Maio de 1835. Londres. Abertura oficial
da Estação de Festas
«(…) Maura pausou. As suas
realizações não pareceram impressionar a sra. Pendergast. Quando o argumento
racional fracassava, havia sempre a súplica. Por favor, senhora, eu não tenho
para onde ir. Deve haver alguma coisa que eu possa fazer. Posso ser dama de
companhia para uma lady idosa, tutora particular para uma garotinha. Posso ser
qualquer coisa. Deve existir uma família em Londres que precise de mim. Não
deveria ser tão difícil assim. Londres era uma cidade grande, com muito mais oportunidades
do que aquelas oferecidas no interior de Devonshire, nos arredores de Exeter,
onde todos conheciam todos, uma situação que Maura vinha tentando arduamente
evitar. Não queria ser conhecida, embora estivesse descobrindo que essa escolha
vinha acompanhada das suas próprias consequências. Era agora oficialmente uma estranha
num lugar estranho, e o seu plano calculado com cuidado achava-se em risco. A
súplica funcionou. A sra. Pendergast recostou-se a abriu uma gaveta da mesa. Eu
devo ter alguma coisa. Ela mexeu dentro da gaveta e retirou um envelope. Não é
exactamente uma situação de família. Nenhuma das garotas aí fora irá aceitar esta
posição. Eu já enviei cinco educadoras nas últimas três semanas. Todas abandonaram
o emprego. Com aquelas palavras fatídicas, a sra. Pendergast empurrou o arquivo
na direcção de Maura. O cavalheiro é solteiro, com duas crianças cuja tutela
herdou do irmão. Maura estava ouvindo apenas parcialmente, tamanha era a sua
empolgação. A senhora continuou: é uma situação difícil. O novo conde é um
completo libertino. Passa as madrugadas fora de casa, entregando-se só Deus
sabe, que tipo de prazeres, enquanto as crianças enlouquecem em casa. Então há
o problema com o irmão do conde. Ela meneou a cabeça em desaprovação e olhou de
maneira significativa para Maura, por sobre os óculos, mais uma vez. A maneira
como ele morreu foi muito chocante e repentina. Como eu disse, é uma situação
difícil, mas se você quiser, a posição é sua. Se ela quisesse? É claro que
aceitaria. Não se achava em condições de ser exigente nesse momento. Maura
começava a ver como a sua fuga havia sido precipitada, ainda que tivesse sido
necessária.
Está óptimo, obrigada. A senhora
não se vai arrepender. Ela teria estendido a sua gratidão, mas a sra. Pendergast
ergueu uma das mãos. Eu não me irei arrepender, mas talvez você se arrependa.
Ouviu uma palavra do que eu falei, srta. Caulfield? Sim, senhora. Não era exactamente
uma mentira. Maura ouvira a maioria das palavras. Ouvira novo conde e duas crianças,
e algo sobre a natureza suspeita do conde anterior. A situação não parecia tão
ruim quanto a sra. Pendergast estava apresentando. Maura tinha uma posição,
isso era tudo o que importava. A vida agora poderia prosseguir conforme o plano.
A sra. Pendergast comunicou a sua dúvida com um olhar duro. Muito bem, então eu
lhe desejo sorte, mas, de qualquer forma, não quero vê-la de volta aqui. Esta é
a única posição que conseguirá sem referências. Sugiro que faça dar certo onde
as outras, cinco fracassaram. Maura levantou-se, escondendo a sua surpresa. Era
óbvio que perdera uma parte da explicação da sra. Pendergast enquanto fazia a sua
celebração mental. As outras cinco? As outras cinco tutoras. Eu as mencionei,
srta. Caulfield. Perdeu a parte do libertino também? Maura ergueu o queixo,
determinada a não mostrar a sua surpresa. Não tinha ouvido tão bem enquanto
pensara. A senhora foi muito clara. Obrigada mais uma vez. A parte do libertino
era falta de sorte. Ela poderia estar atirando-se ao fogo, trocando um homem
libertino por outro. Mas duvidava que alguém pudesse ser tão dissoluto quanto
Wildeham, o homem que o seu tio escolhera para se casar com ela. Além disso,
duvidava que fosse encontrar o tal conde de Chatham com frequência. Tipos
libertinos não ficavam em casa, quando estavam cercados pelos entretenimentos de
Londres. Era difícil ser libertino ficando em casa, afinal de contas.
Uma hora depois, uma carruagem de
aluguel deixou-a em frente da residência do conde de Chatham, em Portland
Square, e partiu com as últimas moedas de Maura. Na sua estimativa, aquele era
um dinheiro bem gasto. Sozinha, ela teria andado horas e nunca achado o lugar».
In
Bronwyn Scott, Os Pecados de Uma Dama, 2012, Nikki Poppen, Editora HR, Harlequin, 2013, ISBN 978-853-980-924-0.
Cortesia de EHR/Harlequin/JDACT