domingo, 13 de janeiro de 2019

O Mito Maçónico. Jay Kinney. «Icke identifica, pois, a Franco-Maçonaria como a sucessora de uma velha fraternidade babilónica: sábios que, originalmente, procuraram libertar a consciência da humanidade…»

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«(…) Diz-se que nesse texto ele anexou as origens da Franco-Maçonaria a Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, hoje conhecida pelo nome oficial de Ordem Soberana Militar e Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta (ou, simplesmente, Ordem de Malta ou Cavaleiros de Malta), uma das várias ordens de cruzados medievais. Nenhuma prova foi avançada para fortalecer a teoria de Ramsay, mas o romantismo desta sugestão fez com que ela fosse desenvolvida por outros, estando na origem de relatos diversificados. O mais popular é aquele que diz que existe um forte elo de ligação entre a Franco-Maçonaria e a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (Ordem do Templo ou Cavaleiros Templários).
Dois dos mais influentes maçons do século XIX, Albert Gallatin Mackey e Albert Pike, brincaram com a noção de que a Franco-Maçonaria era herdeira, se não fosse mesmo descendente directa, dos Mistérios da Antiguidade: um sistema iniciático de sabedoria arcana que constituiu uma importante parte do substrato espiritual da humanidade. Estas interpretações, mais subjectivas que objectivas, foram examinadas de modo rigoroso por Mackey nos seus livros History of Freemasonry, Encyclopedia of Freemasonry e outros ensaios. Pike, por outro lado, discorreu sobre estas ideias num volumoso compêndio intitulado Morals and Dogma, assim como em variadíssimos ensaios e conferências. Nenhum destes autores acreditou, verdadeiramente, na teoria sobre a Franco-Maçonaria ser herdeira dos Mistérios da Antiguidade, mas encontraram semelhanças intrigantes entre uma coisa e outra. Com efeito, aquilo que Mackey e Pike fizeram foi usar a Franco-Maçonaria como uma pedra de toque, com a qual especularam e estudaram uma série de temas que, à luz do que sabemos hoje, podemos apelidar de estudo comparado sobre religiões. O trabalho deles inspirou certos maçons a explorar os campos do esoterismo, da filosofia clássica e da história da antiguidade. Por outro lado, também providenciaram aos críticos antimaçónicos um manancial de materiais que estão na base de muitas das acusações de satanismo e paganismo.
Sobre isto, tomemos como exemplo as sinistras teorias da conspiração elaboradas por David Icke. Este indivíduo carismático, em cujo passado se contam actividades tão heterogéneas como relatador de futebol e porta-voz do partido britânico Os Verdes, descobriu a galinha dos ovos de ouro com uma série de livros, autopublicados, sobre a relação de que toda a gente se encontra dominada por uma raça reptiliana de mutantes inter-dimensionais. Os livros de Icke são um êxito de vendas em certos círculos de inspiração New Age e em outros com ligações políticas à extrema-direita.
Icke identifica, pois, a Franco-Maçonaria como a sucessora de uma velha fraternidade babilónica: sábios que, originalmente, procuraram libertar a consciência da humanidade da influência vampírica dos reptilianos. O secretismo de que essa fraternidade necessitava para conduzir os seus trabalhos transformou-se, ao longo dos séculos, numa forma corrupta de manipulação e controlo de poder, levando a que a dita fraternidade fosse absorvida pelos alienígenas. No seu sítio da Net, Icke alega que existem túneis secretos por baixo de cada loja maçónica, de maneira a facilitar as reuniões com os reptilianos.

Telefones Luciferinos
Estas histórias são reminiscentes da extravagante e muitíssimo popular fraude antimaçónica perpetrada em França, nas últimas duas décadas do século XIX, por Gabriel Jogand-Pagès, que escreveu sob o pseudónimo de Leo Taxil. Taxil começou a carreira literária como escrevinhador de panfletos anticlericais e evoluiu para autor de panfletos de pornografia anticlerical, tais como o título The Secret Love Life of Pope Pius IX. Também fundou a Liga Anticlerical, em 1881. Em meados de 1885 fingiu converter-se ao catolicismo e escolheu um novo saco de pancada: a Franco-Maçonaria. Passou a escrever propaganda antimaçónica para ser lida pelos católicos». In O Mito Maçónico, Jay Kinney, 2009, tradução de David Soares, Saída de Emergência, 2010, ISBN 978-989-637-176-0.

Cortesia de SEmergência/JDACT