Vem a Primavera.
«O jogo dos sexos renova-se
os amantes encontram os seus pares.
Já a mão subtil e conquistadora do amado
faz arrepiar o peito da rapariga.
Ela tenta-o com o olhar furtivo.
A uma nova luz
a paisagem revela-se aos amantes na Primavera.
A grande altura avistam-se os primeiros
bandos de pássaros.
O ar já aqueceu.
Os dias são mais longos e os
prados iluminam-se até tarde.
Desmedida é a exuberância de árvores e ervas
na Primavera.
Perpetuamente fecundo
é o bosque, são os prados, os campos.
E a terra dá à luz o novo
sem cuidado».
A canção da nêspera
«A nêspera estava madura
entrou um coche na aldeia.
Do norte, era manhã pura
com um jovem de mão cheia.
Nós as nêsperas a apanhar
ele sobre a relva deitado
loura a barba, papo ao ar
mirava de todo o lado.
Estávamos no ponto de açúcar
ele generoso a reinar
punha o dedo em muito púcar’
a sorrir, era o polegar.
Quando a compota comemos
partira há muito da aldeia
mas, creiam, nunca esquecemos
aquel’ jovem de mão cheia».
Poemas de Bertolt
Brecht, in ‘Da Sedução’
In Bertolt Brecht, Da Sedução, Poemas Eróticos, Gravuras de Pablo
Picasso, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2004, ISBN 972-53-0018-1.
Cortesia da EBizâncio/JDACT