sexta-feira, 3 de julho de 2015

Álvaro Vaz de Almada. Conde de Avranches. Alfarrobeira. «… no dia 9 de Outubro, por alturas do meio-dia, o arraial português é novamente alvo de um poderoso exército inimigo. Porém, atempadamente avisado do perigo, o infante Henrique…»

jdact e wikipedia

Tânger. A miragem e o desastre
«(…) Neste dia, uma quinta-feira, os muçulmanos conduzem então o seu primeiro ataque em larga escala. Contudo, o infante Henrique opta por não os deixar aproximar demasiado e, inteligentemente, decide defrontá-los em batalha campal numa zona relativamente arredada do acampamento. Segundo as informações veiculadas por Rui Pina, o dispositivo táctico português era composto, como habitualmente, por uma vanguarda e uma rectaguarda. Enquanto a segunda era apenas capitaneada pelo infante Henrique, a primeira encontrava-se dividida em duas unidades, uma, a que o cronista chama ala esquerda, posicionada do lado do mar e comandada por Álvaro Vaz de Almada e Duarte Meneses; a que se acrescentava, no seu flanco direito, uma outra de menor dimensão e liderada pelo marechal e pelo seu filho Gonçalo Coutinho. Segundo o testemunho das fontes narrativas, terão sido os portugueses a tomar a iniciativa, conseguindo, logo nos primeiros momentos da peleja, romper as linhas muçulmanas, cujos efectivos se põem de imediato em fuga perseguidos pelos cristãos, designadamente pelas forças comandadas por Álvaro Vaz, entretanto reforçadas pelas restantes unidades. Porém, entusiasmados pela perspectiva de uma vitória fácil, acabam por levar longe demais a perseguição afastando-se demasiado da zona do arraial. Este distanciamento, que pode mesmo ter sido intencionalmente provocado pelo inimigo, foi explorado de forma inteligente pelas forças da guarnição de Tânger, que lançam uma surtida contra o arraial, então protegido apenas por um reduzido número de homens. Contudo, apesar da surpresa e da manifesta superioridade numérica do inimigo, os defensores do palanque conseguem dar conta do recado e acabam mesmo por obrigar as forças adversárias a retirar para a cidade, permitindo, assim, o retorno seguro dos seus camaradas-de-armas, entretanto regressados da perseguição.
E apesar dos riscos resultantes da presença de um número cada vez maior de contingentes inimigos nos montes em redor da cidade, no dia 5 de Outubro o infante Henrique arrisca um segundo assalto. Porém, tal como o primeiro, também este se salda num fracasso, com os muçulmanos, em particular os inúmeros besteiros granadinos, a conseguirem repelir facilmente todas as ofensivas. Destas, só a que era liderada por Vasco Fernandes Coutinho terá logrado aproximar-se das muralhas e encostar a escada de assalto que, no entanto, foi de imediato incendiada pelos sitiados. Frustrado mais este ataque, no qual, tudo o indica, Álvaro Vaz não terá participado, permanecendo junto das bocas de fogo, os portugueses acabam por regressar ao arraial, surpreendentemente, e para espanto do próprio Rui Pina, apenas com um número reduzido de baixas, que o cronista contabiliza em apenas sete mortos. Entretanto, os cada vez mais numerosos reforços muçulmanos começam a revelar-se uma verdadeira ameaça à segurança das forças portuguesas. De tal forma que, no dia 9 de Outubro, por alturas do meio-dia, o arraial português é novamente alvo de um poderoso exército inimigo. Porém, atempadamente avisado do perigo, o infante Henrique, ao contrário do que fizera no dia 3 de Outubro, ordena a retirada de todos os efectivos que defendiam a praia, para os concentrar numa zona mais próxima do palanque. Esta medida levou a que os portugueses perdessem o contacto directo com a faixa ribeirinha e, consequentemente, com os navios da frota. Mas não era apenas o arraial principal que estava na iminência de sofrer um ataque. Por isso mesmo, o comandante teve o bom-senso de enviar alguns reforços para a zona onde se encontravam as bocas de fogo. Ainda assim, esta medida não foi suficiente para suster a violenta investida inimiga, pelo que sem conseguirem aguentar aquela posição, por si só indefensável porquanto muito afastada do arraial e demasiado próxima da cidade, o marechal e Álvaro Vaz Almada vêem-se forçados a ordenar a retirada. Esta decisão, se bem que salvasse a maioria dos combatentes que aí se encontrava, significava o abandono das bocas de fogo, munições e pólvora, o que trouxe a perda de boa parte da capacidade ofensiva da hoste portuguesa, agora privada da quase totalidade da sua artilharia». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT