«(…) Estes aglomerados planeados são caracterizados pela existência
de uma rua central rectilínea que liga dois pontos importantes do aglomerado
onde sensivelmente a meio desta se abre um largo, sendo essa rua principal
cortada por travessas e onde frequentemente existem outras duas ruas paralelas
a esta, menos importantes e menos largas. O traçado destas cidades é ortogonal
e os quarteirões são de planimetria rectangular alongada. Estes são definidos
por ruas paralelas, ruas de frente e de traseiras, e perpendiculares. Estes
aglomerados demonstram certos princípios de regularidade e neles se reconhece a
existência de uma intenção planeadora, tendo sempre em conta a necessidade de
defesa e a procura da implantação de uma administração civil e religiosa.
Loteamento e Estrutura de Quarteirões
As aglomerações fundadas
durante a Idade Média em Portugal, no período correspondente aos reinados de
Afonso III e Dinis I, adoptaram padrões geométricos regulares, obedecendo a um
plano preconcebido, e onde as ruas principais são cortadas por travessas
segundo ângulos mais ou menos de 90º, formando blocos rectangulares
constituídos por edifícios e espaços verdes no seu interior (logradouros ou
quintais). Podemos dizer, portanto, que uma das características da morfologia
urbana das cidades criadas no período medieval é a existência de lotes
rectangulares e uma estrutura de quarteirões onde predominam blocos também
rectangulares. Segundo M. Teixeira, as dimensões tanto das ruas como dos
quarteirões e dos lotes variam de cidade para cidade, sendo no entanto,
constantes dentro de cada uma. As
dimensões das ruas principais e de traseiras são constantes, da mesma forma que
são constantes as dimensões e o número de lotes de cada quarteirão e a dimensão
dos lotes individuais (...), (in Teixeira, M. O urbanismo português. Séculos XIII - XVIII. Portugal – Brasil).
Marcadamente medieval é, como foi referido, a presença de espaços verdes no
interior dos quarteirões. Segundo Amélia Andrade, é característica da cidade
medieval portuguesa a existência de quarteirões constituídos por lotes
estreitos onde normalmente se verifica a presença de espaços verdes no seu interior,
através de uma horta, um jardim, ou mais raramente pela presença de árvores de
fruto. Esta característica é semelhante ao que se verifica com as bastides francesas.
Nestes casos, segundo Jorge Gaspar, os espaços verdes da cidade eram
constituídos pelos quintais que todas as casas possuíam nas traseiras.
As Ruas e os Largos
Na maior parte das
cidades, para além de outras, existia uma rua principal, normalmente a mais
importante, que era muitas das vezes designada por Rua Direita. A importância
da sua caracterização, deve-se ao facto de, ao longo do tempo, constituir o
eixo estruturador e gerador da malha urbana. Segundo W. Rossa, a Rua Direita
medieval caracteriza-se da seguinte forma: … do rossio quase sempre saía uma rua comercial que ligava os elementos urbanos
mais importantes da cidade, a matriz, o paço ou o castelo, etc., terminando no
terreiro de um destes ou ligando a outra porta da muralha. Podemos ver que
muitas das cidades portuguesas tiveram a sua génese numa via, esta inicialmente
ligava dois núcleos primitivos do aglomerado, por exemplo, a igreja ao castelo
ou a igreja ao porto (no caso das cidades costeiras). Nas cidades marítimas ou
fluviais, a Rua Direita surge na maioria dos casos em duas situações: ligando o
principal acesso terrestre ao cais, normalmente nesta situação a via é
perpendicular ao cais, ou ligando dois núcleos primitivos, sendo esta via
paralela à margem.
Estes
casos são bem patentes no caso de algumas cidades das ilhas atlânticas. Para
além da Rua Direita como elemento estruturado da morfologia das urbes medievais
temos, segundo Rossa, o largo, como sendo o espaço onde conduziam as principais ruas da cidade, naturalmente
provenientes dos seus principais acessos, e que de facto poderia ter no seu perímetro
uma igreja importante, a casa do concelho, do senhor, do almoxarife ou do
alcaide. Este espaço era normalmente pequeno na sua origem. Muitas vezes
começava por ser um alargamento de uma ou mais ruas confluentes ou um terreiro em
frente a um edifício institucional importante, normalmente uma igreja. Ao longo
do tempo este espaço foi sofrendo alterações ganhando importância para a
definição e desenvolvimento da estrutura urbana dos aglomerados». In
Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional
Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra 1999.
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