quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Os Pecados de Uma Dama. Bronwyn Scott. «As outras cinco? As outras cinco tutoras. Eu as mencionei, srta. Caulfield. Perdeu a parte do libertino também? Maura ergueu o queixo, determinada»

Cortesia de wikipedia e jdact

Maio de 1835. Londres. Abertura oficial da Estação de Festas
«(…) Maura pausou. As suas realizações não pareceram impressionar a sra. Pendergast. Quando o argumento racional fracassava, havia sempre a súplica. Por favor, senhora, eu não tenho para onde ir. Deve haver alguma coisa que eu possa fazer. Posso ser dama de companhia para uma lady idosa, tutora particular para uma garotinha. Posso ser qualquer coisa. Deve existir uma família em Londres que precise de mim. Não deveria ser tão difícil assim. Londres era uma cidade grande, com muito mais oportunidades do que aquelas oferecidas no interior de Devonshire, nos arredores de Exeter, onde todos conheciam todos, uma situação que Maura vinha tentando arduamente evitar. Não queria ser conhecida, embora estivesse descobrindo que essa escolha vinha acompanhada das suas próprias consequências. Era agora oficialmente uma estranha num lugar estranho, e o seu plano calculado com cuidado achava-se em risco. A súplica funcionou. A sra. Pendergast recostou-se a abriu uma gaveta da mesa. Eu devo ter alguma coisa. Ela mexeu dentro da gaveta e retirou um envelope. Não é exactamente uma situação de família. Nenhuma das garotas aí fora irá aceitar esta posição. Eu já enviei cinco educadoras nas últimas três semanas. Todas abandonaram o emprego. Com aquelas palavras fatídicas, a sra. Pendergast empurrou o arquivo na direcção de Maura. O cavalheiro é solteiro, com duas crianças cuja tutela herdou do irmão. Maura estava ouvindo apenas parcialmente, tamanha era a sua empolgação. A senhora continuou: é uma situação difícil. O novo conde é um completo libertino. Passa as madrugadas fora de casa, entregando-se só Deus sabe, que tipo de prazeres, enquanto as crianças enlouquecem em casa. Então há o problema com o irmão do conde. Ela meneou a cabeça em desaprovação e olhou de maneira significativa para Maura, por sobre os óculos, mais uma vez. A maneira como ele morreu foi muito chocante e repentina. Como eu disse, é uma situação difícil, mas se você quiser, a posição é sua. Se ela quisesse? É claro que aceitaria. Não se achava em condições de ser exigente nesse momento. Maura começava a ver como a sua fuga havia sido precipitada, ainda que tivesse sido necessária.
Está óptimo, obrigada. A senhora não se vai arrepender. Ela teria estendido a sua gratidão, mas a sra. Pendergast ergueu uma das mãos. Eu não me irei arrepender, mas talvez você se arrependa. Ouviu uma palavra do que eu falei, srta. Caulfield? Sim, senhora. Não era exactamente uma mentira. Maura ouvira a maioria das palavras. Ouvira novo conde e duas crianças, e algo sobre a natureza suspeita do conde anterior. A situação não parecia tão ruim quanto a sra. Pendergast estava apresentando. Maura tinha uma posição, isso era tudo o que importava. A vida agora poderia prosseguir conforme o plano. A sra. Pendergast comunicou a sua dúvida com um olhar duro. Muito bem, então eu lhe desejo sorte, mas, de qualquer forma, não quero vê-la de volta aqui. Esta é a única posição que conseguirá sem referências. Sugiro que faça dar certo onde as outras, cinco fracassaram. Maura levantou-se, escondendo a sua surpresa. Era óbvio que perdera uma parte da explicação da sra. Pendergast enquanto fazia a sua celebração mental. As outras cinco? As outras cinco tutoras. Eu as mencionei, srta. Caulfield. Perdeu a parte do libertino também? Maura ergueu o queixo, determinada a não mostrar a sua surpresa. Não tinha ouvido tão bem enquanto pensara. A senhora foi muito clara. Obrigada mais uma vez. A parte do libertino era falta de sorte. Ela poderia estar atirando-se ao fogo, trocando um homem libertino por outro. Mas duvidava que alguém pudesse ser tão dissoluto quanto Wildeham, o homem que o seu tio escolhera para se casar com ela. Além disso, duvidava que fosse encontrar o tal conde de Chatham com frequência. Tipos libertinos não ficavam em casa, quando estavam cercados pelos entretenimentos de Londres. Era difícil ser libertino ficando em casa, afinal de contas.
Uma hora depois, uma carruagem de aluguel deixou-a em frente da residência do conde de Chatham, em Portland Square, e partiu com as últimas moedas de Maura. Na sua estimativa, aquele era um dinheiro bem gasto. Sozinha, ela teria andado horas e nunca achado o lugar». In Bronwyn Scott, Os Pecados de Uma Dama, 2012, Nikki Poppen, Editora HR, Harlequin, 2013, ISBN 978-853-980-924-0.

Cortesia de EHR/Harlequin/JDACT