domingo, 20 de janeiro de 2019

A Paz de Zamora. 1143. Assim Nasceu Portugal. Domingos Amaral. «Mem enlaçou-as pela cintura e, com um sorriso maroto, Zaida convidou a amiga a ser a primeira, deslocando-se para a direita. O almocreve ergueu as sobrancelhas, pois queria a princesa moura»

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A Paz de Zamora. Coimbra 1143
Rio Arade. Agosto de 1143
«(…) Mem admitiu que fossem salteadores, talvez planeassem assaltar Ibn Qasi, o que seria um disparate pegado, pois cinco homens não conseguiriam derrotar vinte soldados. Preocupado, decidiu regressar à praia e, ao descer a duna, espantou-se por ver, mesmo à sua frente, duas mulheres a banharem-se. Reparou de imediato que as roupas de Chamoa e Zaida se encontravam pousadas na areia. Nuas, riam-se dentro de água, abraçando-se, divertidas. Mem engoliu em seco, cheio de nostalgia excitada com aquela visão!
Deus generoso, momento gostoso...
Duas belas e estrondosas mulheres, que tantas vezes haviam estado na cama com ele, em Coimbra! Inquieto, olhou para a tenda, que ficava para a sua esquerda, bem lá ao longe. Viam-se alguns soldados fora dela, mas estavam tão distantes que jamais conseguiriam perceber o que se passava dentro de água. Seguro dessa impossibilidade, deixou-se vencer pela tentação e caminhou na direcção das amigas, que só quando já estava a dez passos o viram e começaram a chamar, com as suas vozes encantadas: vinde cá! Nadai connosco! Despi-vos! Vá lá, Mem querido! A senha, de novo a senha convidativa de Zaida. Mem admirou a longa trança dela, os seios fartos, os mamilos escuros, os ombros onde se viam pequenas gotículas de água, o riso alegre com que o tentava. Depois, apreciou Chamoa, encostada à princesa. A pele coberta de sardas, os cabelos loiros ainda secos no topo da cabeça, os peitos frondosos, cada um com o seu escudo rosa e largo no meio.
Duas a chamar, prazer a dobrar...
Era-lhe impossível resistir. Mem despiu a camisa, o saiote, as sandálias e ficou nu, o que provocou gritinhos histéricos nas duas mulheres, excitadas por verem aquele dom da natureza, enorme e já duro, pronto para elas. Fingindo medo, rindo mas fugindo, viraram-se de costas e mergulharam, erguendo para ele as nádegas, dois pares delas, redondas e entusiasmantes.
Rabinho no ar, toca a auinr...
O almocreve entrou na água em passo firme, um animal masculino imparável, um ser primitivo que só respondia aos instintos mais básicos. Caminhou até elas sem falar, enquanto Chamoa e Zaida, uma de cada lado, se encostavam, tocando-lhe com as mãos, acariciando-o e beijando-o no rosto, no pescoço ou na boca.
Lábios de amigas, são doces cantigas...
Mem enlaçou-as pela cintura e, com um sorriso maroto, Zaida convidou a amiga a ser a primeira, deslocando-se para a direita. O almocreve ergueu as sobrancelhas, pois queria a princesa moura, mas Chamoa centrou-se com ele, para que a pudesse tomar. Contudo, ele hesitou, atacado por um assomo de lucidez.
Mulher de amigo, não sei se consigo...
Chamoa era de Afonso Henriques, não a podia possuir, não seria leal, era um servo do príncipe! Deu um passo atrás, a moral a vencer a carne, mas notou em Chamoa um vislumbre de zanga, embora ela tenha forçado um sorriso, justificando-se: ele filha a Elvira Gualter e vai casar-se com uma francesa! Ferida no orgulho, enganada por Afonso Henriques, Chamoa queria de novo os seus amigos do passado.
Mulher encornada, muito mais dada...
A luta dentro dele cresceu. Chamoa esperava-o, inflamada de desejo, enquanto Zaida, colada às suas costas, lhe beijava os ouvidos e os ombros, empurrando-o na direcção da amiga. O seu músculo tremendo exigia uma investida, queria cumprir o destino. Porém, o seu espírito bloqueou e cerrou os dentes. Já não eram jovens, tinham de saber parar, as consequências seriam terríveis. Sois a esposa do rei de Portugal..., murmurou. Zaida riu-se, divertida, mordiscando-lhe o pescoço. E que mal tem? Ele não nos vê... Excitada, Chamoa chegou-se a ele. Depois, alçou a perna esquerda enquanto, com a mão direita, o dirigia para dentro dela. Olhos que não veem..., murmurou Zaida, tapando a visão do amigo. Mas Mem engoliu em seco e declarou: Chamoa, não! Só que ela estava surda a palavras dessas, queria-o, o que provavelmente se concretizaria não fosse terem ouvido o toque de uma trombeta.
Maridos a chamar, mais vale parar...
Chamoa praguejou, furiosa, e mesmo Zaida cerrou os dentes, irritada. Mas nenhuma acusou o almocreve. Ninguém disse nada, saíram os três da água, de rosto fechado, e vestiram-se. Depois, Zaida e Chamoa começaram a andar pela praia, e Mem subiu a duna a correr, sem olhar para trás». In Domingos Amaral, Assim Nasceu Portugal, Oficina do Livro, Casa das Letras, 2017, ISBN 978-989-741-713-9.
                     
Cortesia da CasadasLetras/JDACT