domingo, 6 de janeiro de 2019

A Filha do Sangue. Anne Bishop. «Cabe a três homens, três príncipes do Sangue que carregam o sobrenome SaDiablo, protegê-la: são eles Saetan, Senhor Supremo do Inferno, e seus filhos, Daemon e Lucivar»

Cortesia de wikipedia e jdact

«A Filha do Sangue é uma viagem inesquecível num mundo estranho e assombroso dominado pela magia. Essa magia é proveniente de jóias que são atribuídas a cada indivíduo em complexas cerimónias, e é em torno delas que existem os Sangue. Eles vivem para honrar as Trevas. São o produto de uma sociedade dividida por castas que se tornou cruel. No início, eles eram os protectores do Reino, mas com o tempo a essência dos Sangue foi corrompida. Agora os machos são brutalizados desde a infância e se tornam escravos dos caprichos de rainhas maquiavélicas. Durante muito tempo as Trevas tiveram um Príncipe, mas a chegada de uma Feiticeira com um poder inimaginável foi profetizada. É então que nos é apresentada Jaenelle, o centro do universo negro e sensual. Ela ainda é jovem, vulnerável, inocente, sujeita a influências corruptas. Quem a controlar terá domínio sobre as Trevas. Cabe a três homens, três príncipes do Sangue que carregam o sobrenome SaDiablo, protegê-la: são eles Saetan, Senhor Supremo do Inferno, e seus filhos, Daemon e Lucivar.
Esses três homens são muito diferentes entre si, mas partilham algumas características: muito poderosos, são profundamente atormentados, e as suas vidas serão alteradas para sempre por Jaenelle. O mais velho, Saetan, sabe que ela é a filha que lhe foi prometida em visões e terá que protegê-la contra a violência das castas. Daemon tem grande fama pela sua beleza, mas a sua elegância e sensualidade são manchadas pelo seu enorme cinismo e frieza. Trata-se de um príncipe de imenso poder, mas ele é usado como mero escravo de prazer. Incapaz de se subjugar à tirania das rainhas, Lucivar não consegue controlar a sua raiva e é condenado a um encarceramento cruel.
Apesar do enredo arrebatador e complexo do universo das Jóias Negras, A Filha do Sangue é, no fundo, uma bela história de amor em que uma mulher é quase destruída por um mundo cruel, até ao momento em que é salva (será mesmo?) por homens com almas desfiguradas pelo passado. Em Jaenelle está concentrada a força que permite aos três SaDiablo combater os seus demónios interiores. Mas que preço cada um deles está disposto a pagar para realizar o seu desejo mais profundo?

Terreille
Sou Tersa, a Tecelã, Tersa, a Mentirosa, Tersa, a Louca.
Sempre que os Senhores e Senhoras dos Sangue com Jóias dão um banquete, sou a diversão que vem depois que os músicos tocaram, os rapazes e moças dançaram e os Senhores já beberam vinho demais e exigem que a sorte lhes seja lida. Conte-nos uma história, Tecelã, gritam, enquanto tocam as coxas das moças que os servem e as Senhoras observam os jovens, a decidir quais deles terão o doloroso prazer de servi-las à noite, na cama. Houve um tempo em que fui parte deles, tão Sangue quanto eles. Não, não é verdade. Eu não era Sangue como eles. Por isso fui quebrada pela lança de um Senhor da Guerra, tornando-me vidro estilhaçado que reflecte apenas o que poderia ter sido. É difícil quebrar um macho com Jóias dos Sangue, mas a vida de uma Feiticeira está suspensa pelo fio himenal, e o que acontece na sua Noite da Virgem determina se ela permanecerá intacta para exercer a Arte ou se irá tornar-se um receptáculo partido, restando-lhe o sofrimento eterno pela parte de si mesma que se esvaeceu. Ah, alguma magia permanece, o suficiente para a vida do dia-a-dia e truques de salão, mas não a Arte, o sangue da vida para a nossa espécie. A Arte, porém, pode ser recuperada, caso se esteja disposto a pagar o preço. Na minha juventude, lutei contra esse último declive que leva ao Reino Distorcido. É melhor ser quebrada e continuar sã do que ser quebrada e enlouquecer. É melhor olhar para o mundo e reconhecer uma árvore como uma árvore, uma flor como uma flor, do que olhar através de uma névoa para formas cinzentas e fantasmagóricas, vislumbrando claramente apenas os fragmentos de si mesmo. Pelo menos era o que eu pensava na época.
Enquanto me arrasto para o pequeno banco, luto para me manter nos limites do Reino Distorcido e para ver, uma última vez, o mundo físico. Com cuidado, coloco na pequena mesa junto ao banquinho a estrutura de madeira que segura a minha teia emaranhada, a teia de sonhos e visões. Os Senhores e Senhoras esperam que eu lhes leia a sorte, e isso eu sempre fiz, não através de mágica, mas mantendo os olhos e ouvidos atentos, e então lhes dizendo o que querem ouvir. Simples. Sem mágica. Mas hoje é diferente». In Anne Bishop, A Filha do Sangue, Jóias Negras, 1998, Saída de Emergência, 2009, ISBN 978-972-883-977-2.

Cortesia de SaídadeEmergência/JDACT