«Na realidade, todas as fontes antigas aceitam o carácter lusitano de
Viriato. Mas nem todos admitiam que Viriato fosse de origem lusitana. Alguns
historiadores tentaram provar que era originário de outras regiões e inspirados
por ideais nacionalistas, reivindicavam para a sua pátria a figura do herói. Assim,
em 1900, o historiador Arenas López
sustentava que Viriato não era
português, mas celtibero e, recentemente, em 1988, García Moreno, tendo analisado todos os topónimos mencionados nas
fontes clássicas, defende que Viriato era de origem bética na obra Infância,
juventude e primeiras aventuras de Viriato, caudilho lusitano. Afirma
que todos os dados analisados
‘Situam indubitavelmente o foco
do poder de Viriato no sopé das serras localizadas na junção da Submeseta
Meridional com a Depressão Bética e que tornam muito plausível a hipótese de ser
essa a região onde nasceu o famoso caudilho lusitano’.
Este autor indica a cidade de Arsa,
na Baeturia
céltica, como o principal centro de poder de Viriato, pelo menos na época do seu apogeu e que, consequentemente,
se esta cidade não fora o lugar de nascimento de Viriato, fora, sem dúvida, a sua
segunda pátria.
Para García Moreno, Schulten
teria inventado que a pátria de Viriato era a Serra da Estrela, já que o Mons
Herminius, no caso de se localizar nessa serra portuguesa, não é
mencionado uma única vez nas fontes antigas que se referem aos feitos de Viriato. Para este autor, só os preconceitos
e uma análise insuficiente dos textos antigos poderão ter levado Schulten e os seus seguidores, principalmente
hispânicos, a considerar que Viriato
teria nascido na selvagem e agreste Serra da Estrela.
Mas, apesar disto, tudo indica que Viriato
era originário da Lusitânia, algures na Serra da Estrela, entre o Tejo e o Douro,
como se conclui a partir da análise dos textos antigos que se referem às várias
campanhas de Viriato, todas elas
ocorrendo, de preferência, em território lusitano. Por outro lado, não é assim tão
importante saber com exactidão o sítio onde nasceu. Também ignoramos em que ano
nasceu Viriato, mas podemos fazer
algumas suposições. Se aceitarmos que tinha vinte anos quando aparece pela
primeira vez na História e que se determinou que tal sucedeu em 150 a.C., então
deverá ter nascido por volta de 170 a.C., embora seja provável que tenhamos de
recuar até datas anteriores, até a 190 a. C. no máximo, visto que as fontes
referem que tivera uma vida repleta de peripécias que certamente não caberiam
em apenas vinte anos de vida.
Mas apesar de desconhecermos a data e o local exactos do seu
nascimento, sabemos que era de origem humilde como é reiteradamente afirmado
nas fontes antigas. No entanto, também não podemos estar absolutamente certos
deste facto, visto que pode tratar-se de uma figura de retórica muito
disseminada, que pretenderia enfatizar a ascensão de um homem desde o anonimato
até a uma posição de chefia, apenas por mérito pessoal. Tratar-se-ia então da
imagem de Viriato adaptada ao ideal
do herói da filosofia cínica do homem natural, cujo carácter teria sido
moldado, na primeira infância e juventude, pelas exigências do meio ambiente em
que crescera, obedecendo, portanto, às regras da conhecida Antropologia e Etnografia de
Posidónio.
O texto deixado por Posidónio e recolhido por Diodoro Sículo é o
seguinte:
- “O lusitano Viriato, de humilde linhagem, segundo alguns, mas famosíssimo pelas suas façanhas, já que de pastor se tornou bandoleiro e depois general, era naturalmente e pelos exercícios que fazia, extremamente rápido na perseguição e na fuga e exímio na luta a pé. A comida simples e uma bebida sem refinamentos eram o que tomava com maior prazer: passou a maior parte da sua vida ao ar livre, e sempre se satisfez com os leitos que a natureza lhe ofereceu. Por isso era superior a todo o tipo de cansaços e inclemências, nunca sofreu com a fome, não se lamentava perante nenhuma contrariedade, sabendo tirar partido de todas as circunstâncias desfavoráveis. Dotado tanto pela natureza como pela sua preocupação em manter essas qualidades físicas, destacava-se ainda mais pelas suas qualidades de espírito. Era rápido a compreender e a executar o necessário, vendo ao mesmo tempo o que tinha de ser feito e a oportunidade óptima para o realizar, e era também capaz de fingir que conhecia o mais obscuro e que desconhecia o mais evidente. Mantinha-se sempre igual a si próprio tanto no comando como na obediência, nem modesto nem altivo: e pela humildade da sua origem e prestígio do seu poder conseguiu não ser inferior nem superior a ninguém. Em suma, não empreendia a guerra nem por ganância, nem por amor ao poder, nem movido pela cólera, mas fazia-a por ela mesma, e é sobretudo por isto que foi temido como guerreiro ardente e conhecedor da arte bélica”».
In
Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha por La Liberdad, Viriato, A Luta pela
Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000, Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN
972-8605-23-4.
Cortesia de Ésquilo/JDACT