Alexandre III
«(…) De certa maneira, era uma repetição do que se passara
em 1155; mas a situação não era tão
grave, nem de longe. As bulas de Alexandre III eram menos severas do que as dos
seus predecessores e, sobretudo, a base política a favor do toletano muito mais
insegura: o domínio de Fernando sobre Toledo era discutido e acabou de facto em
1166. Contudo parece que o arcebispo
João Peculiar ainda julgou necessário, apesar da sua avançada idade, empreender
pela sétima vez a viagem até à Cúria. Acompanhavam-no de novo os seus satélites
de Santa Cruz e Refoios de Lima; agora levava ele à Santa Sé, dedicando-lhe como
mosteiro isento, também o convento de Lafões que fundara decénios atrás e que
entretanto tomara a regra cisterciense.
Especial interesse tem a carta de recomendação de Afonso Henriques
a favor de Santa Cruz que o arcebispo desta vez levava. Nela não se contenta o
rei com confessar-se filho obediente do papa, como antes, e zeloso e aguerrido miles
b. Petri, mas explica ao papa que obrigara a Cúria mais do que qualquer
outro príncipe: não só doara a S. Pedro o território herdado, mas conquistara
para o património apostólico outras vastas terras, argumento que não podia
certamente deixar de produzir efeito na Cúria. Assim apareceu João Peculiar
na presença do papa em- Bourges e conseguiu certamente mais uma vez o
que desejava; novo privilégio lhe é concedido a 16 de Agosto de 1163, confirmando-lhe os seus
sufragâneos, especialmente Zamora, e podendo por isso considerar-se como
expressão do restabelecimento de boas relações com a Cúria. E a sua resistência
a Toledo foi prosseguida.
Mesmo agora porém não fora resolvido definitivamente; o primado
como tal não fora posto de lado. É certo quo o arcebispo João de Toledo desde
então nunca mais fizera outra tentativa de sujeitar Braga, tanto quanto os
nossos conhecimentos no-lo permitem julgar; mas morreu em 1170, e ao seu sucessor Cerebruno não o deixou dormir a ambição,
embora o domínio de Castela tivesse mais uma vez sido repelido e assim faltasse
fundamento para imposição de primazia. Segundo a letra, mantinham-se os seus direitos,
e quando o arcebispo Gerebruno se dirigiu à Cúria, não se lhe pôde bem negar
Alexandre III. Mais uma, vez foi por isso dirigida a antiga ordem a João
Peculiar o aos seus sufragâneos, para obedecerem ao arcebispo do Toledo como
primaz. A própria bula porém mostra agora claramente que a Cúria deixou de
levar o caso muito a sério. Com efeito, em vez dos castigos positivos, que as
bulas anteriores impunham: suspensão, desligar os sufragâneos da obediência
devida, ou transferência dum bispado para Toledo, apareciam agora, só frases
frouxas sobre futuras penas. Assim não se conseguia nada de João Peculiar.
Cerebruno de Toledo porém insistia, exigindo novas ordens e bulas papais.
Alexandre III obedeceu aos pedidos, mas limitou-se a encarregar o cardeal
Jacinto, que havia enviado como legado à Península, de se entender directamente
com João Peculiar, para quebrar a sua resistência na questão do primado». In
Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa,
Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra
Editora, 1935.
Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT