terça-feira, 22 de julho de 2014

Infante Afonso Sanches. Senhor de Portalegre. «Seria, pois, de esperar que o senhor de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão se colocasse também ao lado de Sancho, o que até teria agradado ao rei Dinis, que, embora de forma discreta, apoiava igualmente o infante castelhano»

Cortesia de wikipedia

A Herança d’O Bolonhês
«(…) É provável que por essa altura também o infante tenha contraído matrimónio. Autores como Fernando Félix Lopes, baseados na Crónica de D. Dinis, de Rui de Pina, defendem, pelo contrário, que o enlace teria sido preparado ainda antes de 1279 por Afonso III, quando o infante teria apenas nove anos de idade. Contudo, como sustenta, por exemplo, José Augusto Pizarro, tudo indica que terá ocorrido em altura próxima do casamento do monarca Dinis e Isabel de Aragão, talvez em 1282-1283. A escolha de Afonso, a que muito provavelmente não terá sido alheia a intervenção de sua mãe, D. Beatriz, recaiu sobre D. Violante Manuel, nascida em 1265 e nem mais nem menos que filha do infante Manuel, filho de Fernando III e irmão de Afonso X de Leão e Castela, isto é, uma das mais poderosas figuras do reino vizinho.

Descendência de Fernando III de Leão e Castela e de Afonso III de Portugal

Esta união conferia uma importância geo-estratégica ainda maior aos senhorios de Afonso, convertidos agora num poderoso núcleo de influência política, militar e territorial tanto em Portugal quanto em Castela, em virtude da sua localização em plena região de fronteira. E se em caso de confronto entre os dois reinos esta situação podia vir a ser benéfica para um dos lados, poderia, pelo contrário, tornar-se extremamente perigosa para o outro, o que passava a conferir ao infante e a esses domínios um papel ainda mais destacado no quadro peninsular. E não tardou até que isso se viesse a verificar na prática. É precisamente em 1282, no rescaldo do cerco a Castelo de Vide, que eclode a Guerra Civil em Castela, com o infante Sancho a revoltar-se abertamente contra seu pai, o rei Afonso X. Entre os rebeldes encontravam-se praticamente todas as principais figuras da nobreza castelhana, entre as quais Manuel, sogro do infante português, que pronunciara em Valladolid a sentença de deposição d’O Rei Sábio. Seria, pois, de esperar que o senhor de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão se colocasse também ao lado de Sancho, o que até teria agradado ao rei Dinis, que, embora de forma discreta, apoiava igualmente o infante castelhano. No entanto, quando tudo apontava nesse sentido, Afonso, tal como sua mãe e outras figuras de topo da nobreza portuguesa, nomeadamente João Peres Aboim, Martim Gil de Riba de Vizela, Vasco Martins Pimentel, Soeiro Peres Barbosa, Abril Peres e Vasco Moniz Serra, colocam-se ao lado de Afonso X, a quem é mesmo possível que o infante tenha dado algum apoio militar ou logístico, a partir dos seus senhorios na raia alenteiana.
Mas mesmo que a apoiar facções opostas, nem assim isso parece ter trazido qualquer desavença entre o rei Dinis e Afonso, já que este continua a ser uma figura constante da corte dionisina, acompanhando quase sempre o monarca nas suas deambulações pelo reino. Com efeito, encontramo-los juntos, por exemplo, em Beja, logo no dia 2 de Março de 1282, e em Évora, entre Abril e Maio. É possível, contudo, que se tenha deslocado a Castela em Novembro de 1283 para assistir às exéquias de Manuel, seu sogro, que morrera no dia 8 desse mês, mas em Janeiro de 1284 está já de volta a Coimbra, permanecendo junto do rei, pelo menos, até Julho. Por essa altura, Castela tinha já, desde o início de Abril, um novo rei: Sancho IV.

Amizades perigosas
Contudo, em 1287, pouco depois de receber as tenências de Viseu (1287) e de Trasserra ou Seia, os atritos entre os dois irmãos reacendem-se de forma ainda mais violenta. O problema é desencadeado pelo apoio político-militar prestado por Afonso ao senhor de Albarracin, Álvaro Nuñez Lara, então em conflito aberto com o monarca castelhano. A revolta do Lara surge, em grande medida, como uma reacção à ascensão meteórica de Lope Diaz Haro como principal privado de Sancho IV e que este elevara igualmente às dignidades de conde, de alferes e de mordomo-mor do rei, uma promoção que provocou o descontentamento de inúmeros sectores da nobreza castelhana». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT