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A
Cidade Medieval
«(…) Sobre o espaço em frente aos
Estudos Gerais, alguns autores, sem referir dados concretos afirmam que,
na segunda metade do século XIII, era conhecido por mouraria. Porém Walter Rossa, constata que depois da
conquista definitiva da cidade pelos cristãos, a relação destes com os muçulmanos
era pacífica, sendo pouco provável que houvesse segregação. Além disso, as mourarias
ou as judiarias localizavam-se em locais mais periféricos e menos atractivos.
Por outro lado, Jorge Alarcão desmente o facto, de que também no século XIII,
tenha havido uma mouraria perto da Igreja de S. Cristóvão. Os documentos
não se referem a uma mauraria, de mouros, mas sim a uma moraria,
ou seja um local com amoreiras, pelo que possa ter havido alguma confusão neste
sentido. Assim, mas sem grandes certezas, põe-se a hipótese de o local, que se chamava
Alameda de S. Paulo, aquando da existência do colégio com esse nome,
fosse já um espaço aberto, como era comum existir perto das alcáçovas, como
local de manifestações comerciais, quem sabe com presença de amoreiras.
Resta também, imaginar como seria
o tecido urbano à data. Nos documentos de reconstituição, desenhou-se um
hipotético traçado para a rua que ligava o Castelo ao Palácio Real (futuramente
Rua Larga), tendo em conta que talvez fosse mais estreita e menos
rectilínea. Todavia, a densidade urbana não seria tão grande como na agitada
Baixa da cidade. A Rua seria obviamente cortada por outras, mas é difícil saber
onde, à excepção de um eixo que ligava as igrejas de S. João de Almedina e S.
Pedro, com possíveis origens romanas. Quanto às habitações nas cidades
medievais, elas eram construídas em pedra e cal, madeira, adobe e outros. Era
frequente terem um ou mais andares com sacada, projectando-se sobre a rua. Por
vezes havia nas traseiras das casa pátios e jardins onde se encontravam animais
domésticos como a galinha e o porco. Em Coimbra, na Baixa, subsiste ainda hoje
um exemplo de habitação medieval. Apesar de ser do século XV dá uma ideia de
como poderiam ser as casas desta época. A casa é elevada através da sobreposição
de um sobrado e obedece a princípios básicos de abrigo e armazenamento. Com
pés-direitos reduzidos, no rés-do-chão fica a loja, e a habitação em si, nos
andares superiores. As paredes erguem-se em enxaimel, a cobertura é de telha, e
as aberturas são em número diminuto. Jorge Alarcão e também Luísa
Trindade dão exemplos de como podiam ter sido as casas medievais em Coimbra:
com um ou mais andares, com quintais,
escadas exteriores e pisos parcialmente ou totalmente sobradados, sobre arcos,
esteios ou colunas. Era possível que, nesta altura ainda se pudesse
observar restos do aqueduto romano, sobre o qual se viria a erguer o Aqueduto
de S. Sebastião.
Os
Colégios Universitários
Nesta
época, certamente já designado como Rua Larga, o eixo teria praticamente
estabelecida a estrutura que apresentará até a Alta ser arrasada pelo Estado
Novo. As alterações a nível urbanístico consumadas no reinado de João III, no
século XVI, decorrentes da construção de casas para os escolares e do desígnio
de edificação de um edifício próprio para a Universidade, terão conferido à Alta
de Coimbra um novo traçado urbano, mais regularizado. Contudo, foi através
da sucessiva implantação de Colégios
Universitários, também no século XVII, que a malha urbana se
consubstanciou, e a Rua Larga aumentou a sua área de influência. No âmbito do
povoamento da Alta Universitária, a Rua Larga acabou por desempenhar o
seu papel estruturador natural, sendo cruzada por dois eixos paralelos.
Um formado pelas ruas de S. Pedro e S. João, o outro, composto pelas ruas dos
Lóios e do Borralho, terá sido resultante de dois propósitos de fundo
urbanístico: a implantação segundo uma paralela ao primeiro e o rigoroso enfiamento
a partir do centro da principal fachada da quadratura
das escolas (projecto não concretizado, situado em parte no local onde
se edificou o Colégio de Jesus). Terá sido atribuída a várias ruas,
abertas, ou ajustadas nesta altura, como por exemplo a Rua dos Estudos, a
largura de 30 palmos. Já à Rua Larga concedeu-se 45 palmos,
estando assim justificada e apropriada a sua designação». In Rúben Neves Silva Vilas Boas,
A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à Actualidade, Mestrado em Arquitectura,
Departamento de Arquitectura da FCTUC, Coimbra, 2010.
Cortesia
da UCoimbra/JDACT