quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Atlântida. As Novas Provas. Martin Ebon. «Olhamos directo para sua cratera, rei Jorge I. Fumos de enxofre, escapando aleatoriamente, relembram-nos que aqui temos um vislumbre da Terra em sua essência mais inquieta»


Cortesia de wikipedia

No topo do vulcão
«Sob este mar jaz o segredo da legendária ilha-continente da Atlântida. Escrevo estas palavras nas bordas do vulcão que forma a ilha de Santorini, cercada pelas águas do Mar Egeu, no Mediterrâneo oriental. Olhando por sobre as rochas que separam a estrada superior dos íngremes rochedos vulcânicos, vejo lá em baixo a baía, que é, de facto, por sua vez, um vulcão cheio de água, profundo e obscuro. E no meio desta baía de Santorini, guardada agora pela neblina da manhãzinha, duas ameaçadoras ilhas vulcânicas que, com o passar do tempo geológico, se ergueram apenas bem recentemente do mar. Fumaça sulfurosa ainda emana delas, pois não são pacíficas; são um elo directo entre a vasta força dilaceradora dentro da terra, e todos nós, que vivemos precariamente na casca deste planeta.
Tememos os vulcões, e estamos certos. Nossa memória curta pode nos isolar dos perigos potenciais que estão abaixo de nossos pés, mas apenas enquanto escolhemos ignorar a candente e borbulhante realidade, logo abaixo. Uma vez passei uma noite nas bordas de um vulcão extinto, o Monte Quintamani, na ilha de Bali. Um hotel para doze pessoas havia sido construído ali. O vulcão havia muito estava apaziguado; as memórias do último desastre, na década de 20, haviam desvanecido, e dormi sem sonhos maus. Mas o Santorini é diferente: o passado turbulento, que abrange pelo menos 3.500 anos de convulsões violentas, está sempre ao nosso lado. A série de erupções em Santorini, também conhecida como Thera, foi tão severa que agora parece certo que causou a destruição de avançada civilização, que o antigo filósofo-poeta grego, Platão, chamou Atlântida.
Exactamente quando e em que sequência temporal esta lendária Atlântida foi destruída, é de pouca importância, se olharmos para a baía aparentemente sem fundo, a caldeira, parcialmente cercada pelas ilhas menores que formam este grupo. É realidade forte, tristonha e sombria, em vivido contraste com as brilhantes e alegres pinturas murais que os arqueólogos encontraram sob a poeira vulcânica que cobre esta ilha. Desde que Platão falou da Atlântida, muita especulação sobre a vida e localização da ilha, ou continente, tem cruzado nosso caminho. Os atlantes seriam capazes dos feitos tecnológicos que rivalizariam ou excederiam os nossos? Somos, ou alguns de nós são antigos residentes reencarnados da Atlântida? Houve aviso suficiente antes da Atlântida ser engolfada, para permitir a seus habitantes escapar e levar suas artes e ciências a outras partes do mundo, do Egipto às Américas? E a Atlântida, como seu nome implica, situava-se no Oceano Atlântico?
Agora, no topo deste vulcão, defrontamo-nos com a realidade, não com a lenda, não com pensamentos imaginosos ou combinações engenhosas de factos dispersos que poderiam sugerir uma ou outra resposta ao enigma da Atlântida. A nova evidência que emergiu, e que promete dar as mais definitivas réplicas às questões sobre a Atlântida, está bem aqui, dentro da caldeira à nossa frente e no sítio arqueológico de Acrotiri, em Santoríni mesmo. Estas bordas rochosas da ilha-vulcão são por si mesmas evidência concreta. Um olhar para elas, e vemos variadas camadas de vermelho, cinza, negro, marrom e preto; explosões mesmo das entranhas da Terra causaram esta palheta de cores. Cinzas, escórias, lavas e, principalmente, pedra-pomes acumularam-se umas sobre as outras. Vimo-las primeiro do barco, ao chegar-se a uma das duas pequenas enseadas, Thera, também conhecida como Fira, e Atínios. Destaca-se claramente um nível diferenciando-se acima do outro, cada um representando um longo período da história vulcânica da ilha.
Ao passo que a caldeira é muito profunda para permitir a ancoragem de embarcações, pequenos aparelhos visitam os elementos concretos e visíveis do violento passado do grupo de ilhas: a Palea Caimeni (Ilha Queimada Velha), e Néa Caimeni (Ilha Queimada Nova), aboletadas dentro da baía. Uma viagem a Néa Caimeni, que apareceu na caldeira no começo do século XVIII, leva-nos à Baía de Petrulion, desta ilha. É uma ladeira inclinada, até ao pico da ilha; não há sombras, e a subida é quente e exaustiva. Sendo árdua, a subida oferece inúmeras razões de parar e olhar a paisagem. Lava e cinza vulcânica são aqui e ali misturadas com pequenas manchas de vegetação que, com a persistente ousadia da natureza, irrompem pelas encostas áridas. Aqui também, há camadas que sugerem o crescimento intermitente da ilhota desde que emergiu do mar, em 1707; ravinas, cortes na superfície, e recortes no chão são uma evidência geológica do crescimento.
Quando atingimos o pico de Néa Caimeni, não há mais dúvida de que é a própria borda do vulcão. Olhamos directo para sua cratera, rei Jorge I. Fumos de enxofre, escapando aleatoriamente, relembram-nos que aqui temos um vislumbre da Terra em sua essência mais inquieta. Para qualquer um, é uma visão assombrosa, que não requer recordação da história destrutiva do Santorini; a sensação de drama violento, passado e futuro, é onipresente. Mas como a existência do vulcão de Santorini une a moderna ciência com a antiga Atlântida?
Mostra concretamente que, em tempos pré-históricos, este vulcão, dentro do Mar Egeu, experimentou uma explosão para a qual não há paralelo, na extensão de sua violência e danos potenciais, muito além de seus horizontes. Há evidências suplementares, a partir de escavações que principiaram em 1967 em Santorini mesmo, na vila de Acrotirí. Estas escavações demonstraram que a ilha era parte activa e culturalmente avançada da civilização minóica, da qual o palácio de Cnossos, em Creta, ao sul, é o exemplo mais amplamente conhecido». In Martin Ebon, Atlântida, As Novas Provas, Editora Pensamento, Brasil, Wikipédia.

Cortesia de EPensamento/JDACT