quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Desejos Ocultos. Anne Stuart. «Parece que certo tipo de homem chama muito a sua atenção. Elizabeth voltou-se de repente para ele, e olhou-o surpreendida»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Elizabeth deu-se conta de que aquele homem estava olhando-a com muito interesse, e sentiu que um calafrio lhe percorria as costas ao ouvir a sua voz profunda. O barão Osbert soltou uma gargalhada, e comentou: desta mulher não irá gostar, meu senhor. Não merece nem o seu tempo nem a sua atenção. Todas as mulheres merecem o meu tempo e a minha atenção, disse o príncipe, com ironia. Como se chama minha senhora? Por todos os santos da cristandade! Não queria que aqueles olhos escuros e perturbadores a olhassem, nem que aquele príncipe complacente se fixasse nela. Elizabeth, respondeu o seu pai em seu lugar. Aproxime-se do príncipe, tonta, e saúde-o com uma reverência. Não teve opção a não ser obedecer, mas tomou cuidado de manter a cabeça encurvada; por um lado, assim dissimulava um pouco a sua altura, e pelo outro, o gesto servia-lhe para evitar que os outros pudessem ler a expressão dos seus olhos. Até o mais lerdo dos seus irmãos se teria inquietado se tivesse percebido o que estava pensando. Vai tomar o véu, lady Elizabeth? Está convencida de que esse é o seu destino? Ergueu a cabeça com sobressalto, e encontrou-se totalmente com o seu olhar. Por Deus, tinha os olhos mais sedutores que tinha visto na sua vida, uma mulher poderia afundar-se neles… Se fosse uma néscia susceptível, e ela não era. Ficou olhando-o sem poder reagir e deu-se conta de que naqueles olhos não havia alegria nem maldade, embora lhe parecesse ver alguns fantasmas. Não tem escolha, disse seu pai. É muito alta e tonta para ser útil como esposa. Não sabia que a inteligência era um traço desejável numa mulher, murmurou o príncipe, sem afastar o olhar dela. Seu pai pôs-se a rir, e comentou: isso é verdade, mas quem iria querer aquecer-se com uma ossuda como ela? É muito melhor dispor de uma mulher com carnes e curvas a que possa agarrar-se. Eu tenho gostos menos limitados. Se um homem for o bastante inteligente para observar com atenção, pode encontrar um prazer inimaginável nos lugares mais insuspeitos. Elizabeth decidiu que já tinha tido mais que suficiente, e ergueu o queixo num gesto decidido. Permite que me retire pai? Ainda tenho trabalho pendente, e quero despedir-me dos meus irmãos. Só Deus sabe quando voltaremos a ver-nos, já que não acredito que me irão visitar no convento. Não, a menos que se vejam obrigados, e são muito inteligentes para serem pegos, disse Osbert, sem pensar que o homem que tinha ao seu lado estava pagando o preço por ter sido pego em flagrante. Duvido que possa encontrá-los. São animais jovens e vigorosos, e esta noite é de celebração; sem dúvida estão divertindo-se, e não quererão que a sua irmã mais velha os incomode. Eu lhes direi adeus por si. Estamos celebrando o quê?, murmurou o príncipe William. A honra da sua visita ao nosso lar, e a partida da minha filha, disse Osbert. Tão aborrecida é? Elizabeth não pôde permanecer em silêncio ao ouvir o leve tom jocoso da sua voz. Sempre tinha tido uma queda pelos homens capazes de rir, mas não à sua custa.
Entregar um filho à Igreja sempre é causa de regozijo, disse com secura. Sobretudo, quando não serve para nada mais, enfatizou o seu devoto pai. Não estou tão seguro disso, comentou o príncipe. Elizabeth voltou a sentir um calafrio de inquietação, porque a sua voz era quase pior que o seu intenso olhar. Aquele homem fazia que tivesse vontade de fugir… E de derreter-se. Embora fugir fosse o mais sensato, é obvio. Ocupar-me-ei dos irmãos, e me retirarei… A que irmãos se referem? Aos teus, ou aos monges? Já me disseram que os meus estão ocupados, e não há dúvida de que tem razão como sempre, pai. Devo assegurar-me de que os monges estejam bem servidos. Mantenha-se afastada deles, a voz profunda do príncipe tinha perdido toda a suavidade. O seu tom era o de um membro da realeza que exigia obediência. Elizabeth não se atreveu a contradizê-lo. Fez outra reverência, e disse com recato: como desejar. Lançou um olhar por cima do ombro para o pequeno grupo de monges. Alguns deles já estavam adormecidos no chão, mas o irmão Matthew, o do sorriso doce e olhos azuis, estava observando-a: acho que não é tão adequada para entrar num convento, minha senhora, disse William com voz suave. Parece que certo tipo de homem chama muito a sua atenção. Elizabeth voltou-se de repente para ele, e olhou-o surpreendida. Tinha notado certo matiz de desaprovação na sua voz, como se ele não tivesse gostado que ela observasse o monge. Não conseguiu entender a sua reacção, porque sem dúvida um homem como ele não tinha necessidade de monopolizar a adoração de todas as mulheres. Acompanhe-me ao meu quarto, lady Elizabeth, disse ele de repente. Estou cansado, e duvido que seja capaz de chegar lá sozinho depois de tomar o excelente vinho de seu pai. Ficarei feliz de pôr à sua disposição alguma donzela, meu senhor. Elizabeth deteve-se imediatamente. Sabia que meter-se na cama do príncipe podia ser perigoso, e não tinha intenção alguma de sacrificar outra mulher para salvar a pele». In Anne Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper Collins Ibérica, 2014, ISBN: 978-846-875-034-7.

Cortesia de Harlequin/HarperCollinsIbérica/JDACT