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«Quando nos debruçamos sobre a leitura dum mapa da região de São Mamede
de imediato comprovamos que a cidade de Portalegre se encontra num cruzamento
de caminhos importantes que dela se afastam para Norte (Marvão e Castelo de
Vide), para Poente (Fortios, Alpalhão, Alter, Nisa, Crato) e para Sul (Monforte,
Arronches, Alegrete) e que, para Nascente, a Serra de São Mamede, com a sua cumeada
orientada de noroeste para sueste, que é também a orientação da nossa fronteira
com a Espanha, parece ter impedido o aparecimento e o desenvolvimento de qualquer
povoação importante nessa direcção e que ela constitui como que uma muralha natural
que isola Portalegre da outra aba da Serra. De resto, se atentarmos com mais
demora, reparamos que Marvão, Castelo de Vide, Alpalhão, Crato, Monforte, Arronches,
Campo Maior e Alegrete se dispõem segundo um arco de circulo que vem de Norte,
a Poente e a Sul e que estas povoações distam uns 20 - 25 kms de Portalegre.
Ora, essa é a distância que, acompanhado ou não de muares, a pé ou em carruagem
de tracção animal, se costuma percorrer durante um dia solar.
E se depois fomos analisar as curvas de nível da Serra e da região de
Portalegre, verificamos que, além de não existir nela nenhum povoado importante,
de facto a Serra de são Mamede tem a configuração de uma robusta muralha
natural definindo uma zona geológica, geográfica, c1imática, cultural e
histórica própria. No seu declive, já muito próximo da cidade de Portalegre essa muralha foi reforçada
por um forte castelo quadrangular, infelizmente abandonado e nunca estudado,
que é o Atalaião, que parece vigiar as terras vizinhas da Espanha e do qual se
domina a planura que se estende para Oeste e para Sul e do qual se avista maís
duma dezena de povoações importantes, antigas e actuais: Abrantes, Montalvão,
Alter, Nisa, Crato, Estremoz, Monforte, etc.
E se em seguida percorrermos as calçadas das ruas estreitas e tortuosas
da velha Vila e assim medirmos o perímetro dos muros da defesa fechada a mando
do rei Dinis I em 1920, logo concluímos que encontrámos uma povoação
tipicamente moçárabe e que, como tal, parece querer continuar. Além da muralha
extensa que a cerca, apercebemos que a vila depressa se prolonga para os
arrabaldes que transbordaram para lá das suas portas mas, neste aspecto, das
portas que estão viradas para a Serra. E que a Vila desde sempre esteve
profundamente ligada à serra.
O arrabalde da Devesa ou do Rossio, que é actualmente o arrabalde mais antigo,
desce desde o largo das igrejas, que é boje o largo da Sé, onde nasce uma longa
rua direita que passa por debaixo do arco dessa Porta da Devesa, a porta que é
a insígnia da cidade, e que vem terminar no local onde todos os caminhos se
encontram, o Rossio, local ameno, frondoso, rico de água, convidativo ao
repouso do caminhante. Junto à porta de Alegrete fica o arrabalde do Corro ou
de S. Francisco onde ainda no século XIII se edificou o convento dos frades
mendicantes (1229) que, como sempre, foi construído fora dos muros. A porta do
Postigo, aparentemente de menor importância, está virada para a Serra e para a
ermida de S. Cristóvão, o orago dos caminhantes, dá passagem aos moradores da rua
do Cano, da rua dos Clérigos, da Corredoura e da Mouraria». In Caria Mendes, Notas
acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de Geografia Humana, Faculdade de
Medicina de Lisboa, Actas do I Encontro da História Regional e Local, Setembro
de 1987.
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