terça-feira, 22 de maio de 2012

A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. F. Engels. «Porém, com o início da barbárie atingimos um estádio no qual se impõe a diferença de condições naturais entre os dois grandes continentes. O momento característico do período da barbárie é a domesticação e criação de animais e o cultivo de plantas»



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A propósito das investigações de L. Morgan.
Estádios pré-histróricos da civilização. Barbárie
«Estádio inferior. Data da introdução da cerâmica. Esta surgiu, conforme se pode demonstrar em muitos casos e é provável que tenha sido em toda a parte, a partir da cobertura de vasos, entrançados ou de madeira com barro, para os tornar resistentes ao fogo, com o que a breve trecho se descobriu que o barro moldado também cumpria a função sem o vaso interior.
Até aqui pudemos observar o curso do desenvolvimento de uma forma totalmente geral, válida para um determinado período de todos os povos, independentemente do lugar. Porém, com o início da barbárie atingimos um estádio no qual se impõe a diferença de condições naturais entre os dois grandes continentes. O momento característico do período da barbárie é a domesticação e criação de animais e o cultivo de plantas. Ora o continente oriental, o chamado Velho Mundo, possuía quase todos os animais passíveis de domesticação e todos os tipos de cereais cultiváveis, excepto, um; o ocidental, a América, dos mamíferos domesticáveis só tinha o lama, e mesmo este só numa parte do Sul, e de todos os cereais de cultivo só tinha um; mas o melhor: o milho. A diferença destas condições naturais levou a que, a partir de então, a população de cada hemisfério seguisse o seu caminho particular e a que os marcos distintos nas fronteiras entre cada estádio fossem diferentes em cada um dos dois casos.

Estádio médio. Começa, no Leste, com a domesticação de animais e, no Oeste, com o cultivo de plantas alimentícias por meio da rega e com o uso de adobe (tijolos secados ao sol) e pedra nos edifícios.
Começamos com o Oeste, pois aí este estádio em lugar nenhum foi ultrapassado até à conquista pelos europeus.
Entre os índios do estádio inferior da barbárie (ao qual pertenciam todos os que foram encontrados a leste do Mississípi) já existia, ao tempo da sua descoberta, um certo cultivo hortícola de milho e talvez também de abóbora, melão e outros produtos hortícolas, que constituíam uma parte muito essencial da sua alimentação; viviam em casas de madeira, em aldeias com paliçadas. Às tribos do Noroeste, particularmente as da região do rio Colúmbia, encontravam-se ainda no estádio superior da selvajaria e não conheciam nem a cerâmica nem o cultivo de plantas de espécie nenhuma. Os índios dos chamados “pueblos” no Novo México, pelo contrário, os mexicanos, centro-americanos e peruanos do tempo da conquista encontravam-se no estádio médio da barbárie; viviam em casas-fortalezas de adobe ou pedra, cultivavam em hortas irrigadas artificialmente o milho e outras plantas alimentícias, conforme a localização e o clima, que constituíam a principal fonte de alimentação, e tinham mesmo domesticado alguns animais: os mexicanos o peru e outras aves, os peruanos o lama. Além disso, conheciam o trabalho dos metais, com excepção do ferro, razão pela qual não conseguiam ainda dispensar as armas de pedra e instrumentos de pedra. A conquista espanhola cortou então todo o desenvolvimento autónomo ulterior.
No Leste, o estádio médio da barbárie começou coma domesticação dos animais que davam leite e carne, enquanto o cultivo de plantas parece ter aí continuado desconhecido até muito adentro deste período. A domesticação e criação de gado e a formação de grandes rebanhos parecem ter dado azo à separação dos árias e semitas em relação à restante massa dos bárbaros. Os nomes dos animais são ainda comuns aos árias europeus e asiáticos mas o mesmo quase não acontece em relação aos nomes das plantas cultivadas». In F. Engels, A origem da Propriedade Privada e do Estado, Editorial Presença, Colecção Síntese, 1976.

Cortesia de Presença/JDACT