quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Bela Poesia. Almeida Garrett. «... Auzenda de gosto chora, e abençoa a feliz hora em que tanto amor nasceu. A seus nobres aposentos Adozinda retirada, com permissão outorgada»


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In Memoriam de JLT

Cantiga Segunda

I
 Oh! Que alegrias que vão
pelos Paços-de Landim!
Que magníficos banquetes,
que sumptuoso festim!
Junto ao valente campeão,
a cabeceira da mesa
ficou a bela Adozinda.
A tão celeste beleza
estão todos admirando;
e o embevecido Sisnando
não se farta de abraçá-la,
de beijar filha tão linda.
Auzenda de gosto chora,
e abençoa a feliz hora
em que tanto amor nasceu.
-.Inda bem, diz que a rudeza
de tanto lidar com armas
à inocência, à beleza
da amada filha cedeu!'
Ela às carícias paternas
já não ousa de esquivar-se,
cora, mas deixa abraçar-se:
vê-se que tantos afagos
a repugnância venceram
Da timidez natural.
- Ou, se outra causa fatal,
mais encoberta ela tinha...
Ao menos lha adormeceram.

II
Já de esquisitos manjares
os convivas saciados,
de folias e cantares
pajens, donzelas cansadas,
e dos brindes amiudados
finda a primeira alegria,
doce repouso pedia
quando esta noite em Landim
velou em baile e festim.
A seus nobres aposentos
Adozinda retirada,
com permissão outorgada.
- A custo - do pai, se foi.
Auzenda, em grave cortejo
de suas damas rodeada
deixou há muito o festejo,
e em seu camarim deitada
espera o momento ansiosa
em que a sós a amante e a esposa
nos braços de Dom Sisnando
Se hão-de em breve confundir.

Poema de Almeida Garrett, in ‘Romanceiro’

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