segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Santo Graal. Maria Madalena. Mulher do Vaso de Alabastro. Margaret Starbird. «Ao seleccionar o material, trabalhei baseada na teoria de que onde há fumaça há fogo. Quando tantas evidências de fontes tão numerosas e diversas podem ser reunidas para comprovar uma única hipótese, há uma boa razão para levá-la a sério»

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Introdução
«O cristianismo institucional, que tem alimentado a civilização ocidental há mais de dois mil anos, pode ter sido construído sobre uma gigantesca falha na sua doutrina: a Negação do feminino. Durante muitos anos convivi com uma vaga sensação de que algo estava radicalmente errado com o meu mundo. Sentia que, por um período longo demais, o feminino na nossa cultura vinha sendo desprezado e desvalorizado. Mas foi somente em 1985 que encontrei provas documentais de uma devastadora fractura na história cristã. Em Abril daquele ano, sabendo do meu grande interesse pelas Escrituras judaico-cristãs e pela origem do cristianismo, uma amiga indicou-me o livro O Santo Graal e a linhagem sagrada. Após essa leitura, fiquei completamente atónita. Minha primeira reacção foi achar que os autores, Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, tinham que estar errados. A sua obra era quase uma blasfémia. Eles sugeriam que Jesus Cristo havia sido casado com a outra Maria citada nos Evangelhos: a que chamavam a Madalena: a mulher que, na arte ocidental, era mostrada carregando um vaso de alabastro, a santa a quem a Igreja chama de prostituta penitente. Não fiquei apenas chocada com essa ideia, mas profundamente abalada. Como a Igreja não teria mencionado esse facto caso fosse verdade? Uma afirmação de tamanha importância não poderia ter sido negligenciada durante os dois mil anos de história dessa instituição! Entretanto, as evidências coleccionadas por esses escritores sugeriam que a verdade havia sido suprimida de maneira implacável pela Inquisição (maldita). Como filha leal da Igreja Católica Romana, logo presumi que os autores de tamanha heresia estavam enganados. Mas a tese central, de que Jesus teria sido casado, não me deu descanso. Ela me assombrava. E se fosse verdade? E se Maria Madalena, a suposta mulher de Jesus, tivesse sido apagada da história, e a Igreja, que se iniciava, tivesse continuado a desenvolver-se sem a delicada presença dessa mulher?
Pensar sobre as implicações de tão terrível perda para a Igreja e para a humanidade era algo insuportável para mim. Aos prantos, orei para entender essa versão herética do Evangelho. Eu sabia que precisava descobrir a verdade. Amparada nos meus conhecimentos académicos em literatura comparada, linguística e estudos medievais e bíblicos, enxuguei as lágrimas e comecei a pesquisar a heresia, presumindo que logo encontraria meios de refutá-la. O livro envolvera muitas áreas do meu interesse pessoal e da minha formação profissional: religião, civilizações medievais, arte, literatura e simbolismo. Havia ensinado estudos bíblicos e educação religiosa durante vários anos, por isso conhecia bem o terreno em que estava pisando. No início, imaginei que desmascarar a heresia seria uma tarefa simples. Fui directamente às pinturas dos artistas citados pelos autores de O Santo Graal e a linhagem sagrada como coniventes com a heresia do Graal. Examinei os símbolos naqueles trabalhos, comparando-os com as marcas-d'água dos albigenses (hereges que se disseminaram no Sul da França entre 1020-1250 d.C.) que eu havia encontrado alguns anos antes numa obscura obra de Harold Bayley, The Lost Language of Symbolism (A linguagem perdida do simbolismo). Fiquei desconcertada ao descobrir que as produções daqueles artistas medievais continham claras referências que reforçavam a heresia do Graal. Incapaz de refutá-la com base nesse facto, prossegui na minha busca. A pesquisa acabou por me levar às profundezas da história europeia, da heráldica, dos rituais da maçonaria, da arte medieval, do simbolismo, da psicologia, da mitologia, da religião e das Escrituras judaicas e cristãs. Em todos os lugares nos quais procurava, encontrava evidências do feminino que haviam sido perdidas ou negadas pela tradição judaico-cristã e das várias tentativas de devolver à Noiva a sua antiga e acalentada condição. Quanto mais eu me envolvia com o material, mais claro ficava que existia algo de real nas teorias propostas no livro que eu lera. E, aos poucos, fui-me rendendo aos dogmas centrais da heresia do Graal, a mesma teoria que eu havia proposto a desacreditar.
Ao seleccionar o material para este livro, trabalhei baseada na teoria de que onde há fumaça há fogo. Quando tantas evidências de fontes tão numerosas e diversas podem ser reunidas para comprovar uma única hipótese, há uma boa razão para levá-la a sério. Portanto, poderia mesmo existir alguma verdade nos rumores que persistiram por dois mil anos e que vieram à tona mais recentemente, para que todos pudessem ver, nos filmes Godspell A esperança, Jesus Cristo superstar e A última tentação de Cristo, os quais mostram o relacionamento de Jesus e Maria Madalena como algo muito significativo e com uma intimidade toda especial. Eu não posso provar que os dogmas da heresia do Graal são verdadeiros, nem que Jesus se casou, nem que Maria Madalena era mãe de seu filho. Não posso sequer provar que Maria Madalena era a mulher do vaso de alabastro que ungiu Jesus em Betânia. Mas posso constatar que esses eram dogmas de uma heresia amplamente aceita na Idade Média e que seus resquícios estão contidos em numerosos trabalhos de arte e literatura. Ela foi veementemente atacada pela hierarquia da Igreja de Roma, mas conseguiu sobreviver, apesar da incansável perseguição que sofreu. A heresia que manteve viva a outra versão da vida de Jesus foi impiedosamente perseguida, julgada e condenada à extinção. Mas a história do Noivo Sagrado/Rei de Israel mostrou-se virulenta demais, até para a Inquisição (maldita). E continuou a frutificar de tempos a tempos, como uma robusta videira que se espalha debaixo da terra e depois vem à superfície. Ela apareceu em situações em que a Inquisição (maldita) e a Igreja não podiam arrancar suas raízes, nos contos do folclore europeu, na sua arte e literatura, sempre escondida, frequentemente codificada em símbolos, mas onipresente. Manteve viva a esperança da linhagem davídica, que muitas vezes era chamada de Videira». In Margaret Starbird, Maria Madalena e o Santo Graal, Mulher do Vaso de Alabastro, Editora Sextante, Wikipédia.

Cortesia Sextante/JDACT