domingo, 6 de maio de 2012

Senhor Jesus dos Aflitos. Origens (1713 - 1845). Fortios. Portalegre. «Com a luz do “Documento 21”, tentei penetrar neste “silêncio”, que tem escondido o “facto”, nas origens. Até aos nossos dias, o “silêncio” sobre o “facto inicial” era quebrado apenas pelas “lendas”, que recolhi junto de pessoas ligadas ao lugar…»



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In Memoriam de MLAC

O silêncio dos primórdios. O facto e a lenda.
«Até hoje, com base em documentos, em relação à origem da devoção ao “Senhor Jesus dos Aflitos”, não foi possível recuar além do período de l713 - 1720. Por estes anos, é-nos atestado o “facto”. O que eventualmente esteve para trás permanece envolvido no “silêncio”. Com a luz do “Documento 21”, tentei penetrar neste “silêncio”, que tem escondido o “facto”, nas origens. Até aos nossos dias, o “silêncio” sobre o “facto inicial” era quebrado apenas pelas “lendas”, que recolhi junto de pessoas ligadas ao lugar, porque os documentos do arquivo da confraria, aos quais agora dou vida, permaneceram adormecidos e esquecidos noutro silêncio e sono prolongados.
A lenda deve ser compreendida como um “género literário” próprio para transmitir ou explicar dados realmente históricos, cujos traços exactos, na sua origem, ficaram sepultados na obscuridade da noite e da distância no tempo. Não se trata de ‘patranhas’ inventadas, mas de “história” bem real, cujos contornos escaparam a quem os vive agora e que quem a viu nascer nunca pensou em legar aos vindouros senão pela própria vivência. É o facto que explica a lenda e não a lenda que cria o facto.
Só o facto, fosse ele qual fosse, embora envolvido no silêncio, explicava as manifestações indesmentíveis de fé e de religiosidade popular, em que gerações e gerações de peregrinos participavam. E estas, à medida que o cordão umbilical mais se estendia, distanciando-se da origem, por necessidade natural, apresentaram explicações plausíveis e compreensíveis de todos, impregnadas de roupagem valiosa, mas não histórica. Para tais gerações, o importante não era a roupagem, mas sim o “facto” que, ano após ano, tinham diante dos seus olhos. É isto a lenda.
O conteúdo nuclear da lenda deve ser tido em conta; é assunto que “deve ser lido”». In Bonifácio Bernardo, Senhor Jesus dos Aflitos, Origens 1713 – 1845, Edições Colibri, 2000, ISBN 972-772-145-1.



Cortesia de Ed. Colibri/JDACT