Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional
«A dissertação de Mestrado A Raia
Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. O Castelo de Noudar e a
Defesa do Património Nacional, tem o objectivo geral de estudo da área regional
da raia alentejana no Baixo Alentejo, mais concretamente o distrito de Beja e o
concelho de Barrancos. É aqui que o castelo de Noudar se insere, instalado numa
elevação sobranceira ao rio Ardila, a cerca de 12 quilómetros de Barrancos, a
sede de concelho, e numa área territorial situada entre dois cursos de água, o
rio já referido e a ribeira da Murtega, que funcionavam, na Idade Média, como obstáculos
naturais, dois fossos da natureza, que dificultavam o acesso à estrutura
defensiva. A fortaleza de Noudar teve uma ocupação prolongada no tempo, com uma
ocupação humana que vem desde a pré-história até ao século XIX, e que em época
medieval se viu envolvida nas lutas da Cristandade contra o Islão, e posteriormente
nas vicissitudes político-militares entre os reinos de Portugal e Castela. Este
castelo foi mesmo mudando de proprietários várias vezes, durante o século XIII.
Ao longo do século XX, as publicações e estudos sobre Noudar não abundam, pelo
que esta circunstância afectou, sem condicionar, este trabalho. A bibliografia
e artigos existentes sobe o castelo é já bastante antiga, mas que mostra que
houve uma sensibilidade específica para o assunto, sendo a vir publicadas
pequenas referências e mesmo monografias sobre a estrutura defensiva alentejana.
A ausência de publicações sobre Noudar não é estranha, pois a situação periférica
e quase marginal do castelo (também da vila de Barrancos), colocaram a
estrutura numa situação de pouca visibilidade por parte dos investigadores que
se debruçaram sobre as temáticas das estruturas fortificadas. Este castelo
insere-se, na Idade Média, numa fronteira, primeiro com o Islão, depois com o
reino de Castela. Mas que não se enquadra numa linha político-administrativa de
separação total e completa de populações que, vivendo junto à fronteira,
continuam a comunicar e a interagir entre si, havendo mesmo castelhanos a virem
trazer os seus gados a pastar em terras de Noudar, no final do século XV. Existe
uma dinâmica populacional interactiva dentro da raia, no Baixo Alentejo,
populações que estão distantes do poder central, seja por parte de Portugal ou
Castela, e sentem-se distantes de um poder que, durante a primeira dinastia,
prefere percorrer o litoral. Se o poder está distante, as populações são mais
próximas umas das outras, devido à partilha de vivências e problemas comuns. O
poder central português moderno utilizava as populações e suas recordações para
lhe dar legitimidade, é isto que acontece no final do século XV, no reinado de
João II. A questão da demarcação dos limites do reino é uma imposição do poder
central, que recorre às populações para legitimar o domínio desta zona raiana. A
estrutura militar em si é um bom ponto de estudo para perceber a utilização do
castelo e a sua função defensiva, principalmente depois das inovações
construtivas que recebeu após o tratado de Alcanizes. Finda a ocupação
muçulmana no reino de Portugal, a ameaça mais próxima vinha do reino de
Castela, logo os castelos de fronteira foram inseridos numa política reconstrutiva
levada a cabo pelo rei Dinis I. No âmbito patrimonial, o castelo de Noudar
insere-se na categoria de Monumento Nacional, como tal, inserido em disposição
legal de protecção. Como estrutura e património cultural, merece um
desenvolvimento na sua área de instalação, para que, o que é considerado como
um bem cultural que a todos pertence, não só a posse mas também a
responsabilidade de protecção, para que os vindouros possam usufruir de algo
que os antigos deixaram como herança. Noudar chegou-nos como uma escolha, os
anteriores portugueses, a quem coube a responsabilidade de conservação do
castelo, escolheram que esta estrutura deveria permanecer, e não ser destruída
porque já não tinha utilidade prática». In Resumo
«Esta
zona de fronteira é uma área regional que, além do seu envolvimento
político-militar com os reinos de Portugal e Castela durante o período
medieval, tem populações que se distinguem dos restantes habitantes do reino,
pois as suas vivências são diferentes, onde o poder central quer alargar o seu
poder tentacular, mas encontra dificuldades, devido à lenta comunicação e
também ao facto de que, na primeira dinastia, os monarcas preferirem deambular
pela zona litoral. A existência de habitantes castelhanos no século XV em
Barrancos mostra que, apesar da definição de fronteiras do final da centúria de
duzentos, havia uma mobilidade de pessoas e bens pela fronteira alentejana, não
havia impedimentos de maior para a passagem em direcção a Portugal». In
Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa
Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado
em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras,
Departamento de História, 2007.
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