segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Poesia. Música. José Saramago. Artur Pizarro. «Não me peçam razões, que não as tenho, ou darei quantas queiram: bem sabemos que razões são palavras, todas nascem da mansa hipocrisia que aprendemos»

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Demissão
«Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
a fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
de morder os mais fracos, se mandamos,
e de lamber as mãos, se dependentes».


Passado, Presente, Futuro
«Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
mil camadas de pó disfarçam, véus,
estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
rã fugida do charco, que saltou,
e no salto que deu, quanto podia,
o ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
um rosto recomposto antes do fim,
um canto de batráquio, mesmo rouco,
uma vida que corra assim-assim».
Poemas de José Saramago, in ‘Os Poemas Possíveis

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