quarta-feira, 23 de maio de 2012

Judeus e Cristãos Novos no distrito de Portalegre. Maria Ferro Tavares. «Manuel I comprometera-se no édito de expulsão das minorias judaica e moura a indemnizar os beneficiários destas rendas e direitos. Assim o fez utilizando para isso as sisas, dizimas e direitos dos almoxarifados»



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«Em 1458, Salomão Maçoude, ferreiro fazedor de armas, obtinha deste monarca a isenção de pagamento de direitos reais e de impostos à comuna, da prestação de serviços a esta, além da isenção de aposentadoria. Mestre Moisés Tobi, físico, Judas Tobi, discípulo nesta arte, mestre Vidal, cirurgião e Isaac Francês, também cirurgião recebiam autorização para se poderem deslocar em besta muar de sela e freio.
Elvas destacava-se sem dúvida na região, seguindo-se-lhe Castelo de Vide, Arronches, Fronteira, Crato e Portalegre apenas com um. Na sua generalidade eram físicos ou cirurgiões e mercadores. Mais raros eram os privilégios concedidos a artesãos.
Pelo que conhecemos, podemos dizer que eles se identificavam também com a oligarquia, como rabi Sad, rabi José Amigo, servidor de Afonso V, mestre Abraão, físico e cirurgião e rabi em 1475-78 ou Salomão Penço, físico e rabi em 1486, em Elvas.
Os judeus destas comunidades, à semelhança do seus correligionários, pagavam anualmente ao rei o serviço real. No final de trezentos e no início de quatrocentos, João I acrescentar-lhes-ia o serviço novo das 300 000 libras e a peita ferreira para os ferreiros de Ceuta. Além destes, contribuíam nos tributos extraordinários, como os pedidos e empréstimos ao rei.
Ignoramos a totalidade do valor do serviço real, velho e novo, e das rendas das judiarias da região em questão. Os cálculos conhecidos não são os totais, na sua generalidade, pois só sabemos a quantia dos direitos reais doada e não a sua soma o que leva a certos paradoxos como, por exemplo, a superioridade do total conhecido da comuna de Olivença, sobre a de Évora, sendo esta a segunda comunidade do reino.
O rei João I desenvolveria a prática já incipientemente iniciada por seu irmão da doação aos seus servidores dos direitos reais das comunas do reino. Em 1384, o serviço e cabeças dos judeus de Elvas eram concedidos a Gil Fernandes, escudeiro e, o serviço real de Avis a Rodrigo Afonso, criado do Mestre de Avis. Em 1390, as cabeças e serviços de Elvas passavam para Fernão Lopes de Abreu e as rendas da judiaria, em 1390, eram doadas a Álvaro Gonçalves, alcaide da vila. João Falcão, cavaleiro da casa do infante Pedro, recebia em 1433 o serviço novo das comunas de E1vas, Campo Maior e Juromenha o qual seria confirmado por Afonso V em 1450. O mesmo fidalgo obteria, em 1436, o direito do genesim de Elvas. O serviço real desta comuna era doado pelo rei Duarte I a Gonça1o Rodrigues de Abreu. Os direitos reais dos judeus do almoxarifado de Portalegre, com excepção do serviço novo que reverteria para o rei, caberia a Gonçalo de Sousa, fidalgo da casa do infante Henrique e alcaide do castelo de Marvão, etc. etc..
Desconhecemos o seu quantitativo global e até a sua evolução, ao longo do século XV. À data da expulsão, a comuna de Portalegre beneficiava dois fidalgos: Diogo da Silva de Meneses, usufruidor de 61.066 reais e 7 pretos das rendas da judiaria, e João Tavares, cavaleiro da casa real e recebedor de 25.256 reais do serviço novo desta comuna. Jaime, duque de Bragança e Afonso Vasques de Brito, conselheiro do rei e seu caçador mor, usufruíam as rendas da judiaria de Sousel, no valor de l5.660 reais. Àquele pertenciam ainda as rendas da judiaria de Alter, avaliadas em 6500 reais. As rendas da judiaria de Castelo de Vide pertenciam a Duarte de Me1o, alcaide-mor da vila e valiam 14.200 reais. Campo Maior rendia a Rui Gomes da Silva, fidalgo e seu alcaide-mor, a quantia de 11.493 reais. João Gomes tinha as rendas da judiaria de Alegrete, no valor de 8000 reais. O genesim dos judeus de Cabeço de Vide pertencia a Brianda do Carvalhal, ama da rainha Leonor. Rui de Abreu, alcaide-mor de Elvas, recebia as rendas das judiarias de Elvas, Juromenha e Vila Boim, ro valor de 113.333 reais.
Manuel I comprometera-se no édito de expulsão das minorias judaica e moura a indemnizar os beneficiários destas rendas e direitos. Assim o fez utilizando para isso as sisas, dizimas e direitos dos almoxarifados. O total gasto com as judiarias da actual região de Portalegre orçou os 275.013 reais aproximadamente». In Maria Ferro Tavares, Judeus e Cristãos Novos no distrito de Portalegre, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Acta do I Encontro da História Regional e Local, Setembro de 1987.


Cortesia da FCSHUNL/JDACT