Bases
para toda a Interpretação e em especial para a Interpretação da Poesia
«Dos
extremos do cientismo oitocentista passou-se a um descrédito completo da
ciência que atingiu o seu ponto acmástico com a divulgação entre o público
ignaro daquilo que ele supôs ser a teoria da relatividade, mas não passava de
conhecimentos sobre movimentos relativos, o que não era ignorado por qualquer jesuíta
português da escola seiscentista de Coimbra, e com as transmutações de
elementos por via natural (a obtenção laboratorial já pertence a outra fase da
ciência);. Passada a crise aguda sucedeu-lhe uma crise ordenada em que se desenvolveram
elementos inconcebíveis para um mecanicista do século XIX, as incertezas de Heisenberg, coroada pelo
monumento logístico, que não passa dum esqueleto da Escolástica apenas
abandonada em aparência pois o aristotelismo é a verdadeira filosofia da ciência pelo menos no
sentido espúrio dos cientistas de novecentos. Querendo interpretar e dar bases
para a interpretação no sentido científico que mais invariantemente possa
conduzir à clarificação de conceitos ou seja a sua elevação a ideias-motrizes do
leitor, parece-nos que a primeira passada se dará no sentido de definir ciência. Por escrúpulo
de arrumação e divisão pedagógica interessará saber em que ciência se poderá
incluir a interpretação e que ciência será a poesia, no caso de assim a
podermos considerar.
O conceito
cientista da ciência era evidentemente, no íntimo, de natureza pragmática; indicava
que a sua finalidade era prover e a previsão é caracterizadamente um acto
utilitário ou, generalizadamente, económico. Sendo assim, já não há dúvida que
a geral--ciência é a política no plano, que se convenciona chamar vivência, que
tomamos por conjunto dos seres com existência biológica que, no entanto, esclarecemos
ser a existência caracterizada por um ritmo envolvendo uma repetição
assimilável à reversibilidade mais difícil de verificar no Mundo chamado
mineral, possivelmente devido à curta vida do indivíduo humano ou mesmo da pouca
extensão dos seus registos de observações. A política inclui pois todas as
ciências do biológico. Facilmente se compreende que para completarmos o quadro
de todas as ciências, basta apenas considerar a Geologia, que englobará todas
as ciências do arrítmico, ou melhor: do mega-rítmico. Pelo facto mesmo da
política incluir todas as ciências do conjunto rítmico dos viventes, ou seres
de ritmo vital facilmente reconhecível, somos obrigados a incluir a Astrologia
e o seu ramo de técnica auxiliar a Astronomia, resultante da aplicação do conjunto
de métodos erradamente conhecidos por ciência que é a Matemática na Política.
Os
astros forçosamente serão considerados como existências de ritmos facilmente
apercebíveis e, portanto, até certo ponto, viventes por oposição ao conjunto
mega-rítmico do antigamente chamado reino mineral. O sistema picno--rítmico
estudado na Política é constituído por elementos mais ou menos afastados, mas,
certamente reagindo um sobre cada um de todos os outros e deles, sofrendo
reacções. É esta a causa da legitimidade da Astrologia que não é mais do que
uma ecologia generalizada». In José Blanc Portugal, Ensaios,
Anticrítico, Edições Ática, Lisboa, 1960.
Cortesia
de Ática/JDACT