sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Estudo Morfológico da Cidade de São Tomé. Teresa Madeira. «… do rossio quase sempre saía uma rua comercial que ligava os elementos urbanos mais importantes da cidade, a matriz, o paço ou o castelo, etc., terminando no terreiro de um destes ou ligando a outra porta da muralha»

São Tomé, 1902
Cortesia de wikipedia

«(…) Estes aglomerados planeados são caracterizados pela existência de uma rua central rectilínea que liga dois pontos importantes do aglomerado onde sensivelmente a meio desta se abre um largo, sendo essa rua principal cortada por travessas e onde frequentemente existem outras duas ruas paralelas a esta, menos importantes e menos largas. O traçado destas cidades é ortogonal e os quarteirões são de planimetria rectangular alongada. Estes são definidos por ruas paralelas, ruas de frente e de traseiras, e perpendiculares. Estes aglomerados demonstram certos princípios de regularidade e neles se reconhece a existência de uma intenção planeadora, tendo sempre em conta a necessidade de defesa e a procura da implantação de uma administração civil e religiosa.

Loteamento e Estrutura de Quarteirões
As aglomerações fundadas durante a Idade Média em Portugal, no período correspondente aos reinados de Afonso III e Dinis I, adoptaram padrões geométricos regulares, obedecendo a um plano preconcebido, e onde as ruas principais são cortadas por travessas segundo ângulos mais ou menos de 90º, formando blocos rectangulares constituídos por edifícios e espaços verdes no seu interior (logradouros ou quintais). Podemos dizer, portanto, que uma das características da morfologia urbana das cidades criadas no período medieval é a existência de lotes rectangulares e uma estrutura de quarteirões onde predominam blocos também rectangulares. Segundo M. Teixeira, as dimensões tanto das ruas como dos quarteirões e dos lotes variam de cidade para cidade, sendo no entanto, constantes dentro de cada uma. As dimensões das ruas principais e de traseiras são constantes, da mesma forma que são constantes as dimensões e o número de lotes de cada quarteirão e a dimensão dos lotes individuais (...), (in Teixeira, M. O urbanismo português. Séculos XIII - XVIII. Portugal – Brasil). Marcadamente medieval é, como foi referido, a presença de espaços verdes no interior dos quarteirões. Segundo Amélia Andrade, é característica da cidade medieval portuguesa a existência de quarteirões constituídos por lotes estreitos onde normalmente se verifica a presença de espaços verdes no seu interior, através de uma horta, um jardim, ou mais raramente pela presença de árvores de fruto. Esta característica é semelhante ao que se verifica com as bastides francesas. Nestes casos, segundo Jorge Gaspar, os espaços verdes da cidade eram constituídos pelos quintais que todas as casas possuíam nas traseiras.

As Ruas e os Largos
Na maior parte das cidades, para além de outras, existia uma rua principal, normalmente a mais importante, que era muitas das vezes designada por Rua Direita. A importância da sua caracterização, deve-se ao facto de, ao longo do tempo, constituir o eixo estruturador e gerador da malha urbana. Segundo W. Rossa, a Rua Direita medieval caracteriza-se da seguinte forma: … do rossio quase sempre saía uma rua comercial que ligava os elementos urbanos mais importantes da cidade, a matriz, o paço ou o castelo, etc., terminando no terreiro de um destes ou ligando a outra porta da muralha. Podemos ver que muitas das cidades portuguesas tiveram a sua génese numa via, esta inicialmente ligava dois núcleos primitivos do aglomerado, por exemplo, a igreja ao castelo ou a igreja ao porto (no caso das cidades costeiras). Nas cidades marítimas ou fluviais, a Rua Direita surge na maioria dos casos em duas situações: ligando o principal acesso terrestre ao cais, normalmente nesta situação a via é perpendicular ao cais, ou ligando dois núcleos primitivos, sendo esta via paralela à margem.
Estes casos são bem patentes no caso de algumas cidades das ilhas atlânticas. Para além da Rua Direita como elemento estruturado da morfologia das urbes medievais temos, segundo Rossa, o largo, como sendo o espaço onde conduziam as principais ruas da cidade, naturalmente provenientes dos seus principais acessos, e que de facto poderia ter no seu perímetro uma igreja importante, a casa do concelho, do senhor, do almoxarife ou do alcaide. Este espaço era normalmente pequeno na sua origem. Muitas vezes começava por ser um alargamento de uma ou mais ruas confluentes ou um terreiro em frente a um edifício institucional importante, normalmente uma igreja. Ao longo do tempo este espaço foi sofrendo alterações ganhando importância para a definição e desenvolvimento da estrutura urbana dos aglomerados». In Teresa Madeira, Urbanismo, Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português, 1415-1822, Coimbra 1999.

Cortesia de Wikipédia/JDACT