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Entre o Tigre e o Eufrates
«(…) À luz da repressão política
e religiosa de finais do século XX, talvez seja estranho recordar que o
berço da civilização se situou no actual Iraque, na zona fértil entre os
rios Tigre e Eufrates, e as cidades de Bagdade, a norte, e Baçorá, no topo do golfo
Pérsico. Os Sumérios viveram à volta do Eufrates austral há mais de 6000 anos;
os Acádios, o nome dado à raça semítica que se instalou na Suméria e na Acádia,
especificamente a Babilónia, há 5000 anos. Estes povos dispunham de
agricultura, de cidades e de uma sociedade sofisticada, com religião e
sacerdócio organizados, e ergueram templos, os zigurates. As mitologias
suméria, babilónica e assíria estão na base da mitologia da tribo de Abraão,
Isaac e Jacob, de onde viria a desenvolver-se a religião judaica e, mais tarde,
o Cristianismo. Já se provou que muitos dos mitos hebraicos remontam a versões
babilónicas e sumérias muito anteriores a eles.
O Islão, que também reconhece os
patriarcas e os profetas judaicos, desenvolveu-se, no início do século VII,
naquela que é agora a costa sudoeste da Arábia Saudita e espalhou-se
rapidamente, chegando aos actuais Iraque e Irão poucos anos depois da morte de
Maomé, havendo uma grande influência persa sobre essa religião nos seus
primeiros dias. Note-se que aqueles que hoje são conhecidos como Acádios se
deslocaram para a Suméria, assimilando gradualmente os Sumérios sem os
desalojar, eles levaram a sua língua, embora tenham adoptado a escrita cuneiforme
suméria. No entanto, continuaram a usar a língua suméria, e não a sua, para os
rituais religiosos, acabando os segredos sacerdotais por passar a ser ditos na
língua dos deuses, ficando ocultos do povo. Não nos cabe esboçar aqui todos os
mitos mesopotâmicos, sumérios, babilónicos/acadianos e assírios, mas muitos são
ainda hoje conhecidos: o mito da Criação e o mito do Dilúvio, a par das suas versões
bíblicas, a descida de Inanna, ou Ishtar, ao submundo, o mito de Gilgamesh,
entre outros.
Um motivo para a desconfiança dos
cristãos evangélicos em relação à Maçonaria, ao Rosacrucianismo e outras formas
esotéricas de crença religiosa prende-se com a insistência por parte dos
evangélicos na verdade literal e no carácter único das histórias bíblicas, e
com a sua aceitação, bem como de outros mitos não bíblicos equivalentes, como
sendo alegóricos e de igual valor, por parte dos movimentos esotéricos mais liberais.
Todos os panteões (para usar o
termo grego) apresentam relações familiares entre deuses, por vezes com
famílias rivais, e regra geral com rivalidades no seio das famílias. Os deuses
discutem, enganam, lutam e matam-se entre si, assemelhando-se aos humanos neste
aspecto. Os mitos das disputas entre deuses, como Dumuzi e Enkimdu na mitologia
suméria, ou entre homens, como Caim e Abel na mitologia hebraica, reflectem,
amiúde, alterações sociais verificadas nos povos, como, por exemplo (nestes dois
casos), a mudança de um estilo de vida nómada e de pastoreio para uma vida fixa
e agrícola. Outros conflitos entre os deuses poderão ser as recordações populares
de batalhas pela supremacia entre diferentes cidades, diferentes culturas,
diferentes povos. Desde há muito que se observou que nos países celtas, quando
um novo povo chegava e controlava os povos originais, regra geral, mais
primitivos e próximos da terra, e com uma relação com os espíritos telúricos que
era invejada e temida pelos recém-chegados, estes acabavam por se tornar as
pessoas pequenas, na memória popular dos invasores.
Zoroastrismo
O Zoroastrismo, seguundo o
sacerdote persa Zoroastro ou Zaratustra, pode gabar-se de ser a primeira
religião monoteísta de grande dimensão, com uma profunda influência sobre as Religiões
do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) que a seguiram. (As crenças
destas religiões num Deus único, céu e inferno, ressurreição dos mortos, julgamento
final e vitória final do bem contra o mal derivam do Zoroastrismo). Viria a
tornar-se a religião oficial do Império Persa, mantendo-se forte até às
invasões muçulmanas do século VII.
Zaratustra,
que terá vivido por volta de 660-583 a. C., ou possivelmente em 1000 ou até
1400 a. C., reformou o complexo politeísmo da Pérsia (atual Irão), pejado de
rituais e sacrifícios, declarando a existência de um Deus único, Ahura Mazda, o
Sábio; todos os outros deuses venerados pelos persas eram meros assistentes
e servos do ser supremo. A pureza de Ahura Mazda era representada pela pureza
do fogo, e os zoroastrianos rezavam junto de uma chama. Recordemos que o Deus judaico
Aquele Que É falou a Moisés a partir de uma sarça ardente (Êxodo), e que muitos
movimentos religiosos esotéricos actuais, incluindo os rosa-cruzes e a Igreja Universal
e Triunfante inspirada por Aquele Que É, representam Deus, e a presença divina
no interior do homem, como sendo uma chama». In David V. Barrett, As Grandes
Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.
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