quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Combate de Flor da Rosa. Conflito Luso-Espanhol de 1801. António Ventura. «… algum exagero no que se refere à artilharia capturada, a coluna possuía 4 canhões, tantos quantos foram apreendidos, e não 6, como refere o diário da Divisão de Vanguarda. A posição de ‘Carcome Lobo’ não sofreu beliscadura, mesmo após este novo desaire»

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Um balanço incerto
«Quanto ao balanço do combate, não existe unanimidade. Nenhuma das fontes espanholas esclarece o número de baixas portuguesas. Godoy refere, na Gazeta de Madrid, que os espanhóis capturaram 340 portugueses, quedando el resto entre heridos y muertos, excepto los pocos que podrian librarse en la fuga, e que foram apreendidos 50 carros, 4 canhões com as respectivas munições e 400 espingardas. O mesmo autor, nas suas Memórias, nada acrescenta. Nos diários de operações das divisões espanholas os números são ligeiramente diferentes: 300 prisioneiros portugueses, muitas mortes e 4 canhões capturados, no caso do diário da 2ª Divisão, 360 prisioneiros, no caso do diário da Divisão de Vanguarda, que alude ainda ao facto de terem sido capturados 4 de los 6 cañones que tenian. Sobre as baixas espanholas, nem uma palavra...
Carcome Lobo, por seu turno, contabiliza as perdas portuguesas em 14 mortos, 22 feridos e 310 prisioneiros, com 240 mortes causadas às forças inimigas. Não podemos, infelizmente, comprovar estes números, uma vez que o livro de óbitos da paróquia de Aldeia da Mata, respeitante àquele ano, não se encontra no Arquivo Distrital de Portalegre. Também não localizámos a declaração do pároco que teria enterrado os cadáveres, referida no relatório de Carcome Lobo. No livro de registo de óbitos da Matriz, Crato, existente naquele Arquivo, encontrámos algumas referências a mortos em resultado de ferimentos recebidos em combate:
  • Bernardo José Picão, granadeiro do 2º Regimento de Olivença, ferido e prisioneiro no combate de Flor da Rosa, faleceu com todos os sacramentos em o Hospital desta Vila;
  • João Marques Durão, de 40 anos, pouco mais ou menos, casado com Silvéria Joana, moradores em Vale do Peso. Foi ferido em o combate de Flor da Rosa com os Espanhóis;
  • Outro soldado faleceu a 23 de Junho no Hospital de Crato. Foi ferido no Combate de Flor da Rosa. Era do Bispado do Algarve, do Regimento de Faro, mas não houve quem soubesse o seu nome.
A última referência que surge no livro, a 30 de Julho de 1801, é a de um militar espanhol. Pela descrição, foi certamente assassinado por populares:
  • Francisco Villa, soldado espanhol da quarta Companhia do primeiro Batalhão de Voluntários da Infantaria Ligeira da Catalunha, casado com Magdalena Villa, do mesmo Reino, aparecendo morto no pinhal de Flor da Rosa, a tiro de bala, e quartos, e com três feridas de faca no peito e coração.
Detectámos, isso sim, algum exagero no que se refere à artilharia capturada, a coluna possuía 4 canhões, tantos quantos foram apreendidos, e não 6, como refere o diário da Divisão de Vanguarda. O certo é que a posição de Carcome Lobo não sofreu beliscadura, mesmo após este novo desaire. A 18 de Junho de 1801 foi libertado, juntamente com outros militares portugueses, sob palavra de honra em como não voltariam a empunhar armas contra a Espanha nessa guerra.
O Príncipe Regente ordenou a realização de um inquérito, Aviso de 11 de Agosto, no seguimento de uma petição do polémico coronel em que, não só justificava todo o seu comportamento durante a guerra, como pretendia ser recompensado por bons serviços prestados em campanha, e que abrangeu as duas acções em que esteve envolvido, Arronches e Flor da Rosa. O parecer do general Forbes Skellater, datado de 15 de Agosto, embora relativamente moderado, não deixava de ser crítico:
  • ‘Na acção de Arronches, pela mesma relação que o dito coronel dá deste sucesso, e pela que remeto inclusa do brigadeiro Bernardim Freire, comandante do Corpo de Granadeiros, destinado a protegê-lo, se vê que a obstinação com que ele, coronel, persistiu em se conservar em Arronches, apesar dos avisos que teve, e da sua mesma determinação, que me tinha participado na véspera, fez com que ele fosse quase surpreendido e obrigado a fazer precipitadamente a sua retirada, sendo a Infantaria atropelada pela Cavalaria, e salvando-se o resto da Tropa assim desordenada pela protecção que lhe prestou o Corpo de Granadeiros que os inimigos não ousaram atacar’.
In António Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.

Cortesia de Colibri/JDACT