terça-feira, 1 de maio de 2012

Castelo de Vide e Marvão num Manuscrito Anónimo do Século XVIII. Jorge de Oliveira. «A forma como se encontra elaborada a descrição de Castelo de Vide e especialmente o parágrafo introdutório, não se afasta, igualmente, das descrições feitas pelos párocos nas célebres Memórias Paroquiais»



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«Há já alguns anos fomos alertados pelo nosso colega José Olívio Caeiro para existência na Biblioteca Pública de Évora de um manuscrito que descrevia Castelo de Vide e igualmente fazia referências a Cidade Romana de Ammaia e a Marvão.
Com relativa facilidade encontrámos o referido manuscrito na inesgotável fonte de informação que é a "Sala dos Cimélios" daquela biblioteca. Pela forma como se encontra preservado e pelo tipo de letra, Parece já não se tratar do documento original, mas de uma cópia elaborada posteriormente.
Embora não se encontre assinado, nem datado, nem incluído na correspondência dirigida a Fr. Manuel do Cenáculo Vilas Boas, Bispo de Beja e posteriormente Arcebispo de Évora, poderá, sobretudo pela forma como se encontra redigido, corresponder a uma das muitas permutas epistolares trocadas entre aquele erudito prelado e algum clérigo, de letra grossa, de Castelo de Vide. Basta uma simples leitura por algumas das cartas dirigidas a Fr. Manuel do Cenáculo para encontrarmos algumas semelhanças com o documento agora em apreciação. Outra hipótese poderá ser colocada. A forma como se encontra elaborada a descrição de Castelo de Vide e especialmente o parágrafo introdutório, não se afasta, igualmente, das descrições feitas pelos párocos nas célebres Memórias Paroquiais. Embora desconheçamos o autor e data da sua redacção, pela letra e pelas informações que contém, poderemos posicionar a elaboração deste interessante documento na segunda metade do século XVIII. Não deixa de ser perturbadora a forma como o autor do texto descreve as relações existentes entre as gentes de Castelo de Vide e os vizinhos castelhanos, onde os episódios de fronteira são bem evidenciados. Igualmente bem evidenciada é a amenidade do clima e paisagem que claramente se opõe ao tratamento dado pelos castelovidenses dessa época aos do lado de lá da raia. Algum fundamento terá a expressão que um actual filho adoptivo de Castelo de Vide nos ensinou sobre esta vila: "Castelo de Vide é uma colmeia muito bonita…” Seguramente essa era a opinião dos castelhanos que acabaram os seus dias nas covas que os de Castelo de Vide abriram nas suas casas, como nos relata este documento intitulado "Antiguidades e algumas notabilidades da Villa de Castelo de Vide e seu Termo" e que se guarda na Biblioteca Pública de Évora com a cota: Cod CIV/1-4 d. a fl 278.
Pela importância que assume para a História do Nordeste Alentejano parece-nos, perfeitamente justificável a publicação deste interessante documento.
Transcreve-se integralmente o manuscrito, sem qualquer correcção de texto, ou desdobramento de abreviaturas.

ANTEGUIDADES E ALGUAS NOTABILIDADES DA VILLA DE CASTELO DE VIDE E SEU TERMO
Como ordinariam-te, as cousas que se escrevem das origens, e aanteguidade de alguns Lugares se tenhão pellos que as tem por fabulozas; Tratei buscar origem desta Villa de Castello de Vide, e suas notabilidades por innumeraveis papeis, pera me liuar da calunia de fabulozo; e pera que esta escriptura tivesse nome de verdadeira. Mas como nossa Lusitania fosse nos principios tam pouco pulida, e menos curiosa de escripturas não só menos deixou de escrever a origem, e principio de suas cousas notaveis; mas ainda suas vertudes, e obras escritas; que não somente podião dar Lustre a ella; mas a todos os Reinos que della tem algua dependencia, como essa causa fosse de se porem muitas cousas dignas de memoria com esquecimento; assim as dos principios desta villa; estão detal maneira, que senão pode achar cousa de que peguar salvo per tradiçoens, que dos velhos alcanço e como taes as vendo; o credito se lhes pode dar como à seus tradições». In Jorge de Oliveira, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.

continua
Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT