segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Conspiração no Vaticano. GL Barone. «O presidente da Comissão para a Conservação do Santo Sudário caiu inanimado no chão. Morrera sem sequer perceber porquê: era o único com acesso aos códigos diários…»

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«(…) Passaram a seu lado e percorreram os poucos metros da abside até uma cancela em ferro, também ela coberta com um tecido orlado a ouro. Naquele ponto, Osios deixou cair ruidosamente o padre, ainda inconsciente, no chão da igreja. Recuperadas as ferramentas e o contentor, pôs-se a desaparafusar um painel em aço ao lado da cancela. Weistaler ligou o smartphone e inseriu o cartão micro SD que tinha recebido poucos minutos antes. A única luz que iluminava a catedral era a do visor do telefone móvel. Retirou do bolso da gabardina um cabo óptico e ligou uma extremidade ao telefone e a outra a um painel que entretanto tinha sido desmontado por Osios. Sabiam exactamente como agir, tinham feito dezenas de simulações ao computador e estudado todos os documentos disponíveis sobre os dispositivos de segurança que protegiam o Santo Sudário de pessoas como eles. O sistema baseava-se num duplo código de acesso: um bloco de leitura da retina e uma série de códigos de dezasseis números, alterados todos os dias.
Se algum dos códigos não fosse inserido correctamente, o alarme tocaria e a polícia chegaria à catedral em quatro minutos. Weistaler inseriu o código no teclado touch do Next M1, e o fluxo de bytes começou a correr sobre o microchip constante do painel. Naquele momento, Osios acordou o padre com uma bofetada. Onde estamos?, sussurrou com um fio de voz quando abriu os olhos em plena escuridão. Ninguém lhe respondeu, mas o homem foi levantado em peso e arrastado até à cancela. A sua cara foi apoiada com força contra um vidro gélido. Não se conseguia movimentar. Uma luz esverdeada leu a retina do padre e, um segundo depois de a cancela de vidro que protegia o Sudário começar a abrir, uma bala perfurou-lhe o cérebro.
O presidente da Comissão para a Conservação do Santo Sudário caiu inanimado no chão. Morrera sem sequer perceber porquê: era o único com acesso aos códigos diários e à programação da leitura da retina. Aquela tinha sido a sua sentença.
Osios e Weistaler entraram na capela. O Sudário estava guardado em posição horizontal numa urna de alumínio e vidro coberta com um amplo tecido branco adamascado. Antes de apoiar as mãos na vitrina, Weistaler foi quase acometido por um sentimento de arrependimento, mas que durou apenas um momento. Quando tocou no tecido branco e nas cortinas vermelhas que cobriam o invólucro, a sua missão tornou-se novamente clara.
Tuam Sindonem Veramum Et Tuam Recolimus Passionem, veneramos a tua imagem e meditamos sobre o teu sofrimento. O outro não se impressionou com a inscrição no tecido branco, retirou-o de rompante e atirou-o para o chão. Depois, começou a tentar abrir a urna. Sabia exactamente onde colocar as mãos, também tinha visto e estudado os seus projectos originais. Em catorze longos minutos, com extrema cautela, para terem a certeza de estarem a fazer as coisas da melhor forma possível, conseguiram abrir a vitrina e retirar o tecido sagrado. Weistaler pegou nele com cuidado e juntos colocaram-no no contentor de alumínio com cerca de dez centímetros de altura e pouco mais de sessenta de comprimento.
Não olharam mais para trás e, antes de sair da catedral, Osios abandonou um objecto metálico no corpo do padre que estava deitado numa posição pouco natural junto ao altar central.
                             
O jipe seguiu pela rampa que levava à garagem do Banco Nacional de Ivrea e desceu a pouca velocidade. Quase no mesmo instante, a poucos quilómetros de distância, o presidente da Comissão para a Conservação do Santo Sudário caía inanimado com uma bala calibre .9 cravada no cérebro. A maleta, que tinha sido entregue poucos minutos antes a Henkel, havia sido zelosamente arrumada no lugar do passageiro. A sede do banco, de concepção futurista e acabada de construir, localizava-se fora da cidade. Era um paralelepípedo cinzento de cinco andares com grades nas janelas e um único acesso à garagem da cave. Um búnquer à prova de bomba, e de ladrões. O automóvel de Andreas Henkel não havia demorado mais do que trinta minutos a lá chegar: o trânsito da noite avançada não o tinha obrigado a abrandar a marcha do seu veículo. A cidade estava semideserta». In GL Barone, Conspiração no Vaticano, 2013, Casa das Letras, 2013, ISBN 978-972-462-197-5.
                                                              
Cortesia de CdasLetras/JDACT