Os oito enteados da Rainha Doce
«(…) Os restantes seis filhos que Sancho I teve de gança (como então se
dizia) foram fruto dos seus amores com D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, que o rei conheceu na
Guarda ou em Coimbra e era sobrinha daquele Martim Moniz que defendeu a porta
de Lisboa. A Ribeirinha, mulher
fidalga, de grande formosura, também foi amante de Sancho quando a rainha sua
mulher vivia. Mas a Ligação prolongou-se após a morte de D. Dulce, em 1198, com suficiente escândalo público
para o papa admoestar o rei contra a
feiticeira que todos os dias consultava e o bispo de Coimbra lhe solicitar
que a expulsasse do paço para que ele o pudesse frequentar... Senhora de Vila
do Conde, que Sancho I, homem ciumento,
lhe deixou em testamento com a condição de ela não casar, a Ribeirinha deu ao Povoador
vários filhos.
O primeiro chamou-se Rodrigo Sanches e foi um dos chefes do
partido senhorial durante o reinado de Sancho II. Fez frente à política de
afirmação e centralização do poder real intentada por seu sobrinho e morreu a
combatê-la, na lide de Gaia, em 1245.
Há-de ter sido um modelo de qualidades e virtudes, a acreditar numa inscrição
cuja memória a Monarquia Lusitana conservou: [...] grande cortesão, insigne
nas armas, semelhante a Rolando, amável para todos, gracioso e de
conversação alegre, folgado de rir e de falar, evitando o incesto (sic), verdadeiro nas promessas, severo
para com os inimigos mas pacífico, humilde, de rara bondade e sem engano[…]
Não casou. Mas teve de Constança Afonso de Cambra um filho
bastardo: Afonso Rodrigues, que os livros de linhagens não referem.
Frade de São Francisco, guardião do
Convento de Lisboa, o bastardo de Rodrigo Sanches fez parte do
desembargo de Dinis I.
O segundo filho da Ribeirinha
chamou-se Gil Sanches, que, diz o conde de Sabugosa, foi o clérigo mais honrado de Espanha e viveu em barregania com D.
Maria Garcia Sousa, de quem não teve filhos. Foi também trovador. Seu pai
deixou-lhe em testamento oito mil morabitinos, dos que estão em Belver. Morreu a 14 de Setembro de 1236. Seguiram-se Nuno Sanches, que
morreu de tenra idade, num dia 16 de
Dezembro, e D. Maior Sanches, que, segundo os livros de linhagens, era
filha de Maria Aires de Fornelos, e que, segundo a Monarquia Lusitana, teria
morrido criança, tal como um seu irmão, Nuno Sanches, de quem nunca mais
se ouviu falar. Finalmente, nasceram D. Constança e D. Teresa Sanches.
D. Teresa foi a segunda mulher de Afonso Teles Meneses,
rico-homem, senhor de Albuquerque, Medelim, Montalegre, Valhadolid e Madrid,
etc., a quem deu quatro filhos: João Afonso, Afonso Teles, Martim
Afonso e Maria Afonso. Foi avó do primeiro conde de Barcelos e trisavó
de D. Leonor Teles, a mulher do rei Fernando I. Morreu em 1230. Quanto a D. Constança Sanches,
nasceu em Coimbra, cerca de 1204.
Foi criada por Justa Dias e, quando perfez 20 anos, professou no Mosteiro
das Donas de São João, em Coimbra. Contemplada com sete mil morabitinos no
testamento de seu pai (1210), adquiriu muitos bens em
Torres Vedras e, sobretudo, na vila e termo de Alenquer. Além disso, herdou de
sua mãe. Foi grande benfeitora de várias ordens religiosas, a quem deixou
chorudos legados ao morrer. O Mosteiro de Grijó ganhou particularmente com a
sua generosidade: num documento datado de Abril de 1263, D. Constança fez-lhe muitas mercês, impondo, no
entanto, algumas condições, entre as quais que ali fosse rezada uma missa de aniversário,
cada ano, pela sua alma; e que uma missa de aniversário fosse rezada também por
alma de seu irmão, Rodrigo Sanches, devendo além disso manter-se uma lâmpada
acesa diante do altar de Santa Maria.
D. Constança Sanches, dona
muito nobre e de muito grande santidade e virtudes, e toda perfeita em
virgindade e em fazer esmola aos pobres, faleceu em 1269. E dela se diz (diz pelo menos António Caetano Sousa)
que mereceu aparecer-lhe São Francisco
e Santo António, certificando-a da sua salvação». In Isabel Lencastre, Bastardos
Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN
978-989-555-845-2.
Cortesia de Oficina do Livro/JDACT