As
Virgens
«Esponsálias
em fogo
perdidas
de verdade
entrelaçadas
loucas
desmedidas
castas
quase
mortas
lutam
em comum
desesperadas
desbaratando
forças.
Dois
corpos virginais
bebidos
de suor
selados
em procuras
discutindo
Amor.
Escutam
respirando
o
eco da verdade
que
a hora lhes chegou
na
noite da cidade
e
o pensamento
vago
tacteante
inulto
calmo.
Num
curto despertar
cede
ao
fogo já apagado
procurando
amor
em
calmo mar».
Muro
Estrangulado
«Dentro
do muro
vazio
estrangulado.
O
meu cansaço espera
farto
de tanto caminhar
reaparece
só.
- Esfera desmedida
que
vejo posso dar
no
vago reencontro
sem
nada te pedir
surto
inacabado.
Recordo
que te dei
o
pensamento
sintomático
mostrar
do
teu surgir
embutido
inverso
encurralado
no
tudo que passava
e
não se via.
Por
de negativo
inspirar
o
nada
que
por ser.
Já
existia
nos
roucos gritos
locomotiva
humana
que
descem por caminhos.
Tronco
nu.
Solta
a
tua virgindade
nascente
fogueada
e
as sombras rectilíneas
que
te cobrem.
Façam
descer
sobre
esta cama
o
meu cansaço espera.
Muro
estrangulado
onde
transpiras
sangue
onde
respiras
lama.
Poemas de Hélio Ferreira, in ‘Virgens’
In
Hélio Costa Ferreira, Poemas As Virgens, Oficinas Gráficas Reunidos, Porto,
1972.
Cortesia
de OGReunidos/JDACT