A ascensão de uma profissão
«(…) Nesse período destacamos o surgimento do Diário de
Notícias (1/1/1865) um jornal barato, acessível que inovou o panorama
jornalístico oitocentista. Justamente nessa fase industrial, os jornais
passaram a dispor do auxílio do telégrafo e, então, surgiram as agências
noticiosas: O progresso das técnicas e o aparecimento de uma imprensa
barata, diversificando o seu conteúdo para deixar mais espaço à relação de
informações, em vez de se dedicar apenas à expressão de opiniões, permitiram,
causa e consequência ao mesmo tempo, a criação das agências. Desta forma, o
sistema de comunicações melhorou, tornou-se mais rápida a circulação de
notícias e ampliou-se o hábito de ler jornais. Assim, o jornal lançado romanticamente pelo indivíduo isolado que nele
fazia quase tudo deixava, passo a passo, de ter condições para competir e
subsistir. As redacções alargaram-se. Será útil relembrar, ainda, as
influências que o jornalismo luso recebeu: O jornalismo português nasceu e
evoluiu sintonizado com o que se fazia na Europa, em particular em França, país
que até ao século XIX ditou «as modas» em Portugal. No entanto, as guerras
napoleónicas (em que Portugal alinhou pelos britânicos) e, posteriormente, as
lutas liberais (…) e o liberalismo permitiram que a imprensa portuguesa se
abrisse ao modelo britânico de jornalismo, assente no princípio da liberdade de
imprensa. Enfim, não há dúvida de que o século XIX foi um período de
expansão da imprensa portuguesa, um legado rico, marcado por um carácter
idealista e doutrinário que serviu para o estabelecimento das coordenadas
ideológicas de toda uma memória colectiva.
A legitimação do
grupo profissional
Passo a passo o jornal torna-se num produto e a informação
transforma-se de opinativa para cada vez mais objectiva. Já em pleno século XX,
em 1938, Andrade Saraiva, ao
falar sobre a missão da imprensa afirma: Em lugar do apostolado, do
idealismo e da doutrina, surgiu a empresa. A caixa substituiu a tribuna. (…) A
personalidade do director apagou-se e subalternizou-se; em vez de um tributo ou
de um apóstolo, tornou-se antes um chefe de escritório sempre atento às
condições e desejos do conselho de administração. Ou seja, o ofício de
jornalista foi aos poucos transformando-se numa profissão e os jornalistas,
enquanto grupo profissional começaram à procura de um espaço autónomo de
legitimação. De facto, apesar de ser considerada (durante muitos anos)
uma actividade socialmente desvalorizada e intelectualmente desprestigiada,
passa a ser socialmente reconhecida e juridicamente legitimada. O jornal
torna-se um bem de consumo. Emblemáticos destas alterações são os novos perfis
profissionais dos jornalistas: o
repórter passa a ser valorizado e surge a figura do correspondente de guerra.
Além da informação geral, aparece a chamada imprensa especializada e nas redacções ocorre a expansão do número
de jornalistas. Emerge a fixação de uma hierarquia profissional e a divisão do
trabalho no seio da redacção por secções, bem como a fixação de um vocabulário
próprio e a definição de competências técnicas associadas à profissão, a
diferenciação de estilos, a criação de embriões do que viria a ser o Sindicato
dos Jornalistas, e a mobilidade dos jornalistas entre os diversos órgãos de
comunicação social. O jornalismo português ao longo do século XX sofreu
diversas mutações estruturais e legislativas e vivenciou um longo contexto de
privação de liberdade que condicionou a autonomização e profissionalização dos
jornalistas. Assistiu-se a massificação do uso da rádio (anos 40-50) que mudou a
forma de fazer jornalismo, assim como a implantação da televisão (1957).
Nesse tempo a antiga máxima a
televisão mostra, a rádio conta e o jornal explica atingiu o seu ápice.
No entanto, uma mudança no nosso panorama mediático veio a alterar a forma de
fazer jornalismo. Os jornais deixaram de explicar e passaram a contar e com um dia de atraso. As
estratégias dos proprietários dos media levaram a que os nossos jornais
perdessem a sua principal característica, o aprofundamento das peças
jornalísticas, para passarem a ter a mesma característica dos outros meios.
Será a morte anunciada do jornalismo
impresso? Fica a questão que não cabe aqui tentar responder». In Adriana Mello Guimarães e Nuno R. Fernandes, O
jornalismo em Evolução, Trabalho apresentado no III Seminário de
I&DT, organizado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação do
Instituto Politécnico de Portalegre, Dezembro, 2012.
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