sábado, 8 de dezembro de 2012

FCG. A Matemática, o Universo e tudo o Resto. Jorge Buescu. «… para além do seu trabalho de investigação científica, sempre teve o prazer de comunicar as ideias da Matemática. Nesta conferência vai falar do aparente equívoco que é a ausência da Matemática no nosso quotidiano»

jdact e cortesia de wikipedia

«As últimas conferências do ciclo Matemática, a Ciência da Natureza chegam no final deste ano. Na despedida, falar-se-á de como a Matemática, muito mais do que tratar de números, trata acima de tudo de ideias, que continuarão a ser fundamentais para transformar a nossa maneira de estar no mundo. A 12 de Dezembro pf, chega a última conferência deste ciclo com o tema “A Matemática, o Universo e tudo o Resto”. O orador é Jorge Buescu, da Universidade de Lisboa, que, para além do seu trabalho de investigação científica, sempre teve o prazer de comunicar as ideias da Matemática. Nesta conferência vai falar do aparente equívoco que é a ausência da Matemática no nosso quotidiano. “Ninguém precisa de resolver uma equação para falar ao telefone, ouvir um CD, trabalhar com o computador ou pesquisar a internet”, diz Jorge Buescu. No entanto, “todo este admirável mundo novo seria impossível sem matemática sofisticada e muitíssimo avançada.” Parafraseando Douglas Adams, “a Matemática molda a forma como olhamos para a Vida, o Universo e tudo o resto”. A conferência realiza-se no Auditório 2, às 18h, com entrada livre». In FCG, Newsletter, Novembro / Dezembro de 2012, A Matemática, o Universo e tudo o Resto, Jorge Buescu.


Como falsificar euros
«Com a festa da entrada em circulação da moeda única a 1 de Janeiro de 2002, o Banco Central Europeu (BCE) herdou um verdadeiro pesadelo: o que fazer para evitar, com a introdução de notas desconhecidas num mercado com mais de 300 milhões de utilizadores, a inevitável tentação criminosa da falsificação de notas? Parte da resposta é conhecida: as notas emitidas pelo BCE possuem vários sistemas tecnológicos de segurança, concebidos para dificultar a reprodução: a banda holográfica; a marca de água; a banda identificadora... Aparentemente, serão 11 os mecanismos de segurança, dos quais o BCE só terá divulgado sete.
Um dos mecanismos de segurança, obviamente não divulgado, é o da formação do número de série das notas. Trata-se de um mecanismo estritamente matemático, que não envolve qualquer tipo de alta tecnologia gráfica, mas que pode ser uma defesa poderosíssima contra a fraude. A ideia é óbvia, e utilizada em todo o mundo: implementar nos números de série das notas emitidas um algoritmo de validação dos números, por forma a que um eventual falsário, que se limite a inventar um número de série arbitrário e o imprima na nota, corra o sério risco de imprimir um número de série inválido, e a falsificação seja detectada.
Por exemplo, eu tenho neste momento à minha frente a nota de 20 euros com o número de série M30521117941. Veremos a seguir que, se tivesse a má ideia de produzir uma nota falsa com o número M30521117948, esse número seria ilegal e a falsificação imediatamente detectada.

jdact
 
[…]
Desde os anos 50, criaram-se sistemas de detecção de erros sempre que se lida com números com muitos algarismos. A ideia é sempre a mesma: a de incorporar no próprio número um ou mais algarismos suplementares, ditos algarismos de verificação, ou por vezes dígitos de controlo, que permitam detectar se o número em questão é, válido ou se, pelo contrário, foi algures cometido pelo menos um erro de escrita, leitura ou transmissão.
Hoje em dia a utilização destes sistemas está perfeitamente generalizada. Por exemplo, os números de bilhete de avião consistem num número de 15 algarismos dos quais o último é um algarismo de verificação. Os números de cheque, em Portugal, têm dois algarismos de verificação. Os códigos de barras possuem um algarismo de verificação. O ISBN, International Standard Book Number, que aparece na contracapa de cada livro e o identifica é um número de 10 algarismos, dos quais o último é de verificação.
Todos estes sistemas de identificação têm o mesmo objectivo, detectar o maior número possível de erros na transmissão de um número com muitos algarismos.
Cerca de 80% dos erros são os chamados erros singulares, um erro isolado num único algarismo. Mais de l0% são os chamados erros de transposição, em que se troca a ordem de um par de algarismos. Todos os sistemas de detecção de erros acima descritos (bilhetes de avião, códigos de barras, ISBN, cheques, cartões de crédito, etc.) são pequenas variações sobre um único tema:
  • ‘o algarismo de verificação é calculado através de aritmética modular’.
In Jorge Buescu, Da Falsificação de Euros aos Pequenos Mundos, Novas Crónicas das Fronteiras da Ciência, Gradiva, Publicações, Lisboa, 2005, ISBN 972-662-898-9.

continua
Cortesia de Gradiva/JDACT