Cortesia de ediouro
Nascimento da Ordem
«Ao tratarmos da notável
história dos Templários é necessário que se compreenda a Idade Média no século
XI, no tempo das Cruzadas. O homem medieval era essencialmente religioso e, na
Europa Ocidental, um fiel servidor de Deus e da Igreja. Embora estivesse sob o
domínio do Senhor Feudal, esse homem não se autodefinia como um inglês, francês
ou alemão, mas como cristão, tão grande era o domínio universal da fé.
Como as nações ainda não existiam, não poderia existir também igrejas
nacionais. Para a Igreja Romana, as Cruzadas representaram a expansão do
cristianismo. O combate ao infiel muçulmano e a reconquista da Cidade Santa de Jerusalém
foram incentivados pela Igreja. O papa Urbano II estava preocupado com os
ataques e molestamentos dos cristãos que eram oprimidos ao se dirigirem à
Cidade Santa. Exortou-os, então, a lutarem contra os inimigos de Cristo e prometeu
a todos os que se empenhassem nessa causa a concessão de indulgências. O uso da
violência incentivado pelo Papa foi defendido por São Bernardo, abade de Clairvaux,
o qual refutou as críticas dos clérigos ortodoxos, segundo as quais o
derramamento de sangue era vedado àqueles que desejassem ingressar em ordem
clerical. Eis a sua exortação dirigida aos Cavaleiros do Templo:
- Na verdade, os cavaleiros de Cristo travam as batalhas para seu Senhor com segurança, sem temor de ter pecado ao matar o inimigo, nem temendo o perigo de sua própria morte, visto que causando a morte, ou morrendo quando em nome de Cristo, nada praticam de criminoso, sendo antes merecedores de gloriosa recompensa. Assim, sendo, por Cristo! E então, Cristo será alcançado. Aquele que em verdade, provoca livremente a morte de seu inimigo como um ato de vingança mais prontamente encontra consolo em sua condição de soldado de Cristo. O soldado de Cristo mata com segurança e morre com mais segurança ainda. Serve aos seus próprios interesses ao morrer e aos interesses de Cristo ao matar! Não é sem razão que ele empunha a espada! É um instrumento de Deus para o castigo dos malfeitores e para a defesa do justo. Na verdade, quando mata um malfeitor, isso não é um homicídio, mas um malicídio [sic] e ele é considerado um carrasco legal de Cristo contra os malfeitores.
Urbano II, 1099
Cortesia de wikipedia
Com essa doutrina, as
célebres Cruzadas passaram a ser apoiadas por todos os líderes máximos da
Igreja contra os infiéis muçulmanos. Existia na Idade Média uma ideia de
bravura que vinha directamente de ordens religiosas como as dos Jom-Vikings, cuja
disciplina era mantida à custa de mil provações e tinham como maior
ambição a morte em combate. Corroborando essa ideia, a Igreja tentou incuti-la
em seus fiéis. Um guerreiro cristão deveria ser piedoso, afável, solícito e
preferir a morte à desonra, porque esta carecia de defesa própria. Votos de
castidade, bênção de armas e promessas de descanso eterno, caso morressem na defesa
de um ideal, eram algumas das indulgências concedidas ao cavaleiro cristão. O
Papa Gregório VII criou, até mesmo, um exército papal chamado Militia Sancti
Petri, com o objectivo de disputar uma guerra santa.
Quando em 1099, os
cavaleiros das cruzadas reconquistaram Jerusalém, a Cidade Santa por excelência,
bem como outros lugares santos, em regiões próximas ao Oriente, numa guerra
sangrenta, na qual setenta mil pessoas morreram e que durou três dias,
recobrou-se a fé cristã. Conforme relato de um cronista muçulmano, esse
massacre aconteceu na mesquita de al-Aqsa, na qual suas vítimas eram "imãs
e estudantes muçulmanos, homens devotos e ascetas que abandonaram suas terras
de origem para viverem na Terra Santa em piedade e reclusão". Desde então,
deram-se início as conquistas religiosas, por meio de armas, por todo o
Oriente. E isso só foi possível por causa do papa Urbano II, mentor fundamental
dessa estratégia, ao solicitar a defesa intransigente da cidade de Jerusalém.
Em 1100, Balduíno I sucedeu ao seu irmão, tornando-se rei e senhor da Cidade
Santa. Havia o perigo constante exercido pelos muçulmanos em promover novas
guerras e invasões a Jerusalém e ataques aos peregrinos que se dirigiam a ela.
Com o sistema de arrecadação de tributos desestabilizado, todo o sistema de
defesa existente enfraqueceu-se.
A reconquista cristã
Cortesia de wikipedia
Havia cerca de
quatrocentos anos que o reino tentava se libertar do domínio muçulmano, mas,
devido a todos esses factores negativos, nunca o território fora considerado
totalmente cristão. Durante os anos seguintes, vários conflitos irromperam em
locais que se mantiveram em permanente alerta, a fim de defenderem as
possessões que, de repente, podiam ser conquistadas pelo inimigo. Mesmo as mais
imponentes fortalezas não resistiram às vagas sucessivas de exércitos sedentos
de vingança. Jerusalém estava isolada ao redor de territórios controlados pelos
mouros e se tornara cobiçada por causa da sua importância histórico-religiosa,
que, mesmo durante o domínio muçulmano, nunca deixara de ser o local preferido
de peregrinação cristã». In Pedro Silva, História e Mistérios dos Templários,
Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, ISBN 85-00-00757-5, PDF.
Cortesia de
Ediouro/JDACT