«A
acção da diplomacia portuguesa que participa, conjuntamente com a diplomacia
castelhano-aragonesa na feitura do tratado de Tordesilhas insere-se num
contexto mais amplo que deverá estender-se, pelo menos, até ao tratado de paz
celebrado entre Portugal e Castela em 1411.
Quando o monarca João I se encontrava na capital de reino, pelo menos desde o
início do mês de Agosto desse ano, com uma presença ininterrupta que se estende
até ao ano seguinte, celebra-se em Ayton, a 3l de Outubro desse ano, um acordo
que põe termo a vinte e sete anos de hostilidades e compromete ambas as partes
no sentido de se restaurar um clima de estabilidade.
A
embaixada portuguesa encarregada de negociar o acordo de paz era constituída
pelo alferes-mor João Gomes Silva, e pelos licenciados Martim Dossem e Fernão
Gonçalves Beleágua, e ainda Álvaro Gonçalves Maia, escrivão da câmara do rei
João I, a qual colaborou activamente na redacção das cláusulas concordatórias,
tendo cabido a assinatura do mesmo, por parte de Castela, aos tutores do rei
João II, sua mãe D. Catarina e seu tio Fernando de Antequera.
Embora
aos licenciados mencionados coubesse a parte técnica, a chefia da missão diplomática
encontrava-se confiada a João Gomes Silva. De quem se tratava? Era filho de Gonçalo Gomes Silva e de D.
Leonor Gonçalves, filha de Gonçalo Martins Coutinho. Do seu casamento com D.
Margarida Coelho teve numerosa descendência. Era esta constituída por Aires
Gomes Silva, regedor da Casa do Cível, alcaide-mor do castelo de
Montemor-o-Velho e senhor de Vagos; D. Teresa Silva, mulher de Fernão Eanes
Lima, senhor das terras de Valdevez e de Coura e D. Isabel Gomes, mulher de
Pedro Gonçalves Malafaia, vedor da fazenda do rei João I. Teve alguns filhos bastardos:
Diogo Silva, Pedro Silva e Lopo Silva.
Durante
a crise
de 1383 verifica-se que João Gomes Silva está próximo do partido de D.
Beatriz, mulher de João I de Castela, na medida em que se junta em Coimbra ao conde
Gonçalo, irmão da rainha D. Leonor Teles. Contudo, não tardaria muito a seguir
o partido do mestre de Avis, recebendo como recompensa, em 23 de Abril de 1384, o lugar de Vagos, com suas
rendas, direitos e pertenças. Anos mais tarde, por carta de 26 de Fevereiro de 1412, o rei João I tornou perpétua essa
mercê, de juro e herdade. Quando os castelhanos passaram a exercer o cerco
terrestre e naval de Lisboa, em Maio de 1384,
João Gomes Silva foi um dos que veio em auxílio dos sitiados, participando no
socorro dos mesmos com a nau Farinheira. De notar que ao
tomar esta atitude este fidalgo deixou seu pai Gonçalo Gomes Silva em
Montemor-o-Velho e partiu para a cidade do Porto com a finalidade de se
incorporar na esquadra que veio em defesa da capital ameaçada pelos castelhanos.
Logo
apos o levantamento do cerco de Lisboa, o mestre de Avis, por carta de 23 de
Setembro de 1384, recompensou-o, com
transmissão a seus herdeiros, com a doação da renda da comenda de Valhelhas,
situada nas terras da ordem de Alcântara, atribuindo-lhe os direitos que a
coroa possuía na colheita. O mestre de Avis iniciou o cerco ao castelo de
Torres Vedras em 19 de Dezembro de 1384,
tendo durado o assédio dessa praça de armas até meados de Fevereiro do ano
seguinte. Nessa campanha teve parte activa este fidalgo. Ao lado de seu pai
esteve este fidalgo presente nas cortes de Coimbra, celebradas em Abril de 1385, as quais procederam à eleição de
João I como rei de Portugal. Embora não exista qualquer documento que o designe
como copeiro-mor do novo rei, diz-nos Fernão Lopes que o monarca o nomeou para
esse cargo da sua confiança. Subsistem, contudo, algumas dúvidas. Entre os dias
8 e 17 de Maio de 1385 o monarca
procede ao cerco do castelo de Guimarães cujo alcaide Aires Gomes Silva era tio
paterno de João Gomes Silva e tinha voz por D. Beatriz. No âmbito das operações
militares participou este fidalgo, cuja actuação se viu recompensada com a obtenção
duma parte dos bens do seu mencionado tio, o qual entretanto devido à idade e
ao desgosto morreu no reino passados poucos dias». In Humberto Baquero Moreno, O Papel
da Diplomacia Portuguesa no Tratado de Tordesilhas, a Joaquim Veríssimo Serrão
os Amigos, Fraternidade e Abnegação, Academia Portuguesa da História, Lisboa,
1999, ISBN 972-624-126-X.
Cortesia
da APdaHistória/JDACT