segunda-feira, 7 de maio de 2012

Artes e Ofícios Tradicionais relacionados com o Castanheiro e com a Castanha. Henrique Videira. «A cestaria do castanho, designadamente as cestas e canastras, constituem peças do património cultural de Marvão, não só pelo seu valor artístico, […] e à qual estão associadas outras formas locais contemporâneas ligadas à castanha e ao castanheiro»



Cortesia de canasecestos e marvao

Enquadramento Teórico
«Ao abordar o tema das artes e ofícios tradicionais relacionados com o castanheiro e a castanha, é importante lembrar alguns conceitos gerais e características principais associadas ao artesanato, ao artesão e ao castanheiro.
O artesanato não encerra em si uma definição objectiva e formal, existindo várias interpretações, como resultado do seu carácter abrangente. Contudo, aceita-se como fundamental da actividade artesanal, a transformação de matérias-primas em objectos, com recurso a um “saber-fazer tradicional”, no qual se conjugam o conhecimento empírico, a competência, a habilidade, a mestria e o sentido estético.
O artesão possui este “saber-fazer” e transmite aos seus produtos o seu cunho pessoal, permitindo a identificação de diferentes estilos e expressões culturais dentro da mesma forma de artesanato. De acordo com a legislação portuguesa, (…) "considera-se artesão o trabalhador que, isoladamente, em unidade de tipo familiar ou associado, transforma matérias-primas e produz ou repara objectos, ao qual se exige um certo sentido estético e habilidade ou perícia manual, podendo, no entanto, usar máquinas como auxiliares de trabalho, […]".
As matérias-primas principais utilizadas pelos artesãos ligados a artes e ofícios tradicionais, são o castanheiro e a castanha. No concelho de Marvão, a existência de castanheiros e de castinçais, perde-se no imemorial dos tempos. Mas constituirá o artesanato e, nomeadamente, a cestaria de castanho, património cultural? Sim!
A expressão património cultural abrange um conjunto de situações praticamente ilimitadas. Com efeito, é hoje usual dizer que tudo é “cultural”.
  • Constitui património cultural o conjunto de objectos executados em pedra, em madeira, em ferro, em tecido, em tela, em betão, em vidro, em faiança em muitos outros materiais e que, dotados de valor formal, cromático, plástico, compositivo, técnico ou iconográfico, constituem, além disso, testemunhos da vida colectiva do povo português ao longo de séculos através de um itinerário por vezes muito difícil.
 O património cultural não se restringe ao conjunto de monumentos arquitectónicos, podendo ser definido de acordo com critérios mais latos que incluam os costumes ligados às fainas produtivas, os instrumentos de trabalho, e as múltiplas manifestações culturais e artísticas. Este conceito está dependente daquilo que se entende por cultura, distinguindo-se dela por especificar elementos, objectos ou formas que possuem um significado e consideração particular.
  • A cultura é entendida como um "conjunto de modelos comportamentais, de usos e costumes, de instrumentos e de objectos, usados por uma população geralmente confinada a um espaço geográfico definido".
É usual, para facilitar a compreensão, classificar a cultura como cultura erudita e cultura popular. Da cultura erudita fariam parte as "artes nobres", nomeadamente a pintura, a escultura, a arquitectura urbana, a música, a dança, o teatro e o cinema. A cultura popular, que para muitos é sinónimo de fácil, vulgar, inferior ou até mesmo ordinário e para outros, pelo contrário, é tudo aquilo que corre entre o povo, de forma viva, funcional, fazendo parte das suas necessidades diárias, aliado ao trabalho, à festa e ao lazer, constituindo manifestações de alegria e de dor, de crenças, de necessidades colectivas, ligadas à faina diária, pertenceriam as "artes menores" onde podemos incluir os usos e costumes sociais, as tradições sociais e religiosas, as superstições e crenças, a medicina popular, as práticas mágicas e bruxaria, as danças e jogos populares, a culinária, o artesanato e objectos de uso diário, os trajes populares, etc.
O património cultural distingue-se por especificar numa determinada cultura alguns elementos, alguns objectivos e algumas formas consideradas particularmente significativas, recebendo por isso uma consideração especial.
A cestaria do castanho, designadamente as cestas e canastras, constituem peças do património cultural de Marvão, não só pelo seu valor artístico, mas porque nos explicam uma forma de trabalho existente no concelho em determinado período, e à qual estão associadas outras formas locais contemporâneas ligadas à castanha e ao castanheiro. O valor das cestas e canastras como peças patrimoniais estão na sua capacidade de testemunho de elementos simbólicos, de instrumentos pedagógicos. É uma forma de cultura, porque se baseia numa realidade precisa e concreta, resultante de um processo histórico e os seus elementos têm relações múltiplas e explicam-se e completam-se uns aos outros. A coerência interna da cultura como um todo é apenas relativa, na medida em que não é fixa nem imóvel, mas constitui uma realidade dinâmica.

Cortesia de pdevalongo

Poderemos entender a cultura como um "conjunto de modelos de comportamentos, de usos e costumes, de instrumentos e objectos, usados por uma população, geralmente confinada num espaço geográfico definido".
A cultura e o património cultural marcam a identidade de um povo. Para evitar que esta identidade se perca, considerando a vulnerabilidade e mutabilidade a que está sujeita, é necessário promover a defesa e preservação do património cultural. Não restando dúvidas que o artesanato do castanho é um valor cultural que faz parte do património cultural dos marvanenses.
De um modo geral, para preservar um determinado património cultural, é usual seguir um percurso que passa por promover e divulgar o conhecimento desse património, pela promoção do seu uso e por uma acção de educação e promoção da consciência e utilização desse património». In Henrique Videira, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.

Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT