desfrutara desde que se
estabelecera em Tucson, Arizona, depois de deixar Nova York, havia seis anos. Tudo
por causa daquele último visitante, Ben Hebble, o mais bem-sucedido banqueiro
de Tucson, e seu anúncio de um presente extraordinário para ele. Freeberg
recordou a essência da visita do corpulento banqueiro. Meu filho ficou curado
graças à sua terapia sexual. Timothy era muito infeliz e ambos sabíamos disso.
Tinha medo da companhia de garotas porque não conseguia ter uma erecção, até que
seu psiquiatra encaminhou-o para o senhor. Fez um bom trabalho. Em apenas dois
meses, conseguiu transformá-lo. Depois disso, Timothy andou se divertindo por
aí durante algum tempo, até que se apaixonou por uma garota do Texas.
Resolveram viver juntos e foi um sucesso tão grande que agora vão casar. Por
sua causa, eu ainda espero ser avô! Meus parabéns!, exclamara Freeberg,
recordando como ele e sua suplente sexual, Gay le Miller, haviam trabalhado com
paciência para conduzir o filho do banqueiro, que sofria de disfunção sexual, à
cura. Não, doutor Freeberg, o senhor é que merece os parabéns!, protestara Hebble.
E estou aqui para lhe agradecer de uma maneira prática. Vim lhe comunicar que
estou criando uma fundação para complementar sua clínica, e que permitirá ao
senhor e à sua equipe ajudar a curar pacientes com disfunção sexual que não
tiverem condições de contratar seus serviços. Quero lhe garantir cem mil
dólares por ano com essa finalidade, durante dez anos, perfazendo um milhão de
dólares que lhe proporcionarão a oportunidade de ampliar seu trabalho e ajudar
a outras infelizes vítimas da impotência. Freeberg recordou que se sentira
atordoado. Eu..., não sei o que dizer. Estou muito confuso. Só há uma condição,
acrescentara Hebble, em tom incisivo. Quero que a fundação seja em Tucson, com
todo o seu trabalho realizado aqui. Esta cidade tem sido boa para mim, e lhe
devo alguma coisa. O que me responde? Não há problema. Absolutamente nenhum.
Está sendo muito generoso, senhor Hebble. Freeberg despedira-se do seu
benfeitor, ainda atordoado. Ao chegar em casa, assim que abriu a porta
cantarolando para si mesmo, deparou com a esposa rechonchuda, Miriam, que
estava à sua espera no vestíbulo. Ele beijou-a, alegre. Antes que pudesse falar
qualquer coisa, no entanto, ela sussurrou-lhe: Arnie, há alguém à sua espera na
sala de estar. É o promotor municipal, Thomas O'Neil. Ele pode esperar um
minuto, disse Freeberg, enlaçando a esposa. Freeberg e O'Neil eram amigos
casuais; participavam juntos de diversos comités a fim de levantar recursos
para obras de caridade locais. Provavelmente veio conversar sobre algum
trabalho comunitário. Agora ouve o que acaba de acontecer na clínica. Rapidamente,
ele relatou a oferta de Hebble. Miriam ficou excitada; abraçou o marido e beijou-o
várias vezes.
Isso
é maravilhoso, Arnie! Agora podes realizar os teus sonhos! E mais alguma coisa!
Pegando o marido pelo braço, ela levou-o para a sala de estar. É melhor você
descobrir logo o que o senhor O'Neil está querendo. Ele chegou há dez minutos.
Não deve deixá-lo esperar por muito tempo. Freeberg entrou na sala,
cumprimentou o promotor e sentou-se à sua frente. Ficou surpreso ao perceber
que O'Neil parecia constrangido. Detesto incomodá-lo na hora do jantar, Arnold,
mas tenho vários compromissos esta noite e achei que deveria lhe falar o mais
depressa possível a respeito de... a respeito de um problema urgente. Freeberg
ficou ainda mais desconcertado. Não parecia a conversa habitual sobre levantamento
de recursos para obras de caridade. O que aconteceu, Tom? Refere-se ao seu
trabalho, Arnold. O que há com meu trabalho? Bem..., fui oficialmente informado
por..., por diversos terapeutas que você usa uma suplente sexual para curar
seus pacientes. Isso é verdade? Freeberg contorceu-se na cadeira, apreensivo. Hã...,
é, sim, é verdade. Descobri que é a única coisa que funciona com muitos
pacientes que sofrem de disfunção sexual. O'Neil meneou a cabeça. É ilegal no
Arizona, Arnold. Sei disso, mas pensei que poderia fazer tudo com discrição,
conseguindo curar os pacientes em estado mais drástico. O'Neil permaneceu
intransigente. É ilegal, Tom. Significa que você está agindo como proxeneta e a
mulher que usa é uma prostituta. Eu bem que gostaria de fechar os olhos ao que
está fazendo, pois somos amigos. Mas não posso. A pressão é cada vez maior. Não
posso continuar a ignorar. Ele empertigou-se e, ao tornar a falar, deu a
impressão de pronunciar as palavras com o maior esforço. O resultado final é
que você perde o seu emprego ou eu perco o meu. O problema tem de ser resolvido
o mais rápido possível e rigorosamente nos termos da lei. Quero-lhe dizer o que
deve fazer. É a melhor proposta que posso apresentar, Arnold. Está disposto a
ouvir? Muito pálido, o doutor Arnold Freeberg assentiu com a cabeça e ouviu... Mais
tarde, depois que O'Neil se foi, Freeberg manteve-se em silêncio durante o
jantar, comendo devagar, sem ter a menor ideia do que punha na boca, absorto em
seus pensamentos. Estava consciente e grato porque Miriam distraía o filho de
quatro anos, Jonny , enquanto ele procurava se recuperar do golpe e avaliar as
consequências. Freeberg trabalhara bastante e por um longo tempo, enfrentando
uma oposição constante, até alcançar o sucesso em Tucson e receber a magnífica
oferta de Hebble. E então, abruptamente, o edifício do sucesso desmoronava e se
transformava em pó. Ele recordou o início. Acontecera logo depois que se
formara na Universidade de Columbia, em Nova York, como psicólogo.
Abrira
um consultório e os resultados não haviam sido satisfatórios. A maioria dos
casos envolvia relacionamentos humanos íntimos, quase sempre com problemas
sexuais; por muitos motivos, o tratamento psicológico não funcionara de maneira
eficaz, pelo menos não para ele. Os pacientes chegavam e partiam, talvez com
uma compreensão maior dos próprios problemas, mas com pouco aproveitamento em
termos de soluções práticas. Mais e mais, Freeberg começara a investigar outras
formas de terapia sexual, passando da hipnose ao condicionamento positivo e
terapia de grupo. Nada o impressionara bastante, até que assistira a uma série
de conferências em que um certo doutor Lauterbach demonstrara o uso das suplentes
sexuais na terapia. O método e os resultados favoráveis atraíram Freeberg de
imediato. Depois de um estudo profundo, Freeberg passara a endossar
incondicionalmente a ideia de usar suplentes sexuais. Numa das conferências
conhecera uma jovem exuberante e encantadora chamada Miriam Cohen, uma
bem-sucedida gerente de compras de uma loja de departamentos, que estava à
procura de respostas para seus próprios problemas e fora uma das poucas mulheres
que havia na sala a concordar com ele a respeito do valor da suplente sexual na
terapia. Não demorara muito para que Freeberg descobrisse que tinha várias
coisas em comum com ela. Começaram a sair juntos e acabaram casando». In Irving
Wallace, O Leito Celestial, 1987, Livros do Brasil, colecção Dois Mundos, nº
166, Lisboa, ISBN 978-972-380-576-5.
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