quinta-feira, 3 de maio de 2012

Castelo de Vide e Marvão num Manuscrito Anónimo do Século XVIII. Jorge de Oliveira. «Pela importância que assume para a História do Nordeste Alentejano parece-nos, perfeitamente justificável a publicação deste interessante documento. Transcreve-se o manuscrito, sem qualquer correcção de texto, ou desdobramento de abreviaturas»


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ANTEGUIDADES E ALGUAS NOTABILIDADES DA VILLA DE CASTELO DE VIDE E SEU TERMO
«Contasse que vindo hu capitam Romano; outros dizem, que era Mouro, que se chamava o Capitam Bide acunquistar hua cidade per nome Armenia; que então se chamava Medrobigua; que esta meia legua da Villa de Castello de Vide lhe pos serco o dito capitam, e os de dentro lhe pedirão tres dias pera se resolverem e de noite se passarão com suas trouxas, a hu monte alto cercado de penhas desamparando a cidade sendo sabedor o Capitam, e dizendo lhe pera onde seavião recolhidos disse deixaios ir, que mal vão; querem dizer os traditores, que daqui se corrompeo a palavra; donde agora se vem a chamar a Villa de Marvão, que esta naquelle mesmo sitio, e se disser da propria gente, que fugio edificada.
Mas não sedevia desta palavra tomar o nome a villa de Marvão; e paresse que o devia tomar por currupção do nome da Cidade desamparada, que se chamava Mirobriga; ou Medrobriga; Consta do Bispo frey Amador Araes dialogo.3. cap.8. que esta cidade, era hu'a dos trinta lugares stipendiários a Roma, que auia na nossa Luzitania.
Esta cidade seavirigua ser muito grande e populosa; e suas ruinas mostrão ser de dous mil vezinhos esta junto a serra de Armenia, onde esta adita villa de Marvão; e he tão inexpugnavel, que deficultosamente se pode combater; estameya legua da Raia de castella; há quem deuide o Rio Seuer.
O Capitam Bide vendo a Cidade desamparada apos por terra; e hateve de querer conquistar aos acolhidos aserra mas não opode lazer pella fragosidade della; e pera continuar com aguerra lhe foi necessario chegarse a hu serro meia legua da serra de Armenia, que era termo de Maruão; porque naquelle serro acedeficou o Capitam Bide fazendo aquelle castello, por onde se chama castello do Bide.
Outros disem, que se deue chamar Castello da vide porque onde seedificou estaua hua vide, e pera isso trazem per rezão que hua pedra que estava emcimada porta principal do Castello, tem as armas del Rey Dom Dinis cerradas com hua uide; e que tam bem as cadeiras dacamara; o Castello acabou de fazer El Rey Dom Dinis, que não estava acabado, eperessa resão lhe puserão as suas armas, alem de que secustumava em todas as fortalezas por as armas dos Reis daquelle Reino posto quescião fabricadas com expensos do Povo.
Castello esta em hu alto, e por toda aparte vay fundado muro em rocha viva scabrosa, edesubir muito dificultosa, tem dentro de si sento e sincoenta miradores ecapax demorarem nelle trezentos, tem sinco rebelins, edaparte dozul tem hua fermosissima torre degrande altura, ede excessima Largura; junto aella estão as cazas onde mora o alcaide mor quetem hu pateo tem hu pozo demais de des braças de altura aq chamam alüacara, e semptretemagua viva.
Este castello pella parte dosul tem muralhas em barbacans.
Os arebaldes desta villa forão crescendo em grnde maneira desorte que tem adita villa mais de mil setecentos vezinhos onde ha alguns homens bem afazendados ecazas grandiozas.
Nos deredores della ate meio quarto delegua paresse seesmeriu anaturesa esecolhendo ositio mais apprasivel pera os homens que imaginarse pode, e deleitosa avista, que paresse não ha mais que de seiar.
Esta cercada de duas ribeiras atiro de arcabuz hua sechama ademilrisa, con muitos engenhos demoinhos, e lagares, einumeraveis ortas, epomares, etanta frescura, que overão ali paresse hua alegre, etemperada primavera nesta ribeirase vão meter muitos regatos, que nasem de hua serra, que tem per parte do Sul, enas faldas della muitos castiheiros de que os mores colhem os fruitos, esta seuay meter norio seuer, que deuide os Reinos da hi duas leguas evay já la Largura eespaciosa». In Jorge de Oliveira, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.


Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT