Com
a devida vénia ao Mestre Hugo Calado
O
Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional
«(…) Estamos a estudar um
castelo, uma estrutura defensiva com um longo período de ocupação humana, que,
durante a Idade Média e igualmente em épocas posteriores, se viu envolvida em
diversas contendas militares e políticas, que resultaram na posse do castelo
por parte de vários proprietários, entre portugueses e castelhanos, nomeadamente
indivíduos que talvez possam ser considerados aventureiros, como é o caso de
Martim Sepúlveda, que, ao serviço de Castela, atacou Noudar e capturou o
castelo, ficando como alcaide. Posteriormente, passou ao lado português,
vendendo o castelo ao nosso monarca Afonso V, que despoletou o conflito
peninsular entre 1475-
1479.
Por aqui se pode notar que esta
região está longe do poder que exerce (ou quer exercer) a sua influência e
autoridade sobre a mesma, ao ponto de deixar manter ocupado um castelo que era
seu nas mãos de um privado, que obtém poder para fazer uma transacção com a
coroa. O contexto geográfico do local permite, numa zona de separação entre dois
estados que tiveram confrontações militares, que o castelo seja envolvido numa
primeira confrontação com exércitos inimigos, tendo a fortaleza sido dotada de
estruturas defensivas no reinado de Dinis I, adaptadas a novos conceitos
estratégicos, como o de defesa activa, que permite uma possibilidade mais
eficaz de resistência a um cerco, como também a possibilidade de contra-ataque.
É, no final do século XIII, uma
fortaleza de fronteira, numa altura em que o muçulmano já não ocupava Portugal,
sendo agora outro o adversário, o reino de Castela a Oriente, por isso a defesa
face a esta ameaça deve ser prevenida com reforços construtivos nos castelos
portugueses espalhados por toda a fronteira portuguesa, a defesa do reino face
a um eventual inimigo externo. Noudar não foi excepção.
É uma estrutura que se encontra a
doze quilómetros da actual sede de concelho, e cujo acesso se faz através de um
caminho em mau estado para a deslocação por automóvel. A visita ao castelo é,
então, problemática, pela situação periférica do mesmo, do concelho onde se
insere, da falta de informação, e também do possivelmente do pouco interesse do
público por visitas a locais deste tipo. Noudar é um local que tem
possibilidades de ser mais rentabilizado do que é, através de diversas
actividades de aproveitamento do local, que podem ser utilizadas para atrair
mais visitantes, o sítio tem uma boa paisagem para se visitar, podendo-se aliar
o conhecimento histórico-cultural da fortaleza com uma apreciação natural do
território envolvente. A dinamização do castelo pode (e deve) ser feita através
de um esforço conjunto de cidadãos e autoridades, pois não se pode atribuir a responsabilidade
de protecção do património apenas a quem tem o poder de decisão, pois o cidadão
comum deve ter sempre uma palavra a dizer sobre algo que lhe pertence também, o
património é de todos nós, e não apenas de alguns. Se os protestos por
privatizações de eventuais bens patrimoniais se fazem sentir, é porque a
consciência de sensibilidade patrimonial está a desenvolver-se no nosso país, o
cidadão toma consciência que determinado objecto ou imóvel tem um passado que
lhe é comum e a todos os integrantes do seu país, e como tal, devem ser
protegidos.
Noudar
tem uma história particular que está envolvida na história geral portuguesa, é
um património imóvel abandonado pelo desenvolvimento territorial português,
pela utilização do local como posto militar avançado de defesa do nosso
território, e também como local de habitação. O local é parte integrante num
conjunto patrimonial que pertence aos portugueses, e como tal deve ser
protegido. O levantamento de questões patrimoniais e culturais foi, nesta dissertação,
um dos principais objectivos. Quisemos dar um contributo para o estudo de uma
fortaleza que não tem sido alvo de mais estudos em diversas áreas científicas.
Pretendemos chamar a atenção para as potencialidades de um maior
desenvolvimento local, através de uma rentabilização e gestão deste castelo. É
necessário e urgente a protecção e conservação do castelo de Noudar, para que
ele possa ser deixado como legado daqueles que anteriormente o utilizaram e o
deixaram continuar a sua caminhada no tempo». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia
Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a
Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local,
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT